sábado, agosto 19, 2006

Vai começar a guerra

O velho Mao Tse-Tung dizia que “a política é guerra sem derramamento de sangue, enquanto que a guerra é a política com derramamento de sangue”. O principal contendor da candidatura de Lulla resolveu enveredar por um caminho que, se mantido, pode subverter a lógica do Mao.
Bem, parodiando Lula, Geraldo Alckmin disse em duas oportunidades (aqui e aqui) que o lema de sua campanha seria “paz, amor e trabalho”. O comitê eleitoral tucano resolveu acrescentar um ingrediente à mistura: pimenta. O resultado vai ao ar no programa televisivo de Alckmin dentro de cerca de duas semanas, afinal:"Guerra é guerra!".
Para tornar a propaganda eletrônica mais picante, a equipe de marketing que assessora Alckmin decidiu preparar peças tratando dos principais escândalos que permearam a gestão Lula: caso Waldomiro Diniz, corrupção nos Correios, mensalão, dólar na cueca e até o caso dos congressistas sanguessugas.
O que se discute agora é como e quando fazer. Os próximos programas de Alckmin continuarão martelando a biografia do candidato e seus planos para o Brasil. Avalia-se que essa é a combinação que pode levar a eleição para o segundo turno. A menção aos escândalos virá como tática subsidiária.
Não há a intenção de transformar o programa de Alckmin num festival de denúncias. Mas concluiu-se que, para se contrapor ao argumento de Lula de que os escândalos são mera decorrência das deficiências do modelo político, convém refrescar a memória do eleitor.
Os casos devem ir ao ar na voz do locutor, não na de Alckmin. O comitê tucano dispõe de uma fornida videoteca das CPIs. As fitas contêm cenas como a confissão de Duda Mendonça de que recebeu dinheiro de má origem de Marcos Valério no exterior (assista aqui e aqui). Mas não há, por ora, intenção de levá-las ao ar.
A invasão de militantes do MLST às dependências do Congresso, outro episódio que servirá de condimento para o programa televisivo de Alckmin, deve ter tratamento diverso. Neste caso, não se exclui a hipótese de exibir as cenas na televisão. A intenção é associar o líder do movimento, Bruno Maranhão, ao PT e ao próprio Lula.
Quanto ao timing, os planos da equipe de marketing não contemplam a exploração dos “pontos fracos” de Lula antes de 15 ou 20 dias. Antes do início da "fase chuchu com pimenta" Até lá, imagina-se no comitê de Alckmin, o presidenciável tucano terá crescido nas pesquisas. De acordo relato feito por integrante da equipe de Alckmin ao blog, parte-se do raciocínio de que, antes de lançar o candidato ao ringue, é preciso fortalecer-lhe a musculatura.
Nesta sexta-feira, Alckmin recebeu de sua equipe os resultados de uma pesquisa telefônica feita pelo Ibope, por encomenda do comitê, em sete capitais. Os números pareceram-lhe alvissareiros. Vêm sendo consultadas diariamente 2.000 pessoas. A média ponderada dos últimos dois dias indicaria um crescimento do presidenciável tucano. Alckmin aparece com 30%; Lula com 44%.
Os percentuais destoam da pesquisa do Ibope divulgada na noite desta sexta pelo Jornal Nacional (texto e vídeo) –21% para Alckmin e 47% para Lula. Embora esta sondagem seja mais confiável –foi feita em todo território nacional e não é telefônica— o time de marketing de Alckmin informou ao candidato que seus números, mais recentes, captariam uma tendência de alta. Algo que só as próximas pesquisas nacionais poderão atestar. O Datafolha fará novo levantamento na semana que vem.
A decisão de “apimentar” o programa televisivo de Alckmin é um indicativo de que os políticos que cercam o candidato começam a exercer maior influência sobre o marketing da campanha. Até aqui, os marqueteiros vinham resistindo à idéia de veicular ataques diretos a Lula. Pretendem fazê-lo à sua maneira, relegando as menções aos escândalos a um segundo plano na programação geral, que manterá a linha “propositiva”. Mas o simples fato de admitirem o uso da pimenta é uma evidência de que a campanha de Alckmin está na bica de transpor o rubicão. Algo que vem sendo reivindicado sobretudo pelos aliados do PFL.

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