terça-feira, julho 25, 2006

Presidente Heloísa Helena!


O que esperar de sua gestão e outras observações sobre a candidata que mais subiu nas pesquisas, proporcionalmente


Vai ser a maior vitória da calça jeans e do rabo-de-cavalo em todos os tempos. Talvez ela também calce um par de tênis ao subir a rampa do Palácio. No discurso de posse, atacará os "parasitas do Banco Mundial" e os "gigolôs do FMI". Investirá contra os "delinqüentes da política nacional" e os que se lambuzam no "vergonhoso balcão dos negócios sujos". Alguns estarão presentes. Balançarão a cabeça, em sinal de aprovação. Dirá que em seu governo não haverá lugar para "gente falsa, cínica". Lembrará que, "em gente ordinária", ela "vomita em cima". Alguns desviarão ligeiramente a cabeça, como a desviar-se de algo que cai do alto. Sorrirão em seguida.

No dia seguinte, a Bolsa de Valores de São Paulo fechará em baixa de 82%. O novo ministro da Fazenda, Bruno Maranhão, dirá que esse efeito já era esperado. No mesmo dia, anuncia-se a revogação das privatizações. A das telefônicas será a primeira. Consumada, o efeito imediato é 80% das linhas amanhecerem mudas. A ministra das Comunicações, Luciana Genro, dirá que é melhor assim: a população voltará a se comunicar pessoalmente, com efeito sem dúvida benéfico para as relações humanas. A inflação dispara. Em três dias, atinge os 250%. O governo decreta o congelamento de preços. Os gêneros alimentícios desaparecem dos mercados. O governo ameaça apreender bois no pasto. Donas-de-casa saem às ruas batendo panelas. Do lado oposto, a frente "estudantil camponesa" pede a radicalização do processo. Um de seus expoentes, João Pedro Stedile, chefe do "Movimento Pol Pot pela Revogação dos Costumes Burgueses (Mopopo)", reclama a transferência da população das cidades para o campo. Falta gasolina. Cessam as atividades, uma a uma.

Reúne-se o ministério. Uma ala pede a imediata abolição da propriedade privada, o desmanche das instituições burguesas, a prisão dos inimigos do povo e o justiçamento dos recalcitrantes. A questão é debatida durante dezessete horas.

Chega-se afinal à conclusão de que não há condições objetivas para tais providências. "Que outras opções temos?", pergunta a presidente. O ministro Babá, da Casa Civil, diz que só vislumbra duas alternativas. "Uma é a renúncia", começa. A presidente faz cara de espanto. "E a outra?" Babá respira fundo, hesita. "A outra", diz, enfim, baixinho, "a outra... é pagar mensalão". A presidente fecha os olhos e afunda na cadeira, desalentada.

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O crescimento da senadora Heloísa Helena na pesquisa do Datafolha, de 6% para 10% das preferências, tem aspectos curiosos. Ela cresceu com força nas regiões Sul (de 6% para 13%) e Sudeste (de 7% para 11%). Ou seja, deu uma arrancada na metade mais rica do país. No Nordeste, onde tem sua origem, cresceu pouco (de 5% para 7%). Heloísa Helena possui 8% da preferência dos eleitores com renda familiar até dois salários mínimos (700 reais). Entre os que ganham acima de dez salários (3.500 reais) fica com porção bem maior – 14% –, o que confirma que faz mais sucesso entre os bem de vida que entre os pobres. E, se alguém acha que seu eleitorado se identifica com a pureza socialista encarnada pela senadora, então veja isso: 39% de seus eleitores dizem que optarão por Alckmin, caso se vejam na contingência de mudar de candidato, e 21% por Lula. Isso é que é eleitorado eclético. A senadora mais parece herdeira do Enéas do que dos desencantados com o PT. "Meu nome é Heloísa Helena!!!"

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Ninguém no mundo político exibe tanta raiva quanto Heloísa Helena. "Vigarice", "mentira" e "estelionato" são palavras que lhe brotam dos lábios com a facilidade com que de outros brotam "bom dia" e "obrigado". O fervor de cruzada que lhe embala a pregação embute a perigosa sugestão de que só ela é honesta e só sua verdade conta. A raiva a faz parecer tão religiosamente ideológica quanto um radical islâmico. E no entanto... No entanto, Heloísa Helena é também um poço de afeto. Seu sorriso é aberto, em certos momentos ela faz uma carinha de criança. As lágrimas lhe vêm fácil.

TRÊS ANOS ATRÁS. O Roda Viva fez um programa com a Senadora. Como sempre, ela se apresentou como campeã da justiça e da decência. No entanto, não foi capaz, naquele programa, de condenar o regime de Cuba, que acabara de impor punições a um punhado de dissidentes. Recordo também que a senadora aplicava o adjetivo "burguesa" quando se referia à Constituição, o que sugeria desprezo pelo estado de direito, e concluía: "Heloísa Helena é muito simpática quando não está com raiva e às vezes até quando está. Com certeza é excelente amiga de seus amigos. Mas não dá vontade de viver no país que ela tem em mente".

QUANDO COMEÇAR O PROGRAMA NA TV, TODA A POPULAÇÃO. ENCANTADA COM O PALAVRÓRIO DA HH, TB NÃO VAI QUERER VIVER NO PÁIS QUE ELA TEM NA CABEÇA.
MAS ELA É ÚTIL PARA TRANSFERIR OS VOTOS DO LULA.

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