sexta-feira, outubro 31, 2008

Eleições 2008, quem saiu fortalecido?

É natural que a imprensa avalie o fortalecimento ou debilitamento dos partidos nas campanhas municipais através de dados quantitativos de eleitos, votos e população. Mas num país de partidos inorgânicos, plásticos e voláteis, isso vale muito pouco para fazer projeções para frente.
Na medida em que a política no Brasil é personalizadora, é inevitável ir repassando os resultados em base aos políticos com dimensão nacional que influenciaram substancialmente os eleitores, ou mesmo que foram percebidos como tais. Tomemos as capitais de maior expressão nacional medida pela cobertura da imprensa: Recife, Fortaleza, Natal, Salvador, Belo Horizonte, Rio, S. Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

Em Recife a vitória não foi do governador, mas do prefeito que sai. Em Fortaleza o governador foi derrotado e Ciro Gomes não comprovou a força que se supunha que tinha. Em Natal da mesma forma. Em Salvador o governador foi derrotado e Geddel venceu, mas não tem expressão nacional. Em Belo Horizonte o que parecia uma vitória da estratégia política, se desfez no final do primeiro turno e só se refez, com muito esforço, no final do segundo turno, aguando a cerveja da vitória. E logo na primeira entrevista (JN, ontem) o prefeito eleito disse que terá que melhorar muito os postos de saúde e a qualidade do ensino, marcas publicitárias do prefeito que sai e o apoiou.

No Rio, o governador vitorioso passou como comandante de uma máquina de pressão, incluindo panfletos, agressões e feriado. Foi a única vitória onde não houve comemoração. Com um enorme desgaste na classe média. E ainda perdeu na região metropolitana toda. E seu desafeto no PMDB venceu em Campos e elegeu a filha vereadora da capital com grande votação.

Em Curitiba, o governador nem apareceu e o prefeito se reelegeu com votação recorde por si mesmo. Em Porto Alegre a reeleição do prefeito nada teve a ver com as lideranças nacionais gaúchas, que ficaram minimizadas não aparecendo na foto.

Nem Lula capitalizou nada, perdendo em S. Paulo e Natal onde fez força para vencer, indo para os comícios e TV. Para não ficar mal, na noite da eleição no segundo turno disse que nenhum candidato criticou o governo federal. Mas é assim sempre, pois quem nacionaliza a eleição municipal, perde.

Finalmente uma exceção: São Paulo. A dobradinha entre o prefeito Kassab e o governador Serra, veio desde antes da eleição, criando constrangimentos dentro do PSDB. E foi consagrada pelo próprio prefeito eleito. Serra foi o único político de dimensão nacional que saiu mais forte que entrou. O único.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Você já ouviu falar dessa brasileira?


- A Johann Strauss Orchestra é dirigida pelo maestro e violinista holandês ANDRE RIEU.
É talvez hoje a melhor orquestra do mundo. Suas apresentações são simplesmente maravilhosas, atraem verdadeiras multidões. Neste vídeo, Carmen Monarcha, brasileira nascida em Belém do Pará canta Ave Maria, de Gounod.
Quase ninguém ouviu falar nela aqui no Brasil.
Em compensação temos que ver e ouvir Tati Quebra Barraco, Kelly Key e, outras do mesmo naipe.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Os Burros e o Mercado

Uma vez, num pequeno e distante vilarejo, apareceu um homem anunciando que compraria burros por R$10,00 cada. Como havia muitos burros na região, os aldeões iniciaram a caçada. O homem comprou centenas de burros a R$10,00, e como os aldeões diminuíram o esforço na caça, o homem anunciou que pagaria R$20,00 por cada burro.
Os aldeões foram novamente à caça, mas logo os burros foram escasseando e os aldeões desistiram da busca. A oferta aumentou então para R$25,00 e a quantidade de burros ficou tão pequena que já não havia mais interesse em caçá-los. O homem então anunciou que compraria cada burro por R$50,00! Como iria à cidade grande, deixaria seu assistente cuidando da compra dos burros.
Na ausência do homem, seu assistente propôs aos aldeões: - "Sabem os burros que o homem comprou de vocês? Eu posso vendê-los a vocês a R$35,00 cada. Quando o homem voltar da cidade, vocês vendem a ele pelos R$50,00 que ele oferece, e ganham uma boa bolada".
Os aldeões pegaram suas economias e compraram todos os burros do assistente. Os dias se passaram, e eles nunca mais viram nem o homem, nem o seu assistente, somente burros por todos os lados.
Entendeu agora como funciona o mercado de ações?

terça-feira, outubro 28, 2008

O país vai às urnas dividido

No dia 4 de novembro John McCain e Barack Obama farão um duelo. Em jogo estão dois modos diferentes de conceber a sociedade e a dignidade da pessoa

Tente imaginar um país no qual quase 80% da opinião pública vive na convicção de que o governo está andando na direção errada. Um lugar onde as famílias estão cheias de dívidas, o desemprego chega a 6,1%, os impérios financeiros que dominaram a cena por décadas caem como varetas de jogo e os cofres públicos apresentam um rombo de 500 bilhões de dólares. Uma nação há anos empenhada em duas guerras nas quais já morreram mais de 4700 rapazes fardados e deixaram outras dezenas de milhares aleijados ou psicologicamente instáveis. Num país assim, quando chega o momento do voto, parece normal esperar-se que o partido que governou até agora não tenha nenhuma possibilidade de continuar no poder.
Porém, as coisas nunca são assim tão simples quando se trata dos Estados Unidos da América.
As eleições presidenciais de 2008 nasceram com a idéia de que o único desafio que contava fosse o da indicação (nomination) do candidato dos Democratas. Após oito anos de administração Bush, com um presidente descendo aos menores índices de popularidade, os Republicamos, em 2007, empreenderam o caminho em direção ao voto com o toque de retirada dos vencidos. As eleições de novembro de 2006 fizeram-lhes perder vertiginosamente o controle do Congresso e o país parecia fadado a um sólido domínio de longo tempo dos Democratas. Em suma, o assunto parecia que devesse se resolver na disputa entre Hillary Clinton e Barack Obama. Mas, ao contrário, a América vai às eleições em 4 de novembro surpreendendo o mundo mais uma vez.
A primeira surpresa foi feita pelos Republicanos ao escolher, na pressa, seu candidato no início do ano e confiando-se a um personagem incômodo. Um bastião do partido que foi uma espinha no flanco de George W. Bush e do establishment do partido e que, ao final, viu-se assumir a tarefa de salvar a barca republicana que afunda. John McCain, o herói do Vietnã, que sobreviveu a cinco anos de torturas nas prisões de Hanói, estava politicamente morto no verão de 2007. Aos 72 anos, ao contrário, viu-se no dever de lutar a batalha mais importante da vida.
A segunda surpresa veio dos Democratas que decidiram escrever uma página da História ao confiar, pela primeira vez, a nomination a um candidato negro, de nome e pedigree insólitos, com uma experiência de política nacional angariada em apenas alguns anos na bancada do Senado. Obama atropelou a máquina da guerra da premiada firma Hillary & Bill Clinton com o carisma, a oratória e a capacidade de inspirar milhões de americanos.
A terceira surpresa foi o gesto audacioso e temerariamente genial de McCain de ir pescar no Alasca um rosto ainda mais novo e mais jovem do que o de Obama, muito feminino, para ter como seu vice. Sarah Palin chegou de repente, como um furacão de categoria “5” sobre a campanha eleitoral faltando apenas dois meses para as urnas.
A quarta e última surpresa é o resultado das três primeiras. Apesar do enorme movimento popular em torno de Obama e, apesar do fato inegável de que as coisas não vão bem na América, o país vai votar em 4 de novembro, num cenário que repete mais uma vez a divisão, já vista em 2004 e em 2000. Duas Américas voltam a confrontar-se nas urnas, duas visões diferentes da sociedade, dois projetos políticos opostos. A queda da Wall Street e a crise econômica na qual os EUA se precipitaram há um mês do dia das eleições deram novo fôlego aos democratas, mas sem resultar em um golpe de sorte para a opção de McCain, como pode parecer inevitável.
Seja como for que termine, dois veredictos já foram pronunciados. O primeiro é que as eleições de 2008 serão lembradas como aquelas da “mudança”. Pode ser a mudança proposta por Obama, de tons quase messiânicos, capazes de entusiasmar principalmente os jovens, os intelectuais, as grandes realidades urbanas. Ou pode ser a mudança de McCain, baseada na idéia de que se pode ser conservador em tantos aspectos e também agitar a realidade de Washington atacando os gastos públicos, os lobbies e a burocracia, também com a ajuda de um toque de populismo. E com a novidade trazida por uma “mãe comprometida com a política” que chega, da última grande fronteira americana.
Um segundo veredicto é que, ainda que os Democratas conquistem a Casa Branca, de qualquer modo e num nível mais profundo, este ano já está perdido. Se num ano de mau humor como é 2008, por todas as razões citadas, o eleitorado vai ao voto ainda dividido em dois como estava, há oito anos, significa que mesmo com os danos que tenha causado a administração republicana, os americanos não confiam em colocar as chaves da casa nas mãos do partido que foi de Roosevelt, Truman e Kennedy. Não ficam tranqüilos em saber que a Casa Branca, o Congresso, a Corte Suprema e boa parte dos juízes federais, o FED e as agências de controle sobre Wall Street se tornem, de um momento para outro, liberal. É este um dos elementos de reflexão que ficam para analisar depois da virada de 4 de novembro, seja quem for que vença.
No fundo, quando se olha os programas dos candidatos, enquanto falam entre si de mudança, ambos apressam-se a levar a Washington as receitas habituais das respectivas tradições políticas. Com Obama, os Estados Unidos terão um presidente determinado a dar um papel maior ao governo no ditar as regras do jogo; um maciço uso do dinheiro público (e conseqüente maior pressão fiscal sobre os contribuintes) para oferecer rede de apoio para frente de assistência de saúde e de previdência; uma maior sensibilidade aos temas ambientais e às disposições para limitar o impacto das atividades do homem sobre o planeta. Em política externa, os Estados Unidos privilegiam o soft power, o diálogo, o comprometimento da comunidade internacional nas escolhas e a tentativa de resolver as crises à custa de conferências de paz. Com McCain, as escolhas políticas dominarão baseadas em cortes fiscais e incentivos às empresas; o estímulo à concorrência e à iniciativa privada também nas áreas de saúde e previdência; o sustento ao livre comércio e as limitações ao fluxo de imigração; a corrida à busca de fontes de energia no território americano e à construção de centrais nucleares. No plano internacional, a América de McCain enfrentará seriamente a Rússia e a China, procurará agir além da ONU e das atuais organizações internacionais, considerando-as ultrapassadas e privilegiará um eixo com a OTAN e a União Européia para enfrentar as ameaças que possam vir do mundo islâmico.
Ambos os presidentes não mudarão uma vírgula na posição de apoio a Israel, no Oriente Médio; ambos terão em mira o Irã; ambos farão pressão (ou algo mais) sobre o Paquistão para tentar resolver a situação do Afeganistão. E ambos, ainda que de maneiras diferentes, evitarão diminuir demais a presença militar americana no Iraque.
Vista assim, a situação parece oferecer alternativas claras e, ao mesmo tempo, garantias de continuidade. E pareceria claro que, se existe insatisfação pela receita destes anos dos Republicanos, é a vez dos Democratas tentarem dirigir.
A prudência dos EUA em dar a carta branca diz, portanto, alguma coisa a mais e diferente. E a chave de leitura é procurar na visão do valor da pessoa que emerge das duas frentes. O modelo de sociedade oferecido pelos Democratas não convence, e não apenas em relação à dolorosa questão do aborto. O relativismo cultural que emerge nas escolas, nas universidades, assim como nas assembléias locais onde se dá sinal verde ao matrimônio gay não é percebido como um “progresso” por uma grande fatia, ainda que majoritária, da sociedade americana. Um povo que vive uma fase de redescobrimento da espiritualidade e lota, aos domingos, mega-igrejas evangélicas de quinze mil lugares, ao mesmo tempo não aceita ver ridicularizada nenhuma exigência de busca da verdade.
Milhões e milhões de famílias, em resumo, não estão de acordo com a idéia de que a sociedade perfeita seja aquela pensada nos loft de Manhattan e nos studios de Hollywood. E o demonstram aos outros com a explosão de entusiasmo que acompanhou a chegada à cena da desconhecida mãe do Alasca, com o filho Down nos braços, que se divide entre usar o Blackberry e amamentar, e propõe um tipo de feminismo que enraivece quem fez do feminismo uma profissão. Como nos anos passados, resta assim o cenário de um país dividido em dois, que não são necessariamente aquelas divisões por linhas de demarcação econômicas, como muitos se apressam em dizer simplificando demais as coisas em América dos “pobres” e dos “ricos”. Pode até ser uma divisão geográfica (a América progressista que se depara com dois oceanos e aquela conservadora do interior), mas a realidade é mais profunda e complexa. Diz respeito à dignidade da pessoa e ao tipo de sociedade que se quer construir. Definitivamente, é uma questão, se poderia dizer, “de valores não negociáveis”.

A derrota de Paes

por Cora Ronai
Abrindo mão das próprias convicções (se é que um dia as teve), aliando-se ao que há de mais podre no estado, gastando rios de dinheiro, jogando sujo, usando descaradamente a máquina estadual, federal e universal, beneficiando-se até de um feriado mal intencionado, enfim, com tudo isso, Eduardo Paes só conseguiu ganhar de Gabeira por 50 mil míseros votos.

Como vitória política, já é um resultado extremamente questionável; mas do ponto de vista pessoal, é uma derrota acachapante.
Eduardo Paes levou a prefeitura, sim, mas de contrapeso ficou com uma quadrilha de aliados que não deixa nada a dever àquela que ele acusava o presidente Lula de comandar.
Vai ser prefeito, sim, mas vai ter de arranjar boquinhas para o Crivella, para o Lupi, para o Piciani, para a Clarissa Garotinho, para o Roberto Jefferson, para a Carminha Jerominho, para o Babu, para o Dornelles, para a Jandira... estou esquecendo alguém?
Conquistou um cargo, é verdade, mas conquistou também o desprezo mais profundo de metade do eleitorado.
Em compensação, como carioca, perdeu a chance de viver um momento histórico, em que a prefeitura seria, afinal, ocupada por um homem de bem, com idéias novas e um novo jeito de fazer política; perdeu a chance de ver o Rio de Janeiro sair do limbo a que foi condenado nas últimas décadas, e ganhar projeção pela singularidade da sua administração.
Se Gabeira tivesse sido eleito prefeito, o Rio, que hoje não significa nada em termos políticos, voltaria a ter relevância, até pelo inusitado da coisa. Um prefeito eleito na base do voluntariado, do entusiasmo dos eleitores e da vontade coletiva de virar a mesa seria alguém em quem o país seria obrigado a prestar atenção.
Agora, lá vamos nós para quatro anos de subserviente nulidade, quatro anos em que o recado das urnas será interpretado, pela corja que domina esta infeliz cidade, como um retumbante "Liberou geral!"
Nojo, nojo, nojo.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Desconstruindo imagem, eleições BH 2008 - Leonardo Quintão por Tom Cavalcante


Exemplo impagável de desconstrução de imagem!

"A vitória de Gabeira"

O publicitário Lula Vieira, o Washington Olivetto dos cariocas, é meu amigo. Aos 61 anos, paulista da Lapa, fez sua carreira de muito sucesso no Rio. Já a meio caminho do primeiro turno, entrou de cabeça na campanha de Fernando Gabeira.

Pedi a ele no começo da semana que me contasse como foi por dentro esta campanha absolutamente fora dos padrões da política brasileira _ os bastidores, as dificuldades, as discussões internas, a luta para chegar ao segundo turno, a onda que se formou nas últimas semanas indicando que era possível ganhar.

Hoje, bem no dia da eleição, ele arrumou um tempinho para me escrever. Tentou o dia todo falar comigo, mas meu celular não estava funcionando. Só agora, quase 11 da noite, recebo este belo depoimento de Lula Vieira, que repasso aos leitores do Balaio. Nele ficamos sabendo como Gabeira perdeu, mas ganhou as eleições no Rio:

Escrevo ao meio dia de domingo, antes de encerrar a votação aqui no Rio de Janeiro, com as pesquisas de intenção de voto indicando empate técnico entre os dois candidatos a prefeito, Fernando Gabeira e Eduardo Paes.

Trabalhei para Gabeira desde quando ele tinha 4% das intenções de voto e era um candidato tão pequeno que nem mereceu ser entrevistado pelo RJTV, que restringia o supremo prestígio de ser ouvido pelos repórteres àqueles que tivessem algo acima de 5% das intenções de voto.

Invariavelmente Gabeira aparecia na condição de “outros” quando os jornais e as emissoras de televisão falavam dos candidatos. O que mais ouvi neste mês de agosto foi que sem dúvida Gabeira era o melhor nome para a Prefeitura, mas que infelizmente não teria a menor chance.

Os eleitores mais conscientes tratavam de escolher “o menos pior” entre os que poderiam ganhar, Jandira Fegali, Bispo Crivella e Eduardo Paes. Essa difícil e desanimadora escolha ficava entre Jandira e Paes, pois “Crivella nunca”, pelo menos na ótica – como eu já disse – dos mais conscientes. Ou dos mais bem informados, sei lá.

Uma revista semanal, acredito que a IstoÉ ou Época (Veja tenho certeza que não foi) chegou a apelidar Gabeira de “Candidato Carrossel” por girar, girar, girar e não sair do lugar. Fui procurado pela mulher de Gabeira, Neila Figueiredo, e selamos o trabalho em conjunto no dia do velório de dona Ruth Cardoso, no aeroporto Santos Dumont, que permanecera fechado durante toda manhã.

Teria total liberdade, desde que não resolvesse criar um Gabeira de mentira. A restrição a qualquer tipo de maquilagem ia até mesmo à própria maquilagem. “As rugas são as marcas do tempo no rosto dele, devem ficar”. Não seria necessária a advertência. Mas fiquei contente por ouvi-la.

Acho que os marqueteiros são responsáveis pelo esvaziamento do conteúdo verdadeiro dos candidatos, embora não tenham culpa na falta de caráter e na compulsão pela mentira. Essas características o sujeito já traz de casa, ou de berço, como queiram.

Dias depois, na minha casa, traçamos o rumo da campanha: não atacar o adversário, ser absolutamente transparente, não sujar a cidade. A transparência deveria ir até mesmo no caixa da campanha: nada de Caixa 2, não receber dinheiro de companhia de ônibus nem de cooperativa de taxi, pagar e receber tudo “por dentro” e colocar todas as movimentaçõs imediatamente na Internet.

Se você for até o site da campanha vai achar lá o ítem “Ebulição”. É a nossa empresa. Todos os pagamentos que recebemos (e pagamos os impostos) estão lá. Para os padrões brasileiros, o dinheiro da campanha era quase pobre.

Como vantagem tínhamos a melhor equipe que a ideologia pode comprar: Moacir Góis na direção do programa de televisão, João Paulo na edição, Moacir Padilha dirigindo o rádio, Carlinhos Chagas na redação, e por aí afora.

Gente que se dispôs a trabalhar por menos da metade do que poderia cobrar, mas que se sentia recompensada pela oportunidade de se engajar na campanha de um candidato digno, limpo, idealista, agradável.Coisa raríssima nestes dias que correm.

Uma noite, logo nos primeiros dias, o Campanelli da MCR apareceu com um jingle de estarrecedora simplicidade, mas com potencial de se tranformar num mantra: “O Rio é de Gabeira…Gabeira…Gabeira” num ritmo classificado de “marchável”, meio hip hop, um chiclete de ouvido irresistível.

Fizemos um santinho, uma equipe se encarregou do site, nos concentramos nos programas de TVe rádio e entregamos a Deus, que com certeza deve ter pensado “Crivella nunca”. Tanto é verdade que Crivella, que vinha liderando as pesquisas, se envolveu com o escândalo de uma obra que se chamava “cimento social” e serviu como pá de cal para suas pretenções, com perdão pelo trocadilho.

Teve até a participação de um militar alucinado que entregou uns garotos para serem chacinados por uma gangue do tráfego. Tudo respingou no Bispo e no seu discurso messiânico de ungido pelo céu e por Lula. Só no discurso dele, pois ambos não quiseram se comprometer.

Tivemos a imensa vantagem de termos bom tempo na TV e no rádio, cerca de cinco minutos, e de não sermos ameaça para ninguém. Por isso pudemos apresentar Gabeira com toda calma, como alguém capaz de ter uma visão mais aberta, mais moderna, mais cosmopolita para os imensos problemas da cidade.

Eduardo Paes veio como o grande síndico que se preparou durante dezessete anos para ser prefeito. Dizia conhecer cada pedra, cada buraco da cidade. Prometeu instalar 40 UPA’s (Unidades de Pronto Atendimento), uma espécie de Centro de Saúde feito rapidamente e outras coisinhas que transformariam o Rio de Janeiro numa Finlândia em apenas 4 anos.

Jandira, por ser médica, centrou seus esforços na saúde e Crivella era o amigo dos pobres. Jandira parecia ter acabado de acordar no meio de um plantão: nervosa, desgrenhada, vestido aparentemente amassado.

Entre os nanicos, o candidato do PT resolveu transgredir a mais sagrada das normas da televisão e passou o tempo todo falando de lado, para um ponto à esquerda do espectador. Bonitinho, bonzinho, arrumadinho, era o bom filho, o bom colega e o bom professor.

Todos sabem que realmente é um homem direito, mas ficou bonzinho demais, arrumadinho demais. Falou bastante, mas todo mundo se perguntava porque ele olhava para o lado. Chico Alencar é o Chico Alencar, veio de Chico Alencar e falou como Chico Alencar. Levou os votos de Chico Alencar. Meia dúzia.

Os demais se confundiam com os candidatos a vereador. Um deles tinha um belo slogan: “quem pica cartão não vota em patrão”. Em conjunto eles iam implantar o socialismo, destruir a Rede Globo e conduzir os povos à libertação, à verdadeira democracia e à divisão justa de renda.

Chega o dia da eleição e, para estupor geral, Gabeira – o candidato Carrossel, o sem chance, o nanico do bem, tira um magnífico segundo lugar e vai para o segundo turno, juntamente com Eduardo Paes, candidato do governador e do presidente.

O espanto maior, no entanto, foi dos institutos de pesquisas que até o dia anterior davam como certa presença de Crivella como adversário de Paes. Neste mesmo dia, Gabeira virou maconheiro, viado, defensor do aborto e da prostituição, nefelibata e tudo mais que é possível se falar contra um político brasileiro.

Só não poderia ser demagogo, mentiroso e ladrão porque no caso do Gabeira é impossível se falar isso dele. Nas primeiras semanas todos os derrotados se aliaram ao Paes, que passou a ser candidato da máquina estadual, nacional e universal (do Reino de Deus).

Lula falou de Paes, Cabral falou de Paes, Crivella falou de Paes, Jandira falou de Paes. Até Molon do PT e Vladimir Palmeira se aliaram a Eduardo Paes. O solitário apoio a Gabeira veio de César Maia, o único prefeito do mundo que surtou e virou blogueiro em pleno mandato.

Quer dizer, vieram dar apoio, além de Cézar Maia, Caetano Veloso, Fernanda Torres, Adriana Calcanhoto, Alceu Valença, Debora Colker, Oscar Niemayer, Gustavo Lins, Alcione, Wagner Moura, Martinália, Pedro Luiz, Marina Lima, João Bosco, Paula Toller, Frejat, Nelson Mota, Armínio Fraga, Aécio Neves e mais oito mil voluntários.

Logo no comecinho me lembro de uma passagem de Gabeira. Um político, dos mais conceituados, propôs a Gabeira começar a mostrar os podres da turma de Paes, um amplo arco de alianças que iam do famoso Piciani a Jorge Babul, passando por uma varidíssima fauna de pessoas sobre as quais não resta a menor dúvida.

Gabeira respondeu: “eu prometi não atacar adversários”. O interlocutor não deixou por menos: “então você vai perder”. Gabeira respondeu firme: “então eu vou perder”. Noutra ocasião, um empresário, que já foi meu cliente, liga oferecendo dinheiro para a campanha. Gabeira instrui o financeiro: “você já sabe, quando empatar com as despesas, pare de receber qualquer dinheiro”.

Nunca antes na história deste país um político se dispôs a receber somente o dinheiro necessário para a campanha. Fizeram de tudo, de tudo mesmo, até a suprema burrice: mandar imprimir na Gráfica da Ediouro, de quem sou Diretor de Marketing, um folheto contra Gabeira.

Ninguém acreditou nem vai acreditar, mas tal como Lula, eu não soube de nada, a não ser quando o TRE confiscou o material, que por sinal estava dentro da Lei, com nota fiscal e tudo. Paes ficou repetindo o bordão: “Gabeira é apoiado pelo César Maia, Gabeira é apoiado pelo César Maia, Gabeira é apoiado pelo César Maia”.

O engraçado é que todo o currículo de grandes realizações de Paes foi como subprefeito, e secretário… de César Maia. Que raça! No telefone, Gabeira fala de uma vereadora: “ela é analfabeta política…está fazendo política suburbana”. Os jornalistas ouvem e dão a notícia.

Mais um bordão: “Gabeira é preconceituoso, Gabeira é preconceituoso, Gabeira é preconceituoso”. Milhares de faixas são impressas: “sou suburbano com muito orgulho”. Uma feijoada é oferecida aos suburbanos ofendidos e Noca da Portela e outros menos votados dão apoio a Paes, o amigão do subúrbio.

Cria-se uma situação irreal. Gabeira, menino pobre, que vendia banana e ovo para ajudar o pai, professor voluntário na Zona Norte, vira o “candidato dos ricos”, enquanto Paes, menino da Zona Sul, estudante de colégios caros e da PUC, quer se consagrar como “o candidato dos pobres”.

Paes, 38 anos, cara de garotão é o velho matreiro, conhecedor dos meandros da política, o experiente. Gabeira, 68 anos é o jovem, impetuoso, novidadeiro, contemporâneo. E começam os debates. Até o último, da TV Globo na sexta-feira anterior ao domingo da votação, foram 7 deles.

Gabeira venceu sempre, na opinião dos internautas. Alguns momentos foram muito bons. Por exemplo, quando Paes afirmou que se preparava a vida inteira para ser prefeito do Rio, Gabeira respondeu: “pois eu me prepararei a vida inteira para… a vida inteira”.

Ou, então, quando Paes disse que seria necessário saber que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”, recebeu como resposta: “a esta altura da vida eu já sei”.

Vladimir Palmeira pode nesta eleição ter batido o recorde mundial de ingratidão. Gabeira sequestrou o embaixador americano para que Vladimir, entre outros presos políticos, pudesse ser libertado. E Palmeira decidiu apoiar Eduardo Paes.

Por falar em embaixador sequestrado, a filha do próprio fez absoluta questão de declarar seu apoio a Gabeira. E contou que o pai dela tinha boas recordações dele. Na imprensa escrita, inaugurou-se um novo tipo de colunismo: o de crítica a horário eleitoral gratuito. Como se fosse novela.

O Globo e o Jornal do Brasil tiveram seus colunistas que diariamente comentavam sobre roupa, postura, edição. O colunista do JB, se sentindo obrigado a fazer uma gracinha por dia, algumas vezes se perdeu na busca do humor.

A certa altura, como o programa de Gabeira fazia enorme sucesso com seus clipes de cantores, Paes colocou no seu programa a entrevista de uma jovem na rua que afirmou: “eu quero ver propostas, não musiquinhas bonitas”. Nem na Noruega se vê tanta participação cidadã.

Uma jovem exigir dos candidatos a apresentarem suas propostas de governo é tão natural quanto as donas de casa que afirmavam que Paes no seu tempo de sub prefeito entrou na lama até a cintura para ajudar as pessoas assoladas por uma enchente.

Uma enorme demonstração de incompetência de seus auxiliares foi não encontrar uma única foto registrando o heróico feito. Hoje o eleitor decide quem é o prefeito do Rio de Janeiro. O resultado sairá dentro de algumas horas. Seja qual for o vencedor, Gabeira sai muito maior do que entrou.

É um político que pode se orgulhar do respeito de todos, inclusive de seus adversários, que jamais colocaram em dúvida sua honradez e honestidade. Outra vitória de sua candidatura foi a de trazer para milhões de pessoas a informação de que é possível se fazer politica com seriedade.

Trouxe também a participação dos jovens, entre os quais, as pesquisas eram unânimes em apontá-lo como o candidato preferido. Nesta eleição não se ouviu o tradicional discurso do “político é tudo igual”, principalmente por parte deles.

Gabeira demonstrou que os políticos, como as pessoas, são diferentes. Sua campanha termina com a marca da elegância, do bom humor e do amor pelo Rio de Janeiro. O Rio foi votar sorrindo. Essa é a grande, a enorme vitória de Fernando Gabeira”.

por Ricardo Kotscho

domingo, outubro 26, 2008

COM TODO O RESPEITO, BLOOMBERG! MAS ISSO É COISA DE CHÁVEZ, MORALES ET CATERVA!

O prefeito de NY pediu à Câmara Municipal que alterasse a lei e lhe desse a possibilidade de um terceiro mandato. Ninguém nega a Bloomberg (foto) ser um prefeito muito competente. Mas isso de mudar lei na segunda metade do segundo mandato para continuar alegando a crise financeira e seus conhecimentos é uma forte derrapagem. De insubstituíveis o cemitério anda cheio, como diz o refrão popular.

BBC

Nova York autoriza prefeito a concorrer a terceiro mandato

O Conselho da Cidade de Nova York (equivalente à Câmara de Vereadores no Brasil) aprovou na quinta-feira (23/10) uma medida que permite que o atual prefeito da cidade, Michael Bloomberg, concorra a um terceiro mandato consecutivo. O segundo mandato de Bloomberg como prefeito terminaria no final de 2009 e, pela lei, ele não poderia concorrer a mais uma eleição. Mas, aproveitando suas altas taxas de aprovação, o milionário dono do sistema de comunicações que leva seu sobrenome, solicitou a oportunidade de concorrer a mais um mandato. A proposta foi aprovada no Conselho por 29 votos a favor e 22 contra.

quinta-feira, outubro 23, 2008

A pergunta que não quer calar!

AS CAMPANHAS SÃO IMPORTANTES?

Alguns pensamentos selecionados e que podem servir para projetar esse final de campanha a prefeito nas capitais!

1. Como o valor da informação diminui com o aumento do volume de informações, os eventos que acontecem no início do período de campanha têm um potencial maior de influenciar os eleitores do que os eventos que ocorrem na parte final. "Lei" do rendimento decrescente das informações.

2. A opinião básica sobre os candidatos não vai mudar na fase final.

3. Os partidos na campanha não são fonte de informação. A campanha é centrada no candidato.

4. O eleitor conservador é mais constante que o de esquerda.

5. Os últimos a decidir (indecisos) não tendem a votar no candidato do governo.

6. Regra básica: nunca pise em sua própria história.

7. Debate só tem importância em disputa muito acirrada.

8. Expectativa de quem vai ganhar pode influenciar indecisos na reta final.

quarta-feira, outubro 22, 2008

NOTAS DE SAM POPKIN, ASSESSOR DE CLINTON, PARA O DEBATE NA TV COM DOLE, EM 1996!

1. Geralmente está errado tratar os debates através de agressões e ataques. É melhor comportar-se "acima" do outro candidato e esvaziá-lo da mesma forma que um toureiro com o touro.

2. O risco nos debates é que o candidato se desvie da mensagem, de que essa se perca, enquanto se defende de ataques.

3. O único grande efeito negativo dos debates é tirar uma campanha dos trilhos de sua mensagem. Há dois lados. Em um, garantir a confiança dos eleitores e prosseguir com sua mensagem. O outro é brigar para responder aos ataques e se afastar de sua mensagem.

4. Contrastar: Clinton quer melhorar o governo; Dole quer acabar com ele.

5. Um debate grosseiro e desagradável, com um fio condutor raivoso, prejudica quem o faz.

6. Saber os preços básicos que as pessoas pagam.

7. Os debates são uma oportunidade para criar otimismo, ligando aquilo pelo que você passou, onde esteve, quem você é e o que quer fazer.

8. A maneira de dissipar dúvidas sobre o candidato é com informações que torne as pessoas menos inseguras. E a melhor maneira de convencer as pessoas de que você lutará por alguma coisa é fazer com que compreendam os valores fundamentais que o levaram a lutar até aqui.

9. Não importa qual seja o tema. A verdadeira pergunta a ser respondida é sobre quem e o que você é. E que está motivado por valores fundamentais.

10. Os debates reúnem os interesses quanto a políticas administrativas e personalidade.

11. Os debates são mais eficazes quando mostram o caráter pessoal que reforça o caráter político.

PAUL McCARTNEY AO CAVAQUINHO ... - Mais um pedaço daquele show!


Paul McCartney toca um cavaquinho, acompanhado de Eric Clapton, Ringo Starr, Tom Petty e um time da pesada... - se alguém conhece alguns dos outros 'figurinhas' no vídeo, favor informar!
A música (SOMETHING) é do genial LP Abbey Road!

Quem não conhece? O disco de 1969. O penúltimo dos Beatles!

O grande Frank Sinatra, certa feita disse achar esta, a música mais bonita que conhecia. E gravou! Pode até ser exagero (foi uma coisa de momento) mas que é uma canção genial não há dúvida!

E só quem vivenciou essa época sabe É maravilhosa!

O cavaquinho Paul ganhou quando esteve no Rio!?
Informação recebida pela web, da mesma fonte. Há que conferir!

terça-feira, outubro 21, 2008

A APLICAÇÃO DO MÉTODO DO "PAINEL"

Na década de 30, na Universidade de Columbia, a equipe liderada pelo professor Paul Lazarsfeld desenvolveu as primeiras pesquisas e estudos, quantificando a decisão do eleitor. Daí vem as pesquisas políticas e eleitorais da forma que as conhecemos hoje.
Lazarsfeld e equipe desenvolveram uma técnica muito interessante que chamaram de "Painel". Durante uma pesquisa pediam autorização aos entrevistados para retornar por telefone e voltar a entrevistá-los um tempo depois. A equipe de Lazarsfeld descobriu duas coisas: a) que um eleitor numa mesma eleição pode mudar de intenção de voto uma vez ou mais e que por isso, nem sempre uma mesma porcentagem se refere às mesmas pessoas. b) que retornando às pessoas, perguntando em quem votam e se comparando com a intenção de voto anterior, se pode projetar tendências eleitorais de subida e descida dos candidatos.

PRESIDENTE DOS EUA RONALD REAGAN EM 1986!

"As palavras mais aterradoras do idioma inglês são: ‘Sou do governo e estou aqui para ajudar’."

segunda-feira, outubro 20, 2008

Tempos de incertezas

O reconhecimento da magnitude da crise financeira internacional deixou de ser considerada uma manifestação de arautos do catastrofismo. Em diversas análises abalizadas são diagnosticados os riscos e incertezas que assolam os mercados financeiros nos dias atuais. Há opinião respeitada na praça que já expressa que a superação da crise em curso vai impor um custo extremamente elevado, tanto econômico como social.
As reações de pânico se disseminam pelos quatro cantos do mundo, motivadas pelo ceticismo na efetividade das ações empreendidas pelos governos. O que se busca no momento é evitar uma perda total de credibilidade. Vamos torcer e rezar para que as medidas anunciadas em bloco na Europa e o pacote norte-americano sejam lenitivo eficaz.

O Primeiro Ministro britânico, Gordon Brown, em recente artigo publicado no periódico inglês "The Times", conclama os governos de outras nações a encampar as mesmas medidas adotadas por seu governo: comprar ações de bancos para capitalizá-los e garantir empréstimos interbancários como forma de restaurar a credibilidade do mercado de crédito.

Os que se negavam a uma ação coordenada se renderam às evidências dos fatos. Foi obtido um consenso emergencial em torno da necessidade de injetar capital nos bancos, em consonância com as medidas adotadas isoladamente pela Inglaterra. Registre-se que os Estados Unidos aderiram à idéia de comprar participações diretas nos bancos.

São atitudes de bom senso e equilíbrio como essa que esperamos se repitam em todos os países do globo. Nesse momento é fundamental banir o pânico instalado, restabelecendo o pleno funcionamento do sistema de pagamentos e o mercado interbancário. Nas palavras do ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan, "presidir um processo ordenado de venda de ativos, capitalização e consolidação do sistema bancário". Não há simulacro capaz de ocultar que o mundo viverá turbulências nos dias que se seguem. Na avaliação do referido economista, que tem larga experiência na condução da economia brasileira em tempos de uma conjuntura mundial adversa, a estagnação de crédito é "a expressão de uma crise global de confiança que extrapolou de muito o mercado interbancário e começou a afetar o chamado setor real e as perspectivas de crescimento".

O Governo tardou a reconhecer a gravidade da crise econômica internacional. No início, tentou minimizá-la. O Presidente Lula procurou descolar o Brasil da crise internacional, como se isso fosse possível.

Num primeiro momento, nos reportamos a opiniões credenciadas, como a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que alertava: "Não é desesperador, mas é preocupante. O Governo tem de agir rapidamente, adotando providências administrativas". Lembrei opinião mais pessimista e radical do economista Carlos Lessa, que afirmava ser a crise de extrema profundidade, alegando que US$200 bilhões se transformariam em pó, a exemplo do que ocorrera em um passado distante no Japão. Reproduzi comentário do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga que afirmava ser uma crise sistêmica; portanto, da maior gravidade.

Finalmente, o Governo reformulou seus posicionamentos e adotou uma postura menos evasiva diante da realidade incontestável. Eu reconheço e creio que praticamente toda a oposição brasileira enxerga no Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, um homem lúcido da administração Lula no que diz respeito à área econômica. Certamente, ele é o grande responsável pela manutenção dessa estabilidade econômica conquistada em governos anteriores.

Portanto, se o Presidente confere mais poderes a Henrique Meirelles, até nos sentimos aliviados porque, certamente, do Banco Central não teremos notícias decepcionantes sob o ponto de vista de medidas incorretas que possam ser adotadas no enfrentamento da crise.

A vigilância e o monitoramento exercidos pelo Banco Central são fiadores da travessia incerta que teremos que enfrentar. O Presidente da República pode contar com o bloco de oposição para aprovar medidas que objetivem debelar os efeitos perniciosos advindos da crise financeira. Os discursos e as declarações de palanque são dispensáveis nesse momento tão grave. É hora de moderação e comedimento. Recomendável não difundir à população a máxima de que o "bom velhinho" reserva um trenó turbinado ao Brasil.


Senador Alvaro Dias - 2º Vice Presidente do Senado, vice-líder do PSDB

sábado, outubro 18, 2008

A CRISE FINANCEIRA, A POLÍTICA E OS MANETES!

Economistas usam uma analogia biológica para explicar a relação entre o sistema financeiro e o produtivo. Dizem que o sistema financeiro é o sistema sanguíneo da economia. Outros preferem uma linguagem agrícola, dizendo que é o sistema de irrigação da economia. De uma ou outra forma, se o sistema sanguíneo está doente ou a irrigação não ocorre satisfatoriamente, a economia toda, no mínimo estará doente, ou a safra será muito baixa.
O governo federal procura alardear otimismo falando que aqui as coisas serão diferentes. Mas se a bolsa despencou, alguns pequenos bancos ficaram insolventes, a liquidez interna sofreu uma forte contração e o governo federal mandou liberar o redesconto e baixou uma medida provisória que tem o sabor de uma lei delegada para intervir no mercado financeiro, é evidente que o sistema sanguíneo ou de irrigação, interno, já foi atingido e a economia já o está sendo.

A resultante todos sabem: a taxa de crescimento em 2009 e 2010 será bem menor do que a projetada nos projetos de lei de diretrizes orçamentária e de orçamento. Há uma hipótese entre analistas, que ficará entre 2% e 3%. No entanto há que se ver o que significa isso. Quando uma economia cujo PIB é de 100, cresce, suponhamos para raciocinar de forma simplificada, 1 ponto aritmético por mês, em janeiro o PIB será de 101, em fevereiro de 102... até dezembro quando será de 112. O PIB desse ano teria alcançado 1.278.

Se a economia entrar em dezembro em recessão e parar de crescer, esses 112 de PIB ficarão iguais todo o ano seguinte e o PIB será de 1.344. Mas as estatísticas divulgadas dirão que houve um crescimento de 1.344 / 1.278 ou mais 5,16%. Essa informação estatística nada terá a ver com o que sentem as empresas e as pessoas. Por exemplo, a taxa de desemprego aumentará, pois novas gerações estarão entrando no mercado de trabalho. Se a economia está parada de fato e como o crescimento é uma média entre setores, alguns estarão decrescendo, desempregando, reduzindo a produção, com todo o multiplicador incorporado sobre outros setores.

Quando se faz um prognóstico de que a economia brasileira vai crescer em 2009 à taxa de 2,5%, na verdade se está dizendo que comparando a economia de 2009 com dezembro de 2008, ela estará parada e em forte recessão com todas as seqüelas sociais e fiscais.

Os elogios à gestão monetária responsável do governo Lula deve passar pela análise política. Uma coisa é ser responsável em início de governo, longe da eleição. Outra é uma recessão em final de governo. Em 2005/2006 a economia estava dentro de um ciclo de crescimento num patamar de 5%. As afirmações de responsabilidade monetária eram fáceis de serem feitas. Outra é viver num quadro de crise e recessão.

O governo FHC pode ser elogiado por quase tudo. Mas certamente não é o caso da gestão da política econômica em 1998. As irresponsabilidades - cambial e fiscal - foram ao limite. FHC ganhou a eleição, mas a economia estourou em seu segundo mandato.

Nessa crise financeira com os mega-pacotes de ajuda aos bancos, analistas nos EUA se perguntam por que o governo Bush deixou o Lehman quebrar? Um deles disse: um erro grave pela proximidade da eleição. Imaginavam que não daria tempo de contaminar o sistema, afirmariam a natureza liberal da política econômica, mostrando ao povo que os poderosos também quebram e manteriam até as eleições o Iraque e a política externa no centro do debate, com uma vitória fácil e previsível para McCain.

Mas "não se havia combinado com o adversário", para lembrar Garrincha. A contaminação veio à vista, o sistema entrou em colapso, se adotou um keynesianismo nunca visto, a agenda eleitoral veio para dentro e McCain derreteu.

O que farão Lula e seus pelegos distribuídos pela máquina com remunerações explosivas e poder ilimitado? Entregarão a rapadura à oposição? Quem terá coragem para arriscar e ir empurrando com a barriga e ver se Deus ajuda e se chega às eleições de 2010? E o que se fará em final de governo, com o desemprego aumentando, empresas quebrando ou reduzindo a produção, o superávit comercial externo desabando em função dos preços das commodities, o câmbio subindo...? Simplesmente se mantém a responsabilidade monetária e fiscal e se faz tudo certo por amor à Pátria?

O cenário político que este Blog projeta é o governo tentando manter o crescimento a qualquer custo, ampliando o déficit fiscal nominal, a turma da fazenda e do banco central sendo chamadas para uma conversinha política e a demanda sendo irrigada de qualquer forma para que a taxa de crescimento não caia para menos de 3%. O resultado - na melhor hipótese - será a inflação subindo bem além dos patamares recentes. E na pior hipótese, o nosso conhecido processo de estagflação.

Se com FHC e Malan se fez assim, imaginem com Lula e Mantega! Apertem os cintos e esperem as festas juninas de 2009 e terão a certeza que será assim. E previnam-se "hedgeando" as irresponsabilidades fiscais e monetárias que virão e a inflação em alta. E cuidado, pois os manetes ("remember" o desastre de Congonhas) podem estar na posição invertida.

sexta-feira, outubro 17, 2008

COBERTURA, COMUNICAÇÃO E EFETIVIDADE NAS CAMPANHAS ELEITORAIS!

No início dos anos 90 a pesquisadora da Universidade da Pensilvânia, Kathleen Jamieson, provavelmente a mais importante pesquisadora sobre "comunicação política", realizou uma gigantesca pesquisa usando uma equipe de cinco mil pessoas e a transformou em um imperdível livro (não publicado no Brasil, infelizmente): "O que você sabe sobre política e porque você está errado".
Essa pesquisa abrange todas as eleições presidenciais nos EUA desde Kennedy a Clinton e procura decifrar tanto a lógica de comunicação dos políticos e sua efetividade assim como a lógica da cobertura das campanhas pela imprensa.

Para muitos, essa cobertura que vemos pelos jornais, focalizada em pesquisas, fofocas, intrigas, destaques para as tentativas de desqualificação dos adversários, não dá ao eleitor as informações que precisa para decidir seu voto com qualidade. Mas é assim sempre, segundo Jamieson, em todo lado.

A imprensa não cobre conteúdo nas campanhas, mas estratégias, incluindo aí análises e razões dos resultados de pesquisa, escorregões dos candidatos, acusações, desqualificações, ironias, fotos comprometedoras... Exemplificando: Por aqui aparecem sungas, pegadinhas em candidato no celular, contradições nos apoios, fotos comprometedoras, etc. É assim em todo lado. Vide a cobertura de Obama x McCain. Portanto, será assim sempre e até o final.

Jamieson pesquisou também a publicidade das campanhas e em especial os comerciais de 30 segundos, que os americanos são especialistas. E testou que método produz o maior efeito e a maior memorabilidade. Dividiu em três tipos:defensivo (comerciais falando bem do que fez ou fará), negativo (falando apenas mal do adversário). E de contraste (comparando um e outro e mostrando as diferenças). Há um comercial espetacular de Clinton que em 30 segundos mostra toda a longa carreira de Dole votando sempre por aumento de impostos, desmentindo as promessas dele e mostrando que Clinton sempre foi a favor da redução de impostos. Tudo em 30 segundos. Claro que a comunicação nas campanhas não é só TV, embora a importância dessa.

Jamieson demonstrou que a comunicação (o comercial em particular) que produz de longe o maior impacto e memorabilidade é a de CONTRASTE, a comunicação diferenciando os candidatos e exaltando um nessa comparação. Depois vem a NEGATIVA. Essas que os publicitários no Brasil tendem a não gostar (Duda Mendonça: "-Quem bate perde"), Jamieson afirma que criam um primeiro impacto de incomodidade e que, portanto em pesquisas qualitativas são rejeitadas. Mas que carregam muito mais memorabilidade que as "defensivas" no tempo. É uma comunicação de início ou meio de campanha.

Finalmente a comunicação DEFENSIVA, onde os candidatos mostram o que fizeram e o que podem fazer. Jamieson diz que é a que produz menos impacto e menos memorabilidade, de longe.

A questão dos "contrastes" não é tão simples. Para se chegar ao foco, as pesquisas internas devem mostrar que pontos são esses que apontam mais para um e menos para o outro. Sublinhe-se o mesmo ponto. Pode haver contrastes que são totalmente inócuos, como comunicação de detalhes de promessas. O contraste usado deve ser aquele que influencie a decisão de voto. Mas há que testar para não comunicar por contraste inocuamente.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Analise economica versão matuta

Já não precisa ser "emebiêi" para entender a crise financeira atual.
Só que, na brincadeira, dá para entender o que o economês dos jornais tentam explicar a algum tempo.
Veja a explicação mais simples abaixo:

Entendendo a complexidade da crise subprime americana:

É assim: o seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e vende muita cachaça.
Como os fregueis tão diminuindo, ele decide que vai vender cachaça "na cardeneta" aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados.
Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito).
O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emebiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo o pendura dos pinguços como garantia.
Uns seis zé-cutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, PQP, OVNI, SOS ou qualquer outro apelido financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer: é só um apelido.
Esses adicionais instrumentos financeiros alavancam o mercado de capitais e conduzem a que se façam operações estruturadas de derivativos, na Bolsa de Mercadorias e de Futuros-BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cardenetas do seu Biu).
Esses derivativos estão sendo negociadas como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.
Até que alguém descobre que os bebuns da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia "sifu"! Intendeu agora? Então bota mais uma...
Fonte aqui.
Foto da Web

Assim fica dificil não votar no cara!

Aqui Obama olhando para o horizonte. Neste poster, acima vem escrito, a palavra progresso, copiando uma famosa foto, abaixo, de Kennedy.





Esse aqui, acima, é meu favorito, inspirado nos cartazes de filmes.

Material de campanha realmente impressionante! Com toda essa qualidade gráfica, mais uma crise para ajudar, realmente ficou difícil para os americanos não votarem no cara!

Por que Obama e McCain citam Warren Buffet (foto) como perfil para Secretário do Tesouro?

Algumas de suas máximas:

"O tempo é amigo da empresa maravilhosa e inimigo da medíocre."

"A ampla diversificação somente é requerida quando os investidores não entendem o que estão fazendo.”

"A maioria das pessoas se interessa por ações quando todo mundo está interessado. O momento de interessar-se é quando ninguém mais se interessa. Não se ganha dinheiro comprando o que é popular."

"O mercado acionário é feito para transferir dinheiro dos apressados para os pacientes."

"As ações são simples. Basta escolher grandes empresas gerenciadas por pessoas competentes e íntegras, e comprar suas ações por um preço inferior ao seu valor intrínseco. Depois, basta manter essas ações para sempre."

"O risco vem de você não saber o que está fazendo."

“O gênio dos derivativos está a algum tempo fora da garrafa e esses instrumentos vão certamente se multiplicar em variedade e volume até que aconteça alguma coisa que torne clara sua natureza tóxica."

terça-feira, outubro 14, 2008

KEYNES E ADAM SMITH!

Mariano Grondona (foto) no La Nacion: trechos.

"A história mostra que não há uma, senão duas mãos invisíveis. Em tempos normais, vale a mão invisível que descreveu Smith. Mas em tempos de crise, vale a outra mão, a mão de Keynes. Por isso neste momento prevalece em vez do Mercado, o Estado, que está gastando qualquer coisa para prevenir a recessão. Keynes supunha que passada a crise o Estado cederia outra vez o lugar ao Mercado Talvez não tenha previsto que uma vez que se estimula seu gosto pelo poder, o Estado não se retira tão facilmente da cena, e em geral dá lugar, em vez da recessão, à inflação. É que tanto o Mercado quanto o Estado são, depois de tudo, humanos, e como tais, imperfeitos, sendo nosso destino oscilar entre o liberalismo e o estatismo, e vice-versa, conforme passem os anos. "

segunda-feira, outubro 13, 2008

VOTAÇÃO PARA PREFEITO NAS CAPITAIS: DEM E PMDB CRESCEM. PT E PSDB CAEM!

1. Este Blog comparou a votação dos candidatos a prefeito, por seus partidos, em todas as capitais do Brasil. O DEM, que perdeu votos no Rio, recuperou e ampliou com a votação em SP. O PMDB, apresentando candidatos em grandes capitais como o Rio, foi o que mais cresceu entre os grandes. Segue a lista dos 13 partidos votados nas capitais para prefeito.

2. O PT passou de 5.904.043 votos em 2004 para 5.038.385 em 2008, perdendo -14,7% dos votos.

3. O PSDB, o que mais perdeu em função de SP, passou de 4.069.399 em 2004, para 3.088.093 em 2008 perdendo -24,1% de votos.

4. O DEM passou de 2.861.671 votos em 2004, para 3.406.007 em 2008 com crescimento de 19,0%.

5. O PMDB passou de 1.200.966 em 2004 para 3.532.663 em 2008 num crescimento de 194,2%.

6. O PSB passou de 1.485.075 votos em 2004 para 1.169.761 em 2008, perdendo -21,2%.

7. O PDT passou de 1.296.744 em 2004 para 379.264 em 2008 perdendo -70,8%.

8. O PL passou de 1.148.312 em 2004 para 129.698 em 2008, numa perda de -88,7%.

9. O PP passou de 910.718 em 2004 para 909.356 em 2008 perdendo 0,1%%.

10. O PPS passou de 811.191 em 2004 para 432.287 em 2008 perdendo -46,7%.

11. O PCdoB passou de 571.499 votos em 2004 para 915.532 em 2008, avançando + 60,2%.

12. O PTB passou de 467.009 em 2004, para 706.511 em 2008, crescendo + 51,3%.

13. Finalmente o PV em função do resultado no Rio, passou de 145.944 em 2004 para 1.145.914 de votos em 2008, crescendo 685,2%.

domingo, outubro 12, 2008

Sobre aceitar as diferenças!

A Educação de Sarah Palin

Análise em El País. Trechos.

1. A candidata republicana é um formidável aprendiz, que foi capaz de assimilar em muito pouco tempo uma grande quantidade de idéias imprescindíveis para lutar na arena eleitoral. A máquina eleitoral norte-americana é formidável. Em cinco semanas, é possível fabricar um candidato, no mínimo à Vice Presidência.

2. O debate entre Joe Biden e Sarah Palin permitiu observar a escassa diferença entre um Senador, que está há 35 anos em Washington, e uma Governadora, com dois anos de experiência, para agüentar um debate televisivo em direto e responder perguntas difíceis. A Senhora Palin é um formidável aprendiz, que foi capaz de assimilar em muito pouco tempo uma grande quantidade de idéias e, sobretudo, de fraseologia imprescindível para combater na arena eleitoral. Por vezes, era possível perceber o artifício de um treinamento excessivo. Mas a Senhora Palin se saiu muito bem, com maior frescura e capacidade de empatia que o Senador Biden.

3. O Senador Joe Biden combateu, além disso, com uma "mão amarrada nas costas". Não podia e nem devia atacar Palin, não por cavalheirismo, mas por conveniência. A Governadora do Alasca está protegida pela couraça de sua condição feminina, sua maternidade e, inclusive, sua inexperiência e seus defeitos. Qualquer tentativa de fazer-lhe cócegas, acentuar suas falhas ou provocá-las podia converter-se rapidamente numa perigosa arma de dois gumes.

4. A única coisa que cabia a Biden fazer era esperar que a própria Palin cometesse um erro flagrante que a colocasse numa situação difícil sem sua participação. E isso não ocorreu, ao contrário do que se vinha passando nas escassas e prudentes saídas que a candidata realizou diante dos meios de comunicação desde sua proclamação na Convenção Republicana ao começo de setembro.