quinta-feira, agosto 10, 2006

MIRIAM LEITÃO COBRA DE LULA PROMESSAS FEITAS A ELA

Em abril e julho de 2002, o então candidato Lula me deu duas entrevistas no “Espaço Aberto”, da Globonews. Não há relação entre o que ele dizia e o que ele fez. Disse que mudaria a política econômica porque para isso o PT estava concorrendo; afirmou não acreditar “nesses fundamentos econômicos”; prometeu uma reforma tributária para acabar com PIS, Cofins e CPMF. Pediu que eu cobrasse dele a seguinte promessa: acabar com as ocupações de terra e mortes no campo. A cobrança: até março deste ano os dados do próprio governo são de que houve 880 ocupações de terra e 72 mortes em conflitos agrários.
Visto com olhos de hoje, Lula está irreconhecível, exceto pelos clichês que ainda usa. Ele garantiu em todos os momentos daquela campanha que só ele poderia lidar com a questão dos sem terra. Na entrevista que me concedeu em abril de 2002, ele foi além.

— Eu vou lhe dizer uma coisa, e eu vou lhe dizer porque quero que você me cobre. Pode me cobrar em 14 meses. Nós somos a única possibilidade de fazer a reforma agrária sem uma morte e sem uma ocupação. Vamos nos sentar em torno de uma mesa, temos 90 milhões de hectares que não estão produzindo e que poderiam ser usados para a reforma agrária. Vamos fazer um fórum para discutir a questão.

Perguntei sobre os grupos mais radicais e ele respondeu:

— O país tem regras e leis. Não existe espaço para sectarismos. Aí entra o papel do Estado.

Como ele pediu cobrança, aqui está: Lula não apenas não cumpriu essa promessa, como no primeiro ano o número de ocupações pulou de 103 para 222, e as mortes, de 20 para 42. Só nos primeiros três meses de 2006 houve mais ocupações do que em todo o ano de 2002. Por causa da sua ambigüidade, o governo não conseguiu estabelecer a fronteira entre a reivindicação justa e o desrespeito às leis do país.
Na segunda entrevista, o PT já havia divulgado a Carta aos Brasileiros, com promessas de manter a política econômica, mas, nos comícios, o candidato dizia o oposto. Em São Bernardo havia dito, uma semana antes, que iria mudar a política econômica no primeiro dia. Perguntei em qual Lula deveria acreditar.

Por
Miriam Leitão em O Globo

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