sexta-feira, dezembro 01, 2006

Uruguai, o surpreendente vizinho pacato

Um belo dia você descobre que aquele seu vizinho, todo formal e discreto, é um sujeito agradabilíssimo. Também será assim se você atravessar a fronteira

Acredite se quiser, mas a Ilha de Caras foi inspirada em Punta del Este. O chefão da revista Caras, um argentino, queria no Brasil um lugar onde os ricos e famosos se reunissem no verão. Criou a ilha que hospeda celebridades em Angra dos Reis. É, mas a Punta original é maior e melhor. Tem praias de rio e de mar, você escolhe a sua praia ao sair do Hotel. Para a direita ou para esquerda? E também dois cassinos. Agora, se a ilha foi inspirada na praia uruguaia, Montevidéu só existe por causa do Brasil.
Quando a cidade começou a ser construída, em 1726, a região era conhecida dos espanhóis havia dois séculos. Mas a região, apesar de bela, não interessava economicamente. Mas foram só os portugueses erguerem uma cidade-colônia às margens do Rio Prata, nas barbas de Buenos Aires que eles trataram logo de registrar as terras. E por extensão, surgiu também a República Oriental do Uruguai, assim chamada por ficar ao lado do Rio Uruguai.
Em todas estas terras e no resto do país, a marca registrada é o mate, o nosso chimarrão. Cada um dos três milhões de moradores do país consome por ano 7 quilos da erva. Em qualquer lugar, tanto na fila do banco quanto nas ramblas, as avenidas que beiram as praias do rio Prata em Montevidéu. Ou, ainda no prédio do Congresso, considerado pela Unesco um dos cinco parlamentos mais elegantes do planeta. Com o termo em mãos, o povo uruguaio é cordial é prestativo. Quer saber onde fica aquele restaurante para apreciar um contra-filé (o entrecot), considerado, com justa razão, o melhor do planeta? Pois o cavalheiro uruguaio, educadíssimo, trajando impecável cachecol de lã, fará questão de levá-lo até a porta, em passos serenos. Toda esta fidalguia tem explicação: o Uruguai atravessou a primeira metade do século 20 nadando em dinheiro, graças a exportação de carne para Europa em guerra e investindo forte em educação.
A verdade, é que sabemos pouco sobre este país. Quem manda ele ser tão discreto? Caminhar por Montevidéu é descobrir uma metrópole toda arborizada e repleta de parques, vários deles criados pelo ousado especulador Jose Buschentahl. Pouco sabemos também sobre os artistas do país. Um de fama internacional, Carlos Paéz Villaró, apreciador das mulheres e da boa bebida era um grande amigo de Vinícius de Moraes e, como um andarilho, teve ateliê em Nova York, um harém na África e uma casa em Indaiatuba, interior de são Paulo. Estas são apenas nuances deste povo e deste país, que apesar de pequeno, um pouco menor que o Paraná, guarda em seu cotidiano muito para deslumbrar quem o visita.

Nenhum comentário: