quinta-feira, abril 26, 2007

HUMOR: E tem gente que acha quer já viu de tudo!

Clique na imagem para ler melhor a notícia.

O NOVO PLANETA

DECISÃO DA COROA
Em 1535, o rei de Portugal, D. João III condicionou aos então escolhidos para receber as Capitanias Hereditárias, que levassem para o Brasil os presos com pena máxima que se encontravam na Prisão Limoeiro, em Lisboa. Como não havia outra alternativa para os donatários, o negócio era pegar ou largar.
POR LEI
Desta maneira, o Brasil, como a história documentada conta de forma bem clara, transformou-se numa das colônias onde Portugal despejava seus condenados para cumprir degredo. Por lei. Estima-se que, entre 1535 e 1549, quando iniciou o Governo Geral, mais de quinhentos degredados teriam vindo para o Brasil.
MULTIPLICAÇÃO
De lá para cá, o sentimento que temos é que os degredados conseguiram se multiplicar de forma estrondosa, pois boa parte da nossa sociedade parece ser descendente dos perigosos facínoras. Gente, nunca se viu tanta safadeza em todas as classes sociais.
NOVA MORADA
Agora, com a descoberta de um novo planeta, embora ainda na fase da ficção, quem sabe começar a fustigar a idéia de tentar enviar os facínoras do Brasil para viver no novo globo? Já sei que mais adiante não seremos perdoados por enviar tanta escória, mas ao menos podemos ficar livres de gente muito safada.
TURMA
Já estou até imaginando o pessoal do MST, de várias ONGs e outras organizações do gênero sendo enviado ao novo planeta, acompanhado de desembargadores, juízes e políticos em geral e muitos outros. Ainda não sei o tamanho da nova morada, mas creio que será pequeno para tanta gente que precisa ser expulsa daqui.
REDUÇÃO DA EFICIÊNCIA
O anunciado aumento de 20% para 35% das taxas de importação de calçados e têxteis, visando proteger a indústria nacional, é de doer. A princípio até pode parecer uma medida sensata, mas nao é bem assim. Para tentar proteger a indústria o penalizado é o consumidor.
CONCORRÊNCIA
Evitando uma maior concorrência com o produto importado, a eficiência é reduzida. E ao longo do tempo reduz-se também, a produção, o salário real e a riqueza. Tudo isto sem falar que somos ótimos só para aumentar impostos, tarifas e contribuições, quando deveria ser o contrário. Menos impostos e menos contribuições trabalhistas dariam a eficiência que a indústria necessita para concorrer com produtos importados. Que tal?

“O PODER SE MEDE PELA RESISTÊNCIA!" Vale para lá (Argentina), e vale para cá!

Natalio Botana - Hegemonias com pés de barro - La Nacion

1. Experimentamos, todos os dias, o contraponto entre as pretensões hegemônicas do Governo e as reações coletivas geradas por tais intenções. Por outro lado, num nível talvez mais profundo, este duelo insistente entre a hegemonia governamental e a contestação de todas as formas de grupos de veto, confronta o ideal de uma sociedade civil representada pelo regime da democracia republicana, vis a vis a agressiva realidade de uma sociedade que, com freqüência, apresenta perfis de incivilidade. Ideais e realidades: o componente civil a que aspiramos e o componente incivil que nos interpela e desnuda nossas incapacidades.

2. Thomas de Quincey escreveu que o poder se mede pela resistência. Se não há resistências visíveis, o poder hegemônico avança sem dificuldades e atua com efetividade sobre os flancos institucionais mais débeis (Partidos, Parlamento, Justiça, Forças Armadas, burocracias, manejo discricionário dos recursos orçamentários e fiscais). Se, ao contrário, há resistências e se essas resistências estouram nas ruas, se contrai, ou melhor, se escolhe como um tecido molhado. Há, então, duas hegemonias em ação: uma, efetiva, outra, virtual, a que se exerce com prepotência e a que se exerce por cálculo ou temor.

3. Embora a hegemonia atual devesse gerar no país sentimentos de governabilidade, ainda que com o preço de diminuir os conteúdos republicanos de nossa democracia, a contestação social, produz a impressão de um governo débil, encerrado em palácio, que não mostra a cara e que não se propõe a reagir. Hegemonias de pés de barro as temos chamado em outra oportunidade. Naturalmente, estes obstáculos poderiam superar-se, caso os partidos logrem recuperar a autoridade e o prestígio que tiveram quando começou nossa democracia e quando a colocamos em marcha.

4. Esta é a tarefa que se impõe hoje. Com efeito, não temos uma democracia com um sistema de partidos, competitivo e diferenciado, mas um sistema montado em torno de um partido presidencialista que, desde essa posição predominante, aumenta sua popularidade (se são confiáveis as pesquisas de opinião que isso indicam) e dispõe de recursos. A popularidade deriva dos resultados econômicos (agora erodidos pela inflação) e dos recursos do abundante superávit fiscal, do controle dos impostos em detrimento das províncias e do aumento do gasto público.

A REDE!

Esse é o mistério da comunicação pela internet. Uma informação disparada para 10 mil pessoas ou postada para acesso aberto e linkada por 10 mil pessoas, pode ficar por aí. Mas parte destas 10 mil pessoas podem achá-la importante/interessante e repeti-la para sua rede próxima e esta para outros, etc...chegando a centenas de milhares de pessoas. Mas o mistério é que não se pode medir. Medem-se os links diretos. Mas os repasses via rede não. A experiência de quem estimula redes permite especular a respeito, pelos retornos que tem ou pela navegação que faz garimpando. Este mistério motiva como se fosse um jogo.
Da edição especial da "Forbes", sobre "redes", palavra-chave que "já significou cadeia de rádios" e hoje, com a web, "pode se referir ao marketing viral, a uma forma de encontrar um carro ou um marido, a uma campanha política, uma coleção de especialistas que pode solucionar a crise de energia - ou uma célula de terroristas". São dezenas de textos na "Forbes", inclusive artigos de Jimmy Wales, da Wikipedia e que aborda seu projeto de um site de busca com o mesmo conceito de "rede", e Chad Hurley, criador do YouTube. São dois dos maiores projetos de web participativa - ou 2.0, expressão que a revista evita. A "Forbes" cobre as "redes" em inúmeros aspectos, da relação com a democracia às tendências futuras, até meio ambiente. Mas é revista de economia e, a começar do artigo do empresário Rupert Murdoch dizendo "que venham as mudanças", o objetivo é identificar oportunidades de negócio.

O ATROPELO ÀS INSTITUIÇÕES REPUBLICANAS! Vale para lá (Argentina). Vale para cá!

Natalio R. Botana - Convicções e descrença- La Nacion.

1- Há um avanço tático do Governo sobre um duplo flanco: sobre o lado da divisão de poderes e sobre o lado da própria burocracia do Estado que, em teoria, deveria gozar da devida autonomia para cumprir sua função profissional. Os efeitos fulminantes desta blitzkrieg a maneira criolla são possíveis devido ao fato relevante de que os poderes da Constituição tendem a estar sujeitos à hegemonia do Poder Executivo e este, por sua vez, à orientação arbitrária dos governos. Esta inclinação, longe de atenuar-se, se robustece ao ritmo de uma linguagem altiva, com apostas de tudo e de nada, que evita o diálogo e se refugia numa forma de um monólogo mediático.

2- Como em outros Continentes, a história no mundo ibero-americano, a casa de nossa língua, nos mostra que a palavra representa na política um papel ambíguo: pode elevar-se na ação através do grito de guerra, ou conjugar-se no verbo da paz. Mas a decadência dos gestos e da linguagem, o culto à intemperança e o sarcasmo como forma de comunicação, ou o desprezo por tudo quanto não coincida com a intenção do governante, tudo isso, atirado num pacote bem amarrado à cena política, é uma chamada de atenção, que não deve cair como um saco vazio.

3- Por que acontece e se repete esse tipo de atropelo às instituições republicanas, sem que se observem resistências capazes de impedir o dano ou, pelo menos, minorá-lo? A resposta mais óbvia diria que isso resulta do apoio majoritário com que conta o Governo no Congresso e a posição dominante que, no seio do Conselho da Magistratura, lhe outorgou a reforma do ano passado. Sobre essa desconfiança, produto da acumulação das crises e da existência ocorrida à margem da ordem jurídica, o Governo pode lançar seus dardos com mais facilidade, porque a Justiça, a divisão de poderes e a administração do Estado são, para grandes segmentos de nossa sociedade, um objeto distante e opaco: uma maquinaria lenta, ineficiente, que premia aqueles capazes de pagar por sua defesa em juízo, organizada mediante procedimentos judiciais e administrativos tão inadequados quanto vetustos. Em suma, uma Justiça e um Estado invertebrados que, por momentos, em lugar de servir ao público (por isso queremos uma res publica), dão a impressão de reproduzir a lógica de seu próprio poder.

4- Esta anomia, este encolher de ombros diante das normas, frutos ambos de um depósito de arbitrariedades, é uma mola que, habilmente utilizada, aumenta o poder dos governantes e diminui o poder da república. Muitas vezes, a vontade dos novos príncipes se verga sobre o solo débil da desconfiança. Por conseguinte, as instituições são tão decisivas numa democracia, quanto as crenças políticas que as respaldam Sem esta rede de percepções subjetivas favoráveis, as instituições são casca vazia, porque não souberam responder ao a elas atribuído e menos às expectativas populares.

O QUE AGREGA VALOR HOJE É A CRIATIVIDADE!

Uma das respostas da longa entrevista publicada no Estado de São Paulo de Lyn Heward, diretora do Cirque du Soleil. Escreveu o livro A Reinvenção do Espetáculo, onde descreve os processos de criação da companhia

1- A conferência que darei em São Paulo apresenta algumas portas pelas quais qualquer pessoa pode ser mais criativa no dia-a-dia. A Porta 1 é a das expectativas: todos somos fundamentalmente criativos, mas temos de acreditar nisso e praticar a criatividade nas situações cotidianas. A Porta 2 é a dos estímulos: você precisa ver o mundo, experimentar coisas novas e reter o que aprendeu.

2- A porta 3 é a da caça ao tesouro: ao observar e contratar as pessoas com as quais escolhe trabalhar, você precisa ver além dos atributos óbvios e procurar talentos ocultos. Ela leva à porta 4, do ambiente: o estímulo ao trabalho em equipe, à aceitação de riscos cria um clima favorável à produtividade, à criatividade e ao crescimento pessoal. A Porta 5 é a dos desafios. Economia, diferenças culturais e expectativas do consumidor são em geral interpretados como obstáculos à criatividade quando, na verdade, são potenciais fontes de inspiração.

3- A Porta 6 é a aceitação de riscos: deve-se ampliar os limites do "possível". E finalmente a Porta 7, de manutenção. Para manter o frescor de um produto e a equipe motivada, o líder criativo tem um papel importante. Precisa receber e processar as impressões e idéias dos empregados, ouvir e interpretar as reações do consumidor, manter pesquisas em andamento e compartilhar o sucesso e o senso de "aventura" com a equipe.

terça-feira, abril 24, 2007

POR TRÁS... TODOS ATRÁS DO PETRÓLEO!


1. A Nigéria está, uma vez mais, debaixo da ameaça de um golpe de estado militar, ou, talvez pior ainda, de uma guerra civil. Na liça estão governistas, de inclinação moderada e mesmo conservadora, e oposicionistas, de tendência predominantemente esquerdista; cristãos do Sul (parte rebelada, exigindo parte dos rendimentos do petróleo) e muçulmanos do Norte (onde a sharia ainda está em vigor).

2. Permeiam a crise, acirrada pelo debate em torno do processo destas eleições, não apenas divisões étnicas (com três povos principais) e religiosas, mas ainda os efeitos da pobreza extrema num país beneficiado nos últimos anos pelos altos rendimentos da exploração do petróleo e dos problemas ambientais graves (no Delta), para não falar no histórico de violência, ditaduras militares e corrupção.

3. Os dois principais candidatos de oposição são Atiku Abubakar (Vice Presidente, excluído pelo atual Presidente Obasanjo por corrupção) e Muhammad Buhari (General, ex-ditador militar, com base de poder no norte muçulmano e com fortes convicções religiosas). Ambos afirmaram que não aceitarão os resultados da votação de sábado, posto que o partido do governo, o Partido Democrático do Povo (PDP), fraudou as eleições e que pretendem convocar protestos pacíficos e entrar com processos para contestar os resultados da votação.

4. O novo governo deve assumir - se assumir - o poder no dia 29 de maio.

MAPA ELEITORAL DA FRANÇA!

Clique sobre a imagem para vê-la ampliada

Este Blog em análises sobre fatores de contaminação de opinião pública, tem mostrado que cada vez mais estes fatores são espaciais e não sócio-educacionais, como já o foram até pouco mais da metade do século 20. Ou seja: o fator proximidade é o núcleo de propagação. Nas eleições francesas deste final de semana, mais uma vez, isso fica claro. Clique e veja o mapa eleitoral francês: azuis onde Sarkozy vence e rosas onde Royal vence. Sempre espaços contíguos. A tempo: o branco é Paris, onde Sarkozy também venceu.

CINCO PESQUISAS PARA O SEGUNDO TURNO NA FRANÇA!

Libération.
Sarkozy x Segolene

LH2, IFOP e IPSOS - 54 % a 46 %.
CSA - 53,5 % a 46,5 %.
BVA - 52 % a 48 %.

segunda-feira, abril 23, 2007

Um pouco de humor: 3º HOMEM A ANDAR SOBRE A ÁGUA

O 1º foi Cristo...
O 2º foi Pedro (o apóstolo)...
depois foi esse cara aí...................

FRANÇA: QUANDO O GAULLISMO SE DESPEDE.

Embora, pela mecânica do sistema de dois turnos da eleição presidencial francesa, somente em duas semanas se conhecerá quem será o novo Presidente a ocupar as dependências do Palácio do Eliseu nos próximos cinco anos, os resultados provisórios do dia 22 de abril – que conduziram à disputa final a socialista Segoléne Royal e o líder da UMP Nicolas Sarkozy com 25% e 35% dos votos, respectivamente, já trazem um desdobramento transcendental para a vida política francesa: com esses resultados, os franceses parecem sinalizar para a necessidade de superação de uma cultura política tão mítica quanto anacrônica na história recente francesa, com quase 50 anos de enraizamento nas estranhas do país – as bases de tudo aquilo que se designa por cultura gaullista, essencialmente, a combinação de uma estrutura de poder vertical com uma ampla rede de proteção social e uma posição independente do país no plano das nações.
Mudança, ruptura suave, implantação da VI República foram consignas que atravessaram as páginas da maior parte dos programas dos candidatos, expressando sem dúvida um natural desejo de mudança do eleitor francês, menos em razão da avaliação crítica do presidente Chirac e mais, certamente, em função dos efeitos negativos e da necessidade de reforma dos traços anacrônicos das instituições da V República inaugurada pelo General De Gaulle - traços incompatíveis com uma economia globalizada e com um mundo multipolar. Ora, se a retórica dos contendores promete ampla reforma, as restrições estruturais – sociais e políticas – que se sedimentaram ao longo das últimas décadas no tecido social, econômico e político francês certamente levam a qualquer analista de bom senso a descartar mudanças radicais e visualizar, com boa vontade, alterações não mais do que marginais no cerne daquelas instituições.
Ora, se as redes de solidariedade social criadas no pós-guerra na maior parte dos países europeus – base do que se conhece por Estado de Bem Estar Social – sofreram recentemente ampla revisão nos países nórdicos, em especial na Holanda, Suécia e Reino Unido, de maneira a que se fossem enfrentados os desafios de competitividade impostos por uma economia globalizada e por uma estrutura produtiva flexível, sobretudo por meio de medidas de flexibilização dos contratos de trabalho e de redução dos seus custos sociais, na França o sistema de proteção social sedimentado por De Gaulle só se amplificou ao longo da IV República – configurando no país o que o candidato da centro-direita, Nicolas Sarkozy, denomina de república do “assistanato”. O custo do modelo social francês, com efeito, expressa-se em pontos diversos da economia, sobretudo numa taxa de desemprego crônica e elevada (há 25 anos essa taxa sempre esteve acima de 8%) e num ritmo de crescimento medíocre – ao longo dos últimos 15 o percentual médio de crescimento francês tem-se situado na casa de 1,9%, contra uma taxa média de crescimento de 2,8% do PIB entre os países da OCDE. Com o custo social do trabalho mais caro do mundo (30% de encargos patronais), a margem de inversão das empresas diminui e, com isso, a França hoje ocupa o posto nada honroso de trigésimo país em termos de competitividade econômica. Como efeito em cadeia, essas variáveis hoje estão na raiz do déficit comercial inédito no país e, sobretudo numa dívida pública que quintuplicou em um quarto de século, chegando hoje a 65% do PIB. A carga tributária de 44% do PIB é insuficiente para financiar o modelo social francês, cujo déficit implica grave injustiça distributiva geracional.
Ora, se o modelo social francês deve sem qualquer dúvida ser objeto de flexibilização, as instituições políticas inauguradas pela V República reclamam também revisão. Se as contingências da ocupação francesa na Segunda Guerra e o conflito da Argélia demandaram uma presidência forte, um chefe de estado de envergadura, a França moderna parece prescindir de estruturas de poder marcadas por forte verticalidade (a crise das instituições aparece no fato de mais de 70% dos franceses não se considerarem representados por nenhum partido ou líder político). A França de hoje parece exigir mais a figura do ativo chefe de governo do que a do emblemático e muitas vezes inoperante chefe de estado. Um semi-presidencialismo com cores menos carregadas no Presidente -tal qual o Português – estaria mais ao sabor de uma França renovada. Renovação, de resto, que já aparece na reposição geracional que ocorre hoje no cenário político, em que os dois contendores – Sarkozy e Segoléne – se situam na casa dos cinqüenta anos, em um país habituado a presidentes septuagenários.
Certamente, o terceiro pilar da V República a se renovar se refere às linhas da política externa adotadas pelos sucessivos presidentes. É fato que De Gaulle, em onze anos de presidência, marcou sua política externa tanto pela altivez como pela arrogância: recusou-se a chancelar tanto uma visão de Europa supranacional (defendia a Europa federativa, em parceria franco-alemã), como o alinhamento atlântico, com atos emblemáticos como a retirada do país da OTAN e a condenação ao envolvimento norte-americano no Vietnam, para não mencionar o veto à entrada do Reino Unido no Mercado Comum. A arrogância da diplomacia de De Gaulle tinha por base a idéia axiomática: o controle do armamento nuclear permitiria e demandaria ao país seguir uma política externa autônoma. Se o neogaullismo de Chirac evoluiu na direção da defesa de uma Europa supranacional, nem por isso a diplomacia francesa se viu despida de arrogância – a Europa de Chirac se constituía em projeto em que vanguarda política seria francesa e base econômica alemã. Ora, a o périplo em setembro de Sarkozy nos Estados Unidos deve ser vista menos como uma declarada inflexão atlanticista por parte do candidato da centro-direita e mais como uma sinalização da necessidade de uma política externa despida da arrogância da V República – necessidade ainda mais urgente com a derrota do projeto Europeu pelos franceses no referendum de 2005. Sabem os candidatos, sabem Bruxelas e Washington que o papel que a França jogará no plano externo será doravante papel de menor envergadura.
Sarkozy, Segoléne e o fim do gaullismo
Se as reformas nas diretrizes da V República são mais do que necessárias para a adaptação da França ao mundo globalizado, resta saber a margem de manobra do próximo presidente para processar tais reformas. Se se tem em vista as fortes estruturas corporativas insuladas no tecido social francês, as perspectivas de flexibilização são modestas. Diferentemente das estruturas corporativas inglesas, com setores ineficientes claramente passíveis de identificação, no caso francês o mesmo não ocorre – o estado social francês cobre vastos setores com forte poder de vocalização e organização, como os funcionários públicos, os professores, médicos e empresários, ao lado dos 2 milhões de franceses mantidos pelo RMI – o seguro desemprego local.
Se do ponto de vista da correlação de forças na sociedade as reformas de envergadura são pouco prováveis, no que se refere às forças políticas que chegaram ao segundo turno o cenário não é mais brilhante. A despeito da novidade Segolène, o PS francês figura como um dos partidos socialistas mais atrasados da Europa. Não seguiu o caminho reformista da social-democracia européia na direção do centro, certamente em razão de ter convivido coma a ameaça de forças expressivas situadas mais à esquerda ( embora com posições centristas, Segolène se viu obrigada a ostentar posições clássicas da esquerda – como o aumento do SMIC - para atrair o voto útil desses segmentos e se classificar para o segundo turno, evitando o erro de Jospin de 2002).
Já Sarkozy, o dinâmico e ambicioso líder da UMP se viu acantonado à direita pela lógica do primeiro turno (embora como ministro do interior tenha desenvolvido projetos de ação afirmativa, acabou por propor a criação do polêmico ministério da imigração). Hábil e pragmático (retirou de Chirac o controle da UMP), tem por desafio voltar ao centro, assegurar a maioria legislativa em junho, caso eleito, para por em marcha sua agenda de flexibilização – agenda que longe de se parecer como credo reaganista, traz um elenco minimalista de reformas, como diminuição da carga impositiva que recai sobre as empresas e dos custos sociais sobre o trabalho, como contrapartida de criação de empregos de longa duração.
Embora vagos os programas, com margem para adaptação à geometria da competição política, o embate entre Segolène e Sarokozy sugere um ponto de inflexão, em que os dilemas da globalização são identificados pelos eleitores, que procuram soluções dentro do marco institucional.

ENTRE A ANARQUIA E A REPRESSÃO!

Trechos selecionados, da coluna dominical de Mariano Grondona no La Nacion. Vale para lá. Vale para cá!

1. Os romanos tinham três palavras para descrever o equilíbrio de uma república ordenada. A primeira era POTESTAS. Potestas aludia a faculdade de emitir ordens que tinham os magistrados quando atuavam no marco da lei. A segunda palavra era AUCTORITAS, e hoje traduziríamos por autoridade moral, a qual irradiavam os magistrados e os cidadãos de conduta exemplar. A terceira era IMPÉRIO ou o mando militar. O significado original de Imperator foi simplesmente - general -, e por isso quando a República Romana passou a ser Império Romano, a fins do século I - ac -, esta mudança de denominação sinalizou que Roma havia deixado de ser uma autêntica República para converter-se num regime militar.

2. No século I - ac -, a ordem republicana começou a desintegrar-se. Foi neste processo que começaram a difundir-se outras palavras. Uma delas LICENTIA - licença ou libertinagem -, aludia à proliferação dos atos de corrupção impulsionados pelo amor ao dinheiro. Outra palavra, SEDITIO, ou seja sedição, se referia à atuação dos caudilhos que em vez de guerrear contra os inimigos externos, guerreavam entre eles. A palavra ANARCHIA - anarquia -, descrevia o caos das guerras e conflitos civis, que terminaram de vez com a República Romana.

3. Se havia perdido o equilíbrio entre "potestas, auctoritas e imperium", que havia convertido a Repúblicana Romana em exemplo para os que crêem na democracia. Quando se rompe este equilíbrio entre potestade, autoridade e império, as repúblicas oscilam entre o desvio ou o excesso de poder.

sexta-feira, abril 20, 2007

ENQUANTO ISSO... NO PARAGUAI! “AMIGO” MORALES FAZ ESCOLA! SÓ QUE AGORA É QUESTÃO DE GRAVIDADE ESTRATÉGICA!

ABC-Color
São preocupantes as declarações abaixo de Monsenhor Fernando Lugo, que é o candidato com maiores possibilidades de chegar à Presidência da República do Paraguai como indicam as pesquisas de intenção de voto...
"- Si llega al gobierno de la República, planteará la revisión de estos tratados, se le consultó. “Vamos a intentar, vamos a comenzar, a tratar, porque son tratados internacionales que mucho no se puede tocar porque debe haber voluntades y acuerdos de ambas partes, según el mismo tratado, Pero sí estoy convencido de que ambos tratados (Itaipú y Yacyretá) son injustos para el Paraguay, especialmente la distribución de la energía. Vamos a comenzar a tratar de estudiar, digamos, orgánica y jurídicamente, si se pudiera, por lo menos, obtener un precio más justo por la energía que damos a los países vecinos”, respondió."

A DIREITIZAÇÃO DA CAMPANHA NA FRANÇA!

Abaixo, dois trechos do artigo de José Vidal-Beneyto, articulista de El País, - "A direitização do mundo". Inicialmente se apresenta os parágrafos de abertura que conceituam o que ele vai concluir. Em seguida narra o episódio de conflitos entre polícia e jovens na estação norte de Paris, que é apresentado como violência de gangs pela imprensa. Este Blog passa por cima desta descrição e vai direto aos parágrafos finais. Este Blog escolheu esse texto porque a overdose de cobertura da criminalidade e da violência, independente dos depoimentos dos intelectuais de plantão, termina por construir um ambiente distinto do que imagina parte da imprensa que destaca assim seu noticiário.

1. Um dos mais agudos pensadores espanhóis da questão social, o professor Tierno Galván, nos faz ver que a realidade não é algo no qual estamos, mas uma trama natural-social que produzimos como resultado de nossa prática. Esse resultado na sociedade midiática e de massa, é em boa medida, obra dos meios de comunicação. O âmbito eleitoral não escapa a regra. Jornais, rádios e o incessante martelar das televisões, empurrados pelas pesquisas de opinião, constroem uma realidade que não é a reprodução do sucedido, nem a antecipação do que vai a ocorrer, mas a matéria mesma do sucedido. Ou seja, o acontecer eleitoral organizado segundo as pautas dominantes. Entre elas e de maneira inesquivável a direitização do mundo atual.

2. ..................................

3. Não importa que o relato destes fatos corresponda mais ou menos ao acontecido (de fato a pessoa que tentou entrar no trem e desencadeou os conflitos, não foi um adolescente de cor, mas um branco de 35 anos que havia entrado legalmente na França e dispunha de documentação válida; não houve nenhuma menina com os braços cortados, nem mendigo agonizando e a meia noite não havia mais nada, pois as nove tudo havia terminado).

4. O importante é que a realidade midiática que existe por si mesma, havia relançado o tema da segurança publica à posição central da campanha eleitoral, o que gerou mais três pontos para Sarkozy nas pesquisas de intenções de voto. Foi tudo isso o resultado de uma confabulação da imprensa controlada pelos grandes grupos econômicos favoráveis ao candidato da direita? Frente ao simplismo desta hipótese conspiratória, a explicação mais convincente é a convergência entre as determinações estruturais. Neste caso a lógica midiática, com as dominantes ideológicas, e o direitismo com seus temas de predileção: o medo à desordem e a ameaça de insegurança.

quinta-feira, abril 19, 2007

Motoqueiros Selvagens: na estrada com bom humor

Estrelada por John Travolta, comédia “Motoqueiros Selvagens” enaltece a amizade de quatro motociclistas numa viagem até as praias do Pacífico

Se você é um motociclista estradeiro, tem gasolina correndo nas veias e quer dar boas risadas, então não perca “Motoqueiros Selvagens” (Wild Hogs). Com distribuição da Buena Vista, o filme estréia no circuito comercial no Brasil em 20 de abril. Estrelado por John Travolta, o longa-metragem é uma comédia sobre quatro velhos amigos que se reúnem todo final de semana para andar de moto. Num destes encontros, eles decidem realizar o sonho de viajar sem compromisso com suas Harley-Davidson até as praias do Pacífico.
Com certeza muitos mototuristas irão se identificar com o filme, já que a viagem é recheada de aventura, confusão e belas paisagens. Além do mais, é uma busca à essência do motociclista, ou seja, vento batendo no rosto, muitos quilômetros “virgens” pela frente em busca do espírito de liberdade. Ao lado de Travolta estão outros três atores veteranos: Tim Allen, Martin Lawrence e o “impagável” William H. Macy, um analista de sistemas que, no desenrolar da comédia, até arruma uma namorada na pequena e pacata cidade de Madrid.
Travolta é Wood, responsável pela idéia de colocar as motos na estrada. Fanático por motocicletas, Travolta – empresário falido – pilota no filme uma Harley da linha Softail. O dentista Doug (Tim Allen) pilota uma Fat Boy. Já o encanador Bobby (Martin Lawrence) roda com uma HD com suspensão dianteira Springer e o “nerd” Dudley (Willam Macy) pilota uma Sportster 1200.
Também fazem parte do elenco Ray Liotta, Marisa Tomei, Kevin Durand, M.C. Gainey e Jill Hennessy. “Motoqueiros Selvagens” conta com três participações especiais: Peter Fonda (o eterno Easy Rider, ator que também está no recém-lançado “Motoqueiro Fantasma”), Paul Teutul Sr. e Paul Jr., da oficina Orange County Choppers, protagonistas da série American Choppers. A direção é do jovem Walt Becker, mais conhecido por “O Dono da Festa’’. Só para se ter uma idéia da aceitação do filme nos Estados Unidos, “Motoqueiros Selvagens’’ já atingiu a arrecadação de US$ 103,9 milhões nos primeiros finais de semana.
Visite o site oficial do filme (em inglês): Aqui

NOVAS CLIVAGENS/CLIVAGENS ANTIGAS!

Apresento em primeira mão no Brasil o excepcional e inovador trabalho de análise e pesquisa, (TNS Sofres), políticas realizadas para a Fundação Jean Jaurés e para o Nouvel Observateur, (publicado a 29 de março). A referencia é o eleitor francês, mas serve muito à nossa realidade.
Como forma de apresentação uso trechos do artigo de Daniel Cohen, publicado no Le Monde na semana passada.


Os Limites da Clivagem Direita/Esquerda Daniel Cohen

1. O confronto direita-esquerda parece ter perdido a clareza. A esquerda, que vê se enfraquecer o apoio das classes populares, se indaga sobre a sua identidade. A direita, que colhe os frutos disto, hesita quanto à melhor maneira de preservar este capital eleitoral.

2. A primeira mede o que se poderia chamar de liberalismo cultural, enquanto a outra mede o liberalismo econômico. A esquerda é liberal no sentido cultural do termo: ela defende as minorias, aprova atualmente o casamento homossexual, assim como antes apoiou o direito das mulheres ao aborto. A direita está no outro extremo desta escala: ela é conservadora, preocupa-se em preservar as instituições familiares e a moral tradicional.

3.
No terreno econômico ocorre o contrário: a direita é liberal, quer liberar a iniciativa individual e a concorrência; a esquerda é conservadora, pelo menos desde o fim dos gloriosos anos 30, dedicada a resgatar o que pode ser salvo das antigas solidariedades econômicas e sociais.

4. A oposição direita-esquerda é difícil de entender, na medida em que ela não se resume, portanto, a uma oposição simples, liberal contra antiliberal, mas desloca-se numa diagonal que vai do liberal cultural-conservador econômico a conservador cultural-liberal econômico.

5. Entretanto, dois grupos escapam a isto, aparecendo como "heterodoxos". São estes, na verdade, coerentes, no sentido de que são duplamente liberais ou duplamente conservadores. O primeiro grupo é o dos "bubos" (burgueses boêmios) ao mesmo tempo liberais no campo cultural e econômico. Segundo a pesquisa da Sofres, eles representam cerca de 15% dos sufrágios. O segundo grupo, cujos membros são qualificados de "desconfiados" pela TNS Sofres, porque desconfiam da política, é integrado pelos que são conservadores duas vezes, no campo da economia e no terreno cultural. É um grupo que tem um peso de pelo menos 25% dos votantes.

6. Esta constelação pesa na clivagem direita/esquerda. Os "bubos" e os "desconfiados" são de esquerda ou de direita? 40% do corpo eleitoral francês não sabem responder a esta pergunta. O peso da extrema direita e o ímpeto do candidato centrista comprovam este desmembramento. No eixo cultural, a maioria dos franceses está (muito) à direita. No terreno da economia, ocorre exatamente o oposto: 60% das pessoas entrevistadas reúnem valores de esquerda.

7.
Esta confusão decorre, contudo, também de uma outra especificidade: a direita francesa não é na realidade liberal no sentido econômico da palavra, e a esquerda não o é no campo social. Na verdade, sua passagem pelo Ministério da Economia não deixou de Nicolas Sarkozy a imagem de um ministro francamente liberal, e seus últimos posicionamentos referentes ao protecionismo europeu ou à política industrial irritaram bastante os comissários europeus envolvidos na questão.

8. Mas a esquerda francesa não é efetivamente liberal também no terreno social, se se definir este termo como uma expressão da confiança na capacidade do movimento social de se auto-organizar. Diferentemente das outras esquerdas européias, a esquerda francesa não é oriunda do sindicalismo, com o qual ela mantém uma relação complexa. Privada deste vínculo orgânico, a esquerda francesa incensa , assim como a direita, a tendência ao dirigismo dos franceses.

TRECHOS DO ARTIGO "O MEDO DO FUTURO"

DO HISTORIADOR E POLITÓLOGO ARGENTINO - NATÁLIO BOTANA! Argentina é a referência do artigo. Mas,...vale lá,e,..... vale cá!

1. Nesse início do século 21 a opinião pública vive no presente. Se sempre ocorreu assim, agora muito mais. Está se canonizando a atualidade como regra de ouro de nossas ações. Não é nítida a distância que separa a ótica estreita do dia a dia, da visão que vislumbra, com perspectiva ampla, a paisagem que virá. Esta fina linha separa as atitudes do governante de visão curta, da do homem de estado.

2. Essa visão é - desde logo - tributária da política. E quando a política atravessa um momento crítico, por incompetência ou desconhecimento da complexa trama do processo que denominamos globalização, então retrocessos se acumulam e as regressões se expõem revestidas com a máscara da novidade. Estes desajustes ruidosos se propagam hoje pela América Latina.

3. Isto que acontece é semelhante às atitudes fundamentalistas que surgiam durante o Renascimento, frente às revoluções científicas: voltar atrás para impedir o que virá. A esta gente haveria que recordar-lhe o "eppur si muove" de Galileu.

4. Este quadro requer simplificar de algum modo o campo das opções e encontrar a sintonia para despertar no eleitorado o apetite pelo futuro. Então, uma de duas: ou se aperfeiçoa nas oposições uma abertura que tenda a estabelecer coalizões, (hipótese longínqua hoje, dados os vetos recíprocos entre os pré-candidatos), ou bem a dinâmica eleitoral irá simplificando por si mesma estas ofertas, concentrando-as em uma que supere as restantes.

5. Ambas as hipóteses revelam a dificuldade do caminho. Não há que se enganar: uma classe governante para a qual o longo prazo se reduz a uma técnica de reprodução do poder hegemônico, gera uma política de costas para o futuro.

GASTO MILITAR NO CONE SUL !

Brasil: 2,08% do PIB. Argentina: 0,71% do PIB. Chile 4,54% do PIB. Uruguai 1,35% do PIB.
Efetivos: Brasil 294 mil. Argentina 76 mil. Chile 46,5 mil. Uruguai 24,9 mil.
Efetivo por hab: Brasil 0,001564, Argentina 0,001954, Chile 0,002882, Uruguai 0,006917.
Fonte: Atlas Comparativo de la Defensa en America Latina - 2005.
citado por Folha de São Paulo

JORNALISMO POR OMISSÃO OU OCULTAMENTO !

1. Em geral se analisa a ação da imprensa pelo que publica. Mas há uma análise que deve ser feita e que é tão importante quanto a primeira. É a que trata dos fatos relevantes que não se publicam ou que se publicam de forma a ocultá-los num canto de página interna ou num "caco" em rádio ou TV.

2. Isso em geral ocorre quando o meio de comunicação passa a ser porta voz de um tema ou quando escolhe seus porta vozes intelectuais, políticos, econômicos ou sociais preferenciais.

3. Sempre que um fato relevante contraria a sua linha - digamos e no sentido comum do termo - ideológica, esse fato, mesmo que relevante é omitido ou ocultado.

4. Para quem acessa vários meios de comunicação isso é irrelevante. Um cobre o que o outro não cobriu. Mas quando - o que acontece em geral - se acessa apenas um meio de comunicação de um tipo de mídia, a omissão ou o ocultamento, é grave.

5. Desinformar, é certamente informar. Em geral isso se demonstra mais facilmente, lendo os editoriais e depois vendo o noticiário omitir ou ocultar, os fatos que contrariam o editorial. Com isso de desfaz a idéia que o noticiário é de jornalismo aberto e que o editorial opina.

6. Em grande medida - omissão e ocultamento - fazem parte da família de tipos de noticia que tratei um tempo atrás, como pseudo-fato, verossimilhança,....etc...

7. E muito mais discreto. E perigoso. Esse tipo de desinformação tem crescido no ultimo ano. Se você acessa normalmente mais de um meio de comunicação, preste atenção. Quase todo dia verá isso ocorrer !

A ESQUERDA EM CRISE NA FRANÇA! ALIÁS, NA INGLATERRA, ALEMANHA E ESPANHA TAMBÉM!

BBC, em 11/04/2007
A menos de duas semanas das eleições presidenciais, as pesquisas na França indicam que a esquerda é claramente minoritária na preferência do eleitorado. Apenas os dois principais candidatos da direita, Nicolas Sarkozy, do partido do governo, e o centrista François Bayrou, como também Jean-Marie Le Pen, da extrema direita, em quarto lugar nas pesquisas, já totalizam, os três juntos, mais de 60% das intenções de votos. Os partidos de esquerda na França vivem um momento de pânico. A extrema esquerda registra índices inferiores aos obtidos nas pesquisas anteriores ao pleito de 2002. A candidata socialista, Ségolène Royal, segunda colocada nas pesquisas, com entre 22% e 24% das intenções de voto, vem recuando sucessivamente nas últimas sondagens. Nem mesmo o Partido Verde, num momento em que as questões em torno do aquecimento global estão no topo das discussões internacionais, consegue decolar nesta campanha. A candidata do partido, Dominique Voynet, tem apenas 2% das intenções de votos nas pesquisas.

PHILIPPE MAAREK

TRECHOS DA ENTREVISTA RECENTE DE PHILIPPE MAAREK ESPECIALISTA FRANCÊS EM COMUNICAÇÃO POLÍTICA TENDO COMO PANO DE FUNDO AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS FRANCESAS!

1. Efetivamente. Aos bloggers na internet lhes encanta capturar as gafes dos políticos. Mas seu efeito é maior sobre os intelectuais que podem se horrorizar, do que sobre o publico em geral.

2. Um dos efeitos mais negativos do mal uso das ferramentas contemporâneas do marketing e da comunicação política é a forma pela qual se personalizam as campanhas em detrimento de seu conteúdo político. Em vez de proporem idéias, os políticos cada vez mais, só vendem as suas imagens. Isto tem dois efeitos negativos. Primeiro induz a que a decisão dos eleitores se baseie na irracionalidade. Depois despolitiza as campanhas. As propostas e plataformas se convertem em algo cada vez mais secundário.

VIVER... E CONVIVER... COM O NARCOTRÁFICO!

Resumo do artigo de Sergio Aguayo Quezada - "Vivir con el `narco` - professor do Centro de Estudios Internacionales de El Colegio de México".

1.
Passaram vinte anos, morreram ou desapareceram dezenas de milhares de pessoas, para que o Estado mexicano assumisse seriamente o desafio lançado pelo crime organizado, capaz de impor sua lei em 40% do território mexicano. Algumas semanas atrás começou uma guerra, mas ainda de incerto desenlace.

2. Esse ano cumpre-se duas décadas desde que o presidente Miguel de la Madrid colocou o narcotráfico como a principal ameaça à segurança nacional. Foram palavras sonoras, mas vazias de conteúdo.

3. Essa displicência suicida tem sido a norma e preparou o terreno para que a delinqüência crescera e até fundara enclaves territoriais fechados ao acesso das forças de segurança.

4. Com poucos dias de governo o novo presidente do México informou que empregaria "toda a força do Estado para recuperar dos delinqüentes os espaços públicos" e "resgatar a México" (as implicações dessa última frase são escalofriantes). O exército se lançou em oito Estados. A utilização das Forças Armadas era a última opção dada à corrupção, ineficácia e impotência de centenas de milhares de policiais mal remunerados.

5. Tirar as tropas dos quartéis tinha como principal objetivo demonstrar a firmeza do presidente e recuperar o espaço cedido ou conquistado pelo crime organizado. No desenho original, o exército patrulharia as ruas enquanto que se intensificava as ações de inteligência requerida para deter os capos e desmantelar os esquadrões sicários. A estratégia parecia tão sensata como pareciam realistas os objetivos. Recebeu os aplausos de uma sociedade farta de seqüestros, assaltos à mão armada e execuções.

6. Seis semanas depois de iniciada a Operação, eu visitei Tijuana, onde dialoguei com uma amostra mais ou menos representativa de conhecedores do submundo criminoso. O entusiasmo inicial havia desaparecido. e prevalecia o desconcerto e o desalento entre acadêmicos, lideres sociais e jornalistas.

7. Os efetivos militares relaxaram e nunca se deteve os capos cujos apelidos, manias e lugares de reunião são bem conhecidos em uma cidade que voltou a viver debaixo da ameaça de seqüestros e execuções.

8. O futuro da segurança mexicana é incerto porque se desconhece a força dos cartéis e a reação que terão diante das extradições de seus chefes aos Estados Unidos, as detenções e as desapropriações. Absorverão com estoicismo os golpes? Aumentarão as execuções de policiais e soldados? Recorrerão ao terrorismo contra alvos civis? Buscarão dissimular-se entre a população ou se entrincheirarão em seus enclaves territoriais?

quinta-feira, abril 12, 2007

O CASO POLITICAMENTE GRAVE NA AMÉRICA LATINA É O DA ARGENTINA E NÃO O DA VENEZUELA, PAÍS MONOPRODUTOR DE PETRÓLEO E SEM LINKS RELEVANTES COM A REGIÃO

VALOR
Kirchner privilegia Chávez e isola a Argentina do mundo
O primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, está planejando uma viagem pela América Latina para a metade deste ano. Será sua primeira visita oficial à região desde que foi assumiu, em janeiro passado. A agenda inclui passagens pelo Brasil, Chile, Uruguai, Colômbia e México. Ainda não está confirmado oficialmente, mas a chancelaria do Canadá cogita também uma rápida passagem pelo Haiti, segundo informou o jornal canadense "Globe and Mail". Se confirmado esse roteiro, Harper será mais um dos líderes de países industrializados a deixar a Argentina fora de seu roteiro.
Este ano já visitaram a América do Sul o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, o primeiro ministro italiano, Romano Prodi, e o presidente alemão, Horst Köhler. Nenhum deles passou por Buenos Aires. O caso de Prodi surpreende, pois a Argentina, com uma das maiores comunidades italianas no mundo, tem até um senador no Parlamento italiano.

terça-feira, abril 10, 2007

Bibliografia necessária: "A manilha e o libambo"

Para aclarar as mentes confusas ou, apenas, dar de comer a quem tem fome de bibliografia de boa qualidade, aí vai uma dica indispensável: A manilha e o libambo, de Alberto da Costa e Silva. É um calhamaço e tanto, mas deve ser levado a sério porque conta, tim-tim por tim-tim, a história dos negros envolvidos pela escravidão. Mapas, datas, informações surpreendentes, quilos de coisas interessantíssimas a respeito do tráfico de escravos através dos séculos. Recomendamos fortemente sua leitura para a "ministra" da "desintegração"!
Talvez, se ela tiver a ousadia de passar pelo sumário e chegar ao final, ela se desintegre...

A melhor charge... bateu todas!

QUAL É HOJE A PRINCIPAL AMEAÇA À DEMOCRACIA?

O problema hoje não são apenas as tentativas, diagnosticadas por Dewey (foto) na sua época, de usar a democracia (como fim) contra a democracia (como meio). Trata-se, agora – e isso é muito mais difícil de perceber – de usar a democracia (como meio) contra a democracia (como-meio-que-é-o-próprio-fim), não confrontando os meios democráticos, substituindo-os por meio violentos (como faziam a extrema-direita e a velha esquerda revolucionária) e sim esvaziando esses meios de sua substantividade enquanto se mantém a sua casca, a sua liturgia, a sua ritualística formal.
Conquanto o Dewey-educador pareça ser razoavelmente conhecido entre nós, pouco se conhece, no Brasil, do Dewey-político. Refiro-me a John Dewey (1859-1952), o chamado filósofo da América, que no texto “Democracy is Radical”, publicado em janeiro de 1937, em "Common Sense" nº 6, estabeleceu as bases para uma compreensão da democracia que, infelizmente, parece não ter sido ainda alcançada, quer pelos nossos liberais, quer pelos nossos social-democratas. Trata-se de um pequeno artigo, de duas páginas, que passou meio desapercebido pelos teóricos da democracia da sua época e que continua, até hoje, sendo praticamente ignorado pelos que querem trabalhar com a radicalização da democracia (apesar do título já ser surpreendente, considerando-se a época em que foi escrito, ou seja, há mais de 70 anos).
Dewey começa o seu artigo, intitulado "A democracia é radical", dizendo que "poucas são as discordâncias entre os grupos de esquerda sobre os fins sociais a que aspiram, sobretudo se as compararmos com as enormes e explícitas diferenças que os separam na hora de determinar quais meios devem servir a tais fins e de que modo obtê-los. Semelhante discrepância sobre os meios – prossegue ele – é a expressão máxima da tragédia que a democracia vive em nossos dias. As autoridades da Rússia Soviética proclamam que, com a adoção legal da sua nova Constituição, o país conseguiu institucionalizar a democracia pela primeira vez na história. Quase ao mesmo tempo, Goebbels anuncia publicamente que o nacional-socialismo alemão é o único modelo de democracia para o futuro. É possível que, para os que cremos na democracia, expressões de tal jaez não passem de piada de mau gosto. Depois de um período no qual a democracia foi objeto de chacota e escárnio, parece que agora se tornou conveniente aclamá-la".

E continua John Dewey. "Certo é que ninguém que tenha seus pés fora do solo germânico dará crédito à afirmação de que a Alemanha é uma democracia e menos ainda que represente o modelo perfeito de democracia. Não obstante, a acusação de que os chamados Estados democráticos somente conseguiram atingir democracias "burguesas" merece nossa atenção. Por "democracia burguesa" se entende um sistema político no qual o poder recai, em última instância, nas mãos do capitalismo financeiro, por mais que se proclame que o governo é do, para e pelo povo. Examinando as coisas com certa perspectiva histórica, fica claro que a emergência de governos democráticos foi sempre o correlato de uma transferência do poder, que deixou de estar nas mãos do setor agrário para servir aos interesses do setor industrial e comercial".

Mas "essa transferência do poder – lembra o nosso filósofo – jamais teve lugar sem que se travasse certa luta. No desenvolvimento dessa luta, os representantes das novas forças de produção proclamavam que sua causa não era outra que a da liberdade e da livre escolha e iniciativa privada dos indivíduos. No continente e, em medida menor, na Grã Bretanha, a manifestação política da livre empresa adotou o nome de liberalismo. Os chamados partidos liberais eram os que apostavam na ação econômica dos indivíduos levada ao máximo e na mínima intervenção ou controle social. Com essa postura defendiam os interesses dos que desenvolviam sua atividade na industria e no comércio. Se todo o significado do liberalismo se esgotasse nessas manifestações, então o liberalismo como tal já teria cumprido seu papel e seríamos loucos se tentássemos ressuscitá-lo".

Dewey reconhece então que "esse movimento fracassou definitivamente na hora de levar à prática fins como a liberdade e a afirmação do indivíduo, coisa tanto mais grave se levarmos em conta que foi esse mesmo movimento que propôs tais objetivos, invocando-os liminarmente para estabelecer a legitimidade de sua supremacia política. Porém o mesmo movimento que uma vez representou esses fins, outorgou a uns poucos o poder sobre as vidas e os modos de pensar da maioria. A capacidade de impor as condições sob as quais a grande massa pública pode ascender aos meios de produção e aos bens que sua atividade requer, foi o instrumento fundamental de repressão das liberdades e o principal obstáculo para o desenvolvimento da individualidade através dos séculos. Seria absurdo negar que a mudança de senhores trouxe certas melhorias para as massas. Porém magnificar essas melhorias e fazer ouvidos moucos a todos os abusos e iniqüidades, ao despotismo, as repressões e as guerras, abertas ou encobertas, que concorrem no presente sistema, não passa de hipocrisia intelectual e moral. O falseamento e a estupidificação da personalidade humana que pratica o atual regime pecuniário e competitivo desmentem o dictum segundo o qual o sistema social vigente encarna a liberdade e a autonomia do indivíduo, e o desmentem em qualquer acepção de liberdade e individualidade na qual estas existam para todos por igual".

Mas "os Estados Unidos – aponta John Dewey – constituem uma importante exceção da tese segunda a qual, de um ponto de vista histórico, o nascimento da democracia respondia ao interesse de uma classe industrial e comercial, se bem que seja certo que, no processo de formação da constituição federal, essa classe tivesse colhido mais frutos da revolução dos que aqueles que lhe correspondiam. Não menos certo é que conforme este grupo foi se construindo com base no poder econômico, se apossou de crescentes quotas de poder político. Porém é simples e plenamente falso que este país seja meramente uma democracia capitalista, nem sequer em termos políticos. A agitação que nestes momentos vive o nosso país representa algo mais do que o protesto de uma nova classe – chame-se-a de proletariado ou de qualquer outra forma – contra uma autocracia industrial firmemente instalada no poder. É mais uma manifestação do espírito originário e imemorial da nação contra toda força usurpadora e destrutiva absolutamente estranha à democracia".

"Este país – continua argumentando Dewey – nunca contou com um partido político "liberal" de tipo europeu, ainda que durante as últimas campanhas o Partido Republicano tenha feito suas muitas consignas parecidas. Porem os ataques que os líderes do partido lançam sobre o liberalismo, considerando-o como mais uma manifestação da ameaça vermelha, demonstra que, nos Estados Unidos, o liberalismo conta com uma origem, um marco sociocultural e uma finalidade distintas. No fundamental, trata-se de uma tentativa de levar à prática os modos de vida democráticos, conferindo-lhes todo seu significado e seu amplo alcance. Não há nenhuma razão concreta para tentar salvar o termo "liberal". Porém temos todas as razões para não permitir que, com as censuras feitas ao liberalismo, se percam de vista os métodos e as aspirações da democracia. Esse perigo de eclipsar a democracia não se reduz a uma mera questão teórica; é uma questão candente e prática".

Chegamos assim ao centro da questão colocada por John Dewey. "A democracia não somente encarna fins que até os ditadores reivindicam hoje como próprios, fins como a segurança dos indivíduos e a oportunidade para que desenvolvam suas respectivas personalidades. A democracia significa, antes de qualquer coisa, defender os meios necessários para que tais fins possam ser levados a termo. Os meios que a democracia se esforça por articular são aqueles próprios da atividade voluntária em total ausência de coerção; trata-se de obter assentimento e consenso sem impor violência alguma. É a força da organização inteligente versus a força da organização imposta de fora para dentro e de cima para baixo. O princípio fundamental da democracia consiste em que os fins da liberdade e da autonomia para todo indivíduo somente podem ser alcançados empregando-se meios condizentes com esses fins. Defender a bandeira do liberalismo neste país, independentemente do que o liberalismo chegou a significar na Europa, é ter o valor de insistir na liberdade de crença, investigação, debate, reunião, educação e tudo isso sobre a base de um método de inteligência pública oposto às práticas coercitivas cujo exercício se defende em nome da liberdade final de todos os indivíduos. Não é difícil perceber certa hipocrisia intelectual e uma absoluta contradição moral no credo de todos aqueles que defendem a necessidade de que determinada classe social exerça uma ditadura, conquanto temporária, coisa que também pode constatar-se na postura dos que proclamam que no atual sistema econômico reina a liberdade de iniciativa e a igualdade de oportunidades".

Ele reconhece – num movimento ainda mais ousado – que “não há contradição alguma entre a busca de meios liberais e democráticos combinada com a defesa de fins socialmente radicais. E não só não há contradição, senão que nada nos induz a pensar que seja possível alcançar fins sociais radicais por meios que não sejam liberais e democráticos. Nem a história, nem a natureza humana, aportam razão alguma em defesa dessa possibilidade. Há quem pense que os que estão no poder jamais o abandonarão de moto próprio, se não se lhes forçar a fazê-lo empregando um poder ainda maior, porém esta idéia só pode ser corretamente aplicada no caso de ditadores, os quais pretendem estar atuando em nome das massas oprimidas, quando o certo é que estão fazendo uso do poder contra essas mesmas massas. O fim da democracia é, por si mesmo, de natureza radical. Pois se trata de um fim que jamais chegou a ser atingido em nenhum país e em nenhuma época. É um fim radical porquanto requer grandes mudanças nas instituições existentes, nas instituições sociais, econômicas, legais e culturais. Quando o liberalismo democrático não reconhece esses pontos, nem na teoria, nem na ação prática, deixa de ser consciente de seu próprio significado e das exigências que este impõe.”

Dewey conclui seu artigo acrescentando que "não há coisa mais radical do que insistir na articulação de métodos democráticos que sirvam como meios para efetuar mudanças sociais radicais. É assim que não falamos por falar quando qualificamos de reacionária a posição que confia implantar-se pela superioridade da força física. Pois este é o método de que o mundo vem dependendo até agora, um método com o qual o mundo volta a armar-se para a sua perpetuação. É fácil entender por que os que convivem com as iniqüidades e as tragédias cotidianas que caracterizam o atual sistema, por que os que são conscientes de que, afinal, contamos já com os recursos necessários para implantar um sistema que garanta a segurança e a igualdade de oportunidades para todos, hão de mostrar certa impaciência e anseiem acabar com o atual sistema, não importa qual seja o método. Porém a obtenção dos fins democráticos não pode divorciar-se da aplicação de meios democráticos. Temos que acalentar a esperança de que o ideal democrático renasça e se coesione em uma ampla mobilização. Porém esta causa não alcançará mais que vitórias parciais se não brotar de uma verdadeira confiança em nossa natureza humana comum e no poder da ação voluntária e baseada em uma inteligência pública e coletiva".

Eis a íntegra do libelo de Dewey, que deveria ser lido e relido todos os dias, ao levantar e antes ir para cama, pelos democratas hoje confrontados com renovadas tentativas de usar a democracia contra a democracia. O que espanta é a clareza desse senhor de quase 80 anos – e há 70 anos – diante de uma questão que se arrasta sem solução teórica e prática até os dias de hoje. Por que John Dewey pôde ter tamanha clareza? Por duas razões (é a minha hipótese): em primeiro lugar porque ele estava realmente convertido à democracia como idéia (e isso significa estar convencido da necessidade da sua radicalização) e, em segundo lugar, porque ele vivia um momento histórico em que a democracia estava sendo usada instrumentalmente para legitimar a autocracia (tanto à direita, com o nacional-socialismo alemão, quanto à esquerda, com o bolchevismo da III Internacional ainda em expansão). Volto assim à minha velha tese segundo a qual só se pode conceituar – e, portanto, conceber a – democracia diante da autocracia.

Mutatis mutandis, tudo indica que vivemos hoje um momento semelhante. Não estamos na iminência de uma guerra generalizada (como estava Dewey em 1937, na ante-sala da segunda grande guerra mundial) e não existem ameaças totalitárias globais semelhantes ao nazismo e ao comunismo. No entanto, a perversão da política promovida pelos diversos populismos (remanescentes ou reflorescentes, sobretudo na América Latina) constitui uma ameaça seriíssima à democracia que só pode ser plenamente percebida por quem está convencido – como Dewey estava – da necessidade da radicalização da democracia. Infelizmente tanto os liberais quanto os social-democratas de hoje não estão convencidos disso. Crêem que basta se postar (e ainda por cima timidamente) na defesa das regras formais do sistema representativo, com suas instituições e procedimentos limitados ao voto secreto, às eleições periódicas, à alternância de poder, aos direitos civis e à liberdade de organização política, enfim, ao chamado Estado de direito e ao império da lei. Parodiando Tayllerand, parecem não ter esquecido nada e também não ter aprendido nada com o século passado. Mas enquanto eles cochilam, vai avançando o uso da democracia contra a democracia com o fito de manter no poder, por longo prazo, grupos privados que proclamam o ideal democrático como cobertura para enfrear o processo de democratização das sociedades que parasitam.

O grande adversário da democracia hoje – pelo menos entre nós, na América Latina – não é uma suposta extrema-direita (aqui residual ou vestigial), nem sequer uma velha esquerda intoxicada pelas idéias bolchevistas, e sim o neopopulismo em suas diversas formas, da chavista a lulista. É bom reler Dewey – que pregava a indissociabilidade entre meios e fins democráticos – para ter tal clareza e não ficar lutando contra inimigos imaginários. A principal ameaça à democracia agora vem daqueles que respeitam um certo formalismo democrático (se especializando em disputar eleições e inclusive multiplicando processos eletivos; por exemplo, convocando plebiscitos e, em seguida, legitimando, sempre com base em critérios de maioria, alterações institucionais que introduzem procedimentos autocratizantes) para solapar substantivamente os procedimentos democráticos.

Mas o problema hoje não são apenas as tentativas, diagnosticadas por Dewey na sua época, de usar a democracia (como fim) contra a democracia (como meio). Trata-se, agora – e isso é muito mais difícil de perceber – de usar a democracia (como meio) contra a democracia (como-meio-que-é-o-próprio-fim), não confrontando os meios democráticos, substituindo-os por meio violentos (como faziam a extrema-direita e a velha esquerda revolucionária) e sim esvaziando esses meios de sua substantividade enquanto se mantém a sua casca, a sua liturgia, a sua ritualística formal. O mal em política hoje não está na introdução de práticas de guerra (reacionária ou revolucionária) que substituam as práticas não-violentas que caracterizam a democracia e sim na perversão da política como "arte da guerra" (ou como 'continuação da guerra por outros meios': a fórmula inversa de Clausewitz), mantendo-se os mesmos meios, ditos pacíficos, porém não pazeantes das relações políticas, gerando um clima adversarial que vinca as sociedades de cima a baixo por falsas contraposições entre elites e povo, entre conservadores e progressistas, entre direita e esquerda, como fazem – cada qual a seu modo – tanto Chávez, quanto Evo, quanto Lula. É claro que, a partir de certo momento, esse modo de perverter a política e parasitar a democracia acabará tendo que restringir mais abertamente as liberdades. Mas se ficarmos esperando tal momento em que eles avançarão o sinal da legalidade (ou da imagem justificável de legitimidade), já será muito tarde para reagir e, inclusive, para resistir.

A principal ameaça à democracia hoje é o neopopulismo. Os democratas devem, portanto, centrar agora todas as suas energias no combate ao neopopulismo, em todas as suas formas, inclusive naquela que é a mais safada de todas e a mais difícil de ser desmascarada porquanto mimetiza as formas de corrupção endêmicas à política tradicional como estratégia para degenerar as instituições e tomá-las por dentro: a lulista.