O prefeito do Rio, Cesar Maia: oposição tem de ser oposição
O prefeito do Rio, Cesar Maia, é um dos principais estrategistas do PFL. Foi ele quem redigiu um documento, debatido pelo PFL na semana passada, que tratava da criação de uma espécie de gabinete paralelo do partido para acompanhar as ações do governo Lula. Em entrevista ao Blog, ele fala sobre como deve atuar o seu partido: “A obrigação da oposição é fazer oposição. À medida que uma projeção aponte nesta ou naquela direção, o PFL deve antecipar cenários. É sempre um risco para quem projeta.” A intenção é não baixar a guarda. O partido vai disputar a presidência do Senado e, ontem, derrotou o governo na indicação de um nome para o TCU (ver abaixo). Segundo Maia, há espaço para um partido conservador no país — mas não para um “liberal”. Indago se o PFL seria essa legenda. Ele dá uma resposta curiosa. Para ele, seu partido ideal é “social-democrata nos fins, liberal nos meios e conservador no discurso”. Segue a entrevista:
Blog - Os senhores debateram um documento no PFL que fala na criação de “uma espécie de governo paralelo”, porém sem titulares. O que isso significa exatamente?
Cesar Maia - Com o novo Congresso, os parlamentares do PFL, nas comissões, passarão a funcionar como ministros na sombra, no tema da comissão de que fizerem parte.
Blog - Mas a idéia é sempre tornar pública uma alternativa quando não houver consenso? Qual seria o meio apropriado para fazê-lo?
Maia - Sim. Os parlamentares têm liberdade para isso. Mas a Executiva só oficializará aquelas que forem aprovadas. Lembro que a executiva do PFL se reúne religiosamente às quintas-feiras, às 9hs.
Blog - Lula tenta deslocar as funções próprias do Congresso para uma espécie de fórum de governadores. Isso é viável?
Maia - Lula não vai tirar do Executivo o poder de arbitragem que tem num primeiro ano de governo.
Blog - Mas um fórum de governadores é ou não possível?
Maia - Não. Agora, os governadores do Sudeste vão se reunir para tentar atrair o foco para seu vértice. Lula não vai entrar nessa. Até porque dois deles – Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Paulo Hartung (PMDB-ES) – dependem muito do governo federal.
Blog - Li o documento que a direção do partido debateu. Nele, consta que o PFL, caso anteveja que o governo Lula será um desastre, deve antecipar as suas ações. Em que essa postura se distingue do simples oportunismo político?
Maia - A obrigação da oposição é fazer oposição. À medida que uma projeção aponte nesta ou naquela direção, o PFL deve antecipar cenários. É sempre um risco para quem projeta.
Blog - O PSDB diz que vai apoiar a candidatura do PFL à presidência do Senado. Mas eu não percebo grande entusiasmo entre os tucanos. Eu estou errado?
Maia - Com a aproximação de vitória, todos ficarão entusiasmados.
Blog - O sr, nota ímpeto oposicionista o bastante no PSDB?
Maia - O processo do PSDB é mais lento, mas vai chegar lá. O PFL é federado, com delegação à Executiva Nacional, e decide com maior rapidez.
Blog - O PT está numa cruzada contra o que chama “mídia conservadora”. Como vê a questão?
Maia - É tudo muito parecido com Chávez. Não quer oposição nem crítica.
Blog - E por que os mercados parecem gostar tanto de um como de outro?
Maia - Os mercado gostam do que o governo Lula tem feito em matéria monetária, mas preferem outro em quem possam confiar sem precisar de sistema de inteligência do lado.
Blog - O governo usa, hoje, de forma descarada, a verba publicitária do governo federal e das estatais para premiar os amigos, os áulicos, os puxa-sacos. Não é o caso de a oposição botar a boca no trombone? Por que a reação é tão tímida?
Maia - É o caso de acompanhar a legislação européia e dos EUA e acabar com publicidade de governo.
Blog - O PFL teria coragem de iniciar um debate nacional para extinguir a publicidade oficial?
Maia - Como PFL, não creio. Mas os seus parlamentares têm liberdade para isso. Aliás, há uma um PL do deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) tramitando. Basta apoiá-lo.
Blog - Eu poderia fazer aqui o elenco de diversas opiniões consolidadas do eleitorado brasileiro que o colocariam no que a ciência política chamaria “campo conservador”. Por que parece haver certa vergonha de um partido como o PFL assumir esse caráter conservador?
Maia - As idéias conservadoras são populares — lei, ordem, família, costumes. Impopulares são as idéias liberais.
Blog - Faça, então, a distinção entre o que sr. chama de “idéias conservadoras” e “idéias liberais”. Liberais, nesse contexto, a exemplo do que se dá nos EUA, confunde-se com politicamente corretas, esquerdizantes?
Maia - As idéias liberais, usando a palavra “liberal” a nosso modo, e não ao norte-americano, passam longe da população: império das empresas, favores ao capital estrangeiro etc. É assim que o eleitor percebe as idéias liberais. O PFL procura colar liberdade à cidadania (Liberdade e Cidadania pode ser o novo nome de sua Fundação), de forma a dar outra conotação: acesso das pessoas a direitos fundamentais, mobilidade social, defesa do consumidor, redução de tributos...
Blog - É possível haver um grande partido conservador no Brasil?
Maia - Certamente. Liberal é que não.
Blog - O PFL pode vir a ser esse partido? Por quê?
Maia - Prefiro um partido de centro: social-democrata nos fins, liberal nos meios, e conservador no discurso.
Blog - A crítica do PFL, na que diz respeito à macroeconomia, não é amplamente insuficiente?
Maia - A questão macroeconômica é uma armadilha. Ela é derivada e não matriz.
Blog - E qual é a matriz?
Maia - A matriz, no nosso caso, é a segurança jurídica, conforme expliquei no ex-blog desta quarta-feira.
Blog - Se o BC tivesse reduzido a taxa de juros em 1,5 ponto na última reunião do Copom, além de muita fofoca e de eventuais protestos dos monopolistas de títulos da dívida — e espernear é um direito —, que efeito ruim poderia haver na economia?
Maia - Não sei. O PT incorpora uma taxa de risco difícil de precisar. O conservadorismo deles em matéria de juros tem como razão os riscos que a ausência de projetos e nenhuma visão estratégica do governo Lula incorporam. O PT é o lobo do PT!
O prefeito do Rio, Cesar Maia, é um dos principais estrategistas do PFL. Foi ele quem redigiu um documento, debatido pelo PFL na semana passada, que tratava da criação de uma espécie de gabinete paralelo do partido para acompanhar as ações do governo Lula. Em entrevista ao Blog, ele fala sobre como deve atuar o seu partido: “A obrigação da oposição é fazer oposição. À medida que uma projeção aponte nesta ou naquela direção, o PFL deve antecipar cenários. É sempre um risco para quem projeta.” A intenção é não baixar a guarda. O partido vai disputar a presidência do Senado e, ontem, derrotou o governo na indicação de um nome para o TCU (ver abaixo). Segundo Maia, há espaço para um partido conservador no país — mas não para um “liberal”. Indago se o PFL seria essa legenda. Ele dá uma resposta curiosa. Para ele, seu partido ideal é “social-democrata nos fins, liberal nos meios e conservador no discurso”. Segue a entrevista:
Blog - Os senhores debateram um documento no PFL que fala na criação de “uma espécie de governo paralelo”, porém sem titulares. O que isso significa exatamente?
Cesar Maia - Com o novo Congresso, os parlamentares do PFL, nas comissões, passarão a funcionar como ministros na sombra, no tema da comissão de que fizerem parte.
Blog - Mas a idéia é sempre tornar pública uma alternativa quando não houver consenso? Qual seria o meio apropriado para fazê-lo?
Maia - Sim. Os parlamentares têm liberdade para isso. Mas a Executiva só oficializará aquelas que forem aprovadas. Lembro que a executiva do PFL se reúne religiosamente às quintas-feiras, às 9hs.
Blog - Lula tenta deslocar as funções próprias do Congresso para uma espécie de fórum de governadores. Isso é viável?
Maia - Lula não vai tirar do Executivo o poder de arbitragem que tem num primeiro ano de governo.
Blog - Mas um fórum de governadores é ou não possível?
Maia - Não. Agora, os governadores do Sudeste vão se reunir para tentar atrair o foco para seu vértice. Lula não vai entrar nessa. Até porque dois deles – Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Paulo Hartung (PMDB-ES) – dependem muito do governo federal.
Blog - Li o documento que a direção do partido debateu. Nele, consta que o PFL, caso anteveja que o governo Lula será um desastre, deve antecipar as suas ações. Em que essa postura se distingue do simples oportunismo político?
Maia - A obrigação da oposição é fazer oposição. À medida que uma projeção aponte nesta ou naquela direção, o PFL deve antecipar cenários. É sempre um risco para quem projeta.
Blog - O PSDB diz que vai apoiar a candidatura do PFL à presidência do Senado. Mas eu não percebo grande entusiasmo entre os tucanos. Eu estou errado?
Maia - Com a aproximação de vitória, todos ficarão entusiasmados.
Blog - O sr, nota ímpeto oposicionista o bastante no PSDB?
Maia - O processo do PSDB é mais lento, mas vai chegar lá. O PFL é federado, com delegação à Executiva Nacional, e decide com maior rapidez.
Blog - O PT está numa cruzada contra o que chama “mídia conservadora”. Como vê a questão?
Maia - É tudo muito parecido com Chávez. Não quer oposição nem crítica.
Blog - E por que os mercados parecem gostar tanto de um como de outro?
Maia - Os mercado gostam do que o governo Lula tem feito em matéria monetária, mas preferem outro em quem possam confiar sem precisar de sistema de inteligência do lado.
Blog - O governo usa, hoje, de forma descarada, a verba publicitária do governo federal e das estatais para premiar os amigos, os áulicos, os puxa-sacos. Não é o caso de a oposição botar a boca no trombone? Por que a reação é tão tímida?
Maia - É o caso de acompanhar a legislação européia e dos EUA e acabar com publicidade de governo.
Blog - O PFL teria coragem de iniciar um debate nacional para extinguir a publicidade oficial?
Maia - Como PFL, não creio. Mas os seus parlamentares têm liberdade para isso. Aliás, há uma um PL do deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) tramitando. Basta apoiá-lo.
Blog - Eu poderia fazer aqui o elenco de diversas opiniões consolidadas do eleitorado brasileiro que o colocariam no que a ciência política chamaria “campo conservador”. Por que parece haver certa vergonha de um partido como o PFL assumir esse caráter conservador?
Maia - As idéias conservadoras são populares — lei, ordem, família, costumes. Impopulares são as idéias liberais.
Blog - Faça, então, a distinção entre o que sr. chama de “idéias conservadoras” e “idéias liberais”. Liberais, nesse contexto, a exemplo do que se dá nos EUA, confunde-se com politicamente corretas, esquerdizantes?
Maia - As idéias liberais, usando a palavra “liberal” a nosso modo, e não ao norte-americano, passam longe da população: império das empresas, favores ao capital estrangeiro etc. É assim que o eleitor percebe as idéias liberais. O PFL procura colar liberdade à cidadania (Liberdade e Cidadania pode ser o novo nome de sua Fundação), de forma a dar outra conotação: acesso das pessoas a direitos fundamentais, mobilidade social, defesa do consumidor, redução de tributos...
Blog - É possível haver um grande partido conservador no Brasil?
Maia - Certamente. Liberal é que não.
Blog - O PFL pode vir a ser esse partido? Por quê?
Maia - Prefiro um partido de centro: social-democrata nos fins, liberal nos meios, e conservador no discurso.
Blog - A crítica do PFL, na que diz respeito à macroeconomia, não é amplamente insuficiente?
Maia - A questão macroeconômica é uma armadilha. Ela é derivada e não matriz.
Blog - E qual é a matriz?
Maia - A matriz, no nosso caso, é a segurança jurídica, conforme expliquei no ex-blog desta quarta-feira.
Blog - Se o BC tivesse reduzido a taxa de juros em 1,5 ponto na última reunião do Copom, além de muita fofoca e de eventuais protestos dos monopolistas de títulos da dívida — e espernear é um direito —, que efeito ruim poderia haver na economia?
Maia - Não sei. O PT incorpora uma taxa de risco difícil de precisar. O conservadorismo deles em matéria de juros tem como razão os riscos que a ausência de projetos e nenhuma visão estratégica do governo Lula incorporam. O PT é o lobo do PT!
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