"Aparelhei o barco da ilusão e reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho,e traiçoeiro o mar..."
Miguel Torga (1907-1995)
Após as tempestades e ciclones que se formaram na cauda dos escândalos que tanta indignação provocaram no País, é inusitado assistirmos o presidente Lula atuando e fazendo uso de todo o sofisticado instrumental de que dispõe na esperança de cooptar a oposição.
Essa tentativa de neutralizar as forças oposicionistas produz perplexidade e semeia dúvidas na população brasileira. No seu devaneio de fim de 1° mandato, Sua Excelência conclama para que a oposição se estabeleça só a partir de 2010. A palavra de ordem é a convergência, contrapondo-se aos embates que caracterizaram a sua primeira gestão.
A babel administrativa e política não foi uma obra nem um engenho oposicionista. Ela foi concebida e articulada por próceres do partido e homens da confiança do presidente da República.
A nação precisa e não pode abrir mão, sob qualquer pretexto, de uma oposição afirmativa e responsável que denuncie e sinalize os caminhos de correção do governo. A esse respeito não me canso de repetir que a oposição deve ser os olhos críticos do presidente, alertando-o diante dos eventuais descaminhos.
Foi aberta a temporada para "atrair" aqueles que militam na oposição democrática. O governo, ao convocar a oposição, sustenta a tese da adesão com a governabilidade, tentando atrelar conceitos e estabelecer condicionalidades inexistentes. Seria um contra-senso – uma sandice mesmo – tentar vincular a manutenção das condições objetivas para o exercício do poder político com a ausência de oposição.
A governabilidade não pressupõe unanimidade política, seja qual for o contexto histórico invocado, nem admite ser sustentada pelo adesismo fácil e muito menos pelo fisiologismo. Instaurar artificialmente essa ambiência é uma quimera que fatalmente mostraria suas rachaduras diante do primeiro obstáculo na esfera política ou gerencial.
É frágil e inconsistente o movimento em curso de implantar a governabilidade de uma nota só, da omissão, da ausência da autoridade, da inexistência de crítica e de oposição, a governabilidade do amém de todos os momentos, de todas as horas. Definitivamente o Brasil não merece esse estado de coisas.
Se a oposição se rendesse aos moldes da capitulação proposta estaria convalidando a tese de que as eleições absolveram o governo de todos os pecados cometidos e crimes praticados e de toda a corrupção havida.
O inesquecível Nelson Rodrigues cunhou a célebre frase "toda unanimidade é burra". O atual governo nos transmite a sensação de que pretende reescrever a história sob parâmetros próprios e reinventar a roda.
Sabemos que o único cenário capaz de abrigar a unanimidade no estilo preconizado pelo presidente Lula é o da concordância míope e do silêncio sepulcral. É inconcebível governar sem haver questionamentos.
O presidente vem fazendo adaptações visíveis até mesmo no seu arsenal retórico. Na sua última fala em evento público – a posse da nova diretoria da Confederação Nacional da Indústria (CNI) –, ao reiterar as três metas para o segundo mandato (desenvolver a economia do País, aumentar a distribuição de renda e proporcionar educação de qualidade), arrematou dizendo: "essas coisas vão acontecer, só não queremos vender ilusões porque o discurso se vê na prática".
O presidente está irreconhecível fazendo alusão ao real – sem trocadilhos – e por acréscimo desconjurando a utopia. A unanimidade que se busca é leve e insustentável.
Era longe o meu sonho,e traiçoeiro o mar..."
Miguel Torga (1907-1995)
Após as tempestades e ciclones que se formaram na cauda dos escândalos que tanta indignação provocaram no País, é inusitado assistirmos o presidente Lula atuando e fazendo uso de todo o sofisticado instrumental de que dispõe na esperança de cooptar a oposição.
Essa tentativa de neutralizar as forças oposicionistas produz perplexidade e semeia dúvidas na população brasileira. No seu devaneio de fim de 1° mandato, Sua Excelência conclama para que a oposição se estabeleça só a partir de 2010. A palavra de ordem é a convergência, contrapondo-se aos embates que caracterizaram a sua primeira gestão.
A babel administrativa e política não foi uma obra nem um engenho oposicionista. Ela foi concebida e articulada por próceres do partido e homens da confiança do presidente da República.
A nação precisa e não pode abrir mão, sob qualquer pretexto, de uma oposição afirmativa e responsável que denuncie e sinalize os caminhos de correção do governo. A esse respeito não me canso de repetir que a oposição deve ser os olhos críticos do presidente, alertando-o diante dos eventuais descaminhos.
Foi aberta a temporada para "atrair" aqueles que militam na oposição democrática. O governo, ao convocar a oposição, sustenta a tese da adesão com a governabilidade, tentando atrelar conceitos e estabelecer condicionalidades inexistentes. Seria um contra-senso – uma sandice mesmo – tentar vincular a manutenção das condições objetivas para o exercício do poder político com a ausência de oposição.
A governabilidade não pressupõe unanimidade política, seja qual for o contexto histórico invocado, nem admite ser sustentada pelo adesismo fácil e muito menos pelo fisiologismo. Instaurar artificialmente essa ambiência é uma quimera que fatalmente mostraria suas rachaduras diante do primeiro obstáculo na esfera política ou gerencial.
É frágil e inconsistente o movimento em curso de implantar a governabilidade de uma nota só, da omissão, da ausência da autoridade, da inexistência de crítica e de oposição, a governabilidade do amém de todos os momentos, de todas as horas. Definitivamente o Brasil não merece esse estado de coisas.
Se a oposição se rendesse aos moldes da capitulação proposta estaria convalidando a tese de que as eleições absolveram o governo de todos os pecados cometidos e crimes praticados e de toda a corrupção havida.
O inesquecível Nelson Rodrigues cunhou a célebre frase "toda unanimidade é burra". O atual governo nos transmite a sensação de que pretende reescrever a história sob parâmetros próprios e reinventar a roda.
Sabemos que o único cenário capaz de abrigar a unanimidade no estilo preconizado pelo presidente Lula é o da concordância míope e do silêncio sepulcral. É inconcebível governar sem haver questionamentos.
O presidente vem fazendo adaptações visíveis até mesmo no seu arsenal retórico. Na sua última fala em evento público – a posse da nova diretoria da Confederação Nacional da Indústria (CNI) –, ao reiterar as três metas para o segundo mandato (desenvolver a economia do País, aumentar a distribuição de renda e proporcionar educação de qualidade), arrematou dizendo: "essas coisas vão acontecer, só não queremos vender ilusões porque o discurso se vê na prática".
O presidente está irreconhecível fazendo alusão ao real – sem trocadilhos – e por acréscimo desconjurando a utopia. A unanimidade que se busca é leve e insustentável.
Senador Alvaro Dias, líder da Oposição e vice-presidente nacional do PSDB
sexta-feira, 01 de dezembro de 2006
sexta-feira, 01 de dezembro de 2006
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