
Inteligentemente, o Partido Comunista Francês se aproveitava desse costume para mobilizar seus militantes em torno da colheita, cuja renda revertia integralmente para os seus cofres. Segundo informações do próprio PCF, em 2004 a colheita teria produzido um milhão de pequenos vasos, que teriam gerado uma receita de Є$ 1,5 milhão de euros (R$ 5,4 milhões de reais).
Tudo muito bonito e poético, não fosse a revista francesa "Capital" resolver ouvir um especialista no cultivo de gipsófila que garantiu ser impossível colher tantas flores em tempo tão exíguo. Diante dessa informação, e depois de minuciosa investigação, reportagem de capa da edição de fevereiro de 2004 concluía que a gipsófila era, simplesmente, a mais poética das formas de se lavar dinheiro sujo.
Tipicamente francês, eu diria. Afinal, foi um conterrâneo, o moralista La Rochefoucauld, quem cunhou a famosa expressão "a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude".

Hoje, porém, os escrúpulos foram mandados às favas, optando-se pelo cinismo debochado, pelo escracho escancarado, pela esculhambação desabrida. Não há mais preocupação sequer com as aparências, apenas com os resultados.
A eleição presidencial deste ano teve uma escandalosa quantidade de vícios que macularam o processo eleitoral, distribuindo benesses claramente programadas e agendadas com esse objetivo.

Ou terá sido coincidência a antecipação para setembro do pagamento de metade do 13º salário dos aposentados e pensionistas do INSS?
Ou terá sido coincidência a concessão de reajustes a mais de 110 mil servidores públicos, a um custo de R$ 5,2 bilhões, inclusive atropelando critérios como o da equivalência salarial com o setor privado?
Ou terá sido coincidência a ampliação do Bolsa-Família, cujo número de beneficiárias passou de 8,3 milhões para 11,1 milhões só neste ano?

Voltando aos franceses, era neles que pensava o guru petista Carlito Maia quando dizia "quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita". Felizmente, seis meses antes do início da era Lula ele preferiu juntar-se aos seus velhos amigos Henfil e Betinho. Privou-se do desconforto de ver confirmadas as suas imprecações contra a esquerda francesa justamente pelas mãos dos seus fiéis companheiros, a quem doara a criação do slogan “oPTei”.
Se vivo fosse, certamente desoptaria, por coerência e aversão à hipocrisia.
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