segunda-feira, agosto 14, 2006

Texto escrito pelo Dr. Sergio Ferraz, jurista de renome internacional.


UM ADEUS (tardio)

Durante algum tempo — bem pouco, para felicidade minha e de todos — pensei em divulgar, reiterada e regularmente, mensagens de inconformismo com tudo aquilo que a era Lula representa. Desisti. Tantas são as tramóias, a cada novo dia descobertas, que o tema já me parece insosso e gasto. Por isso, se conhecidos e desconhecidos querem reeleger Lula, boa sorte. É claro que jamais poderei entender o que vai na imaginação de algumas pessoas que, aparentemente (mas só...) baixada a maré do tsunami das indecências petistas e lulistas, decidiram reabrir o crédito de confiança no grande timoneiro (grande e estulto, todavia orgulhoso de sua incultura), como se ele tivesse identidade política distinta da do Partido que sempre o patrocinou (notável fenômeno de "blindagem" de alguém para extraí-lo do meio corrupto em que foi gerado e criado). Um dos argumentos para essa "blindagem" é que se trata de um reconhecimento às taxas de redistribuição de renda e riqueza, que estariam sendo atingidas. Sinto, então, tédio e até tristeza, porque vejo nesse raciocínio uma desesperada tentativa, daqueles que tanto confiaram em quem não o merecia, de contornar sua frustração, e salvar sua identidade e sua "cara" . Lula e PT são sábios, sim, na redistribuição de renda via mensalões, sanguessugas e quejandos. Por isso, não só teremos, afirma-o Elio Gaspari, Lula milionário em 2007, como já temos, em 2006, quase todos os parlamentares da base governista comprometidos no mensalão, vergonhosamente absolvidos, com seu patrimônio no mínimo triplicado (ver "O Globo", de 13.07.06). Isso sim é que é distribuir renda! Fora daí, o que temos é o assistencialismo desbragado dos programas de governo, aliás nascidos (já com esse defeito) na gestão FHC. Mas se meus compatriotas, alfabetizados ou não, estão felizes com isso, que votem mesmo em Lula.

Vivemos o mais sórdido e triste período da vida nacional. A tudo isso Lula dedica o silêncio ou, pior ainda, o "de nada sei"! A corrupção e o desfibramento vão de mãos dadas, como quase sempre aconteceu, mas hoje em dimensões abissais e despudoradas. Esse é o exemplo de Lula e seus apaniguados e correligionários, para a juventude brasileira. Daí ter o ex-Presidente Itamar Franco, ao decidir apoiar outra candidatura que não a de Lula, afirmado que fizera uma opção pela ética.

Governos corruptos de regra julgam-se onipotentes e incontestáveis. Por isso, ou partejam ditaduras (não nos esqueçamos da metáfora do ovo da serpente), ou corroem a base moral do Brasil de hoje e das gerações futuras. De uma forma ou de outra, acabam caindo na lama que acumularam, cedo ou tarde (até o monólito imoral que era a URSS não durou o tempo que desejava; muito menos ainda o III Reich).

Não se trata, gerações jovens e desesperançadas, de trocar 6 por meia dúzia (PT/Lula, por qualquer outro partido/candidato). Há momentos em que o 6 está tão podre, que até a mesmice do meia dúzia é melhor, pelo menos por se tratar de algo que pode vir a ser diferente.

Dei o depoimento que 70 anos de vida, experimentados e ainda não comprometidos pela caduquice, de mim exigiam. Façam o uso que bem entenderem de seu voto, pela manutenção ou não dessa imoralidade toda (que em breve será enriquecida pelo reaparecimento dos poucos que foram punidos, aliás, até injustamente parece: por que Dirceu e João Paulo mereceriam tratamentos distintos?). Eu estou "tirando meu time de campo".
SP, 24/07/06


Sergio Ferraz.
Dr. Sérgio Ferraz - (Professor Titular de Direito Administrativo da PUC/RJ e Procurador Aposentado do Estado do Rio de Janeiro/Conselheiro Federal da OAB/Advogado); Presidente do Conselho dos Colégios e Ordens de Advogados do Mercosul

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