segunda-feira, novembro 06, 2006

Fiesp tenta vender hotel inativo que custou 32 mi


Os jornais de São Paulo publicaram na última terça-feira (31/10) um inusitado anúncio imobiliário. A peça exibida acima saiu no primeiro caderno da Folha. Oferece à venda ou arrendamento um complexo hoteleiro com 128 apartamentos e 12 bangalôs. A propaganda omite o nome do proprietário. Anota apenas o endereço: Avenida Paulista, número 1313. Ali funciona a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Além do nome do vendedor, o anúncio esconde o histórico de um descalabro administrativo. O Hotel que se pretende comercializar é, na verdade um mico. Foi erguido em 1992. Está pronto, portanto, há 14 anos. Mas jamais recebeu um mísero hóspede. Tornou-se um elefante branco às margens do Rio Paraná, no município paulista de Presidente Epitácio, divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul.

O complexo inativo custou US$ 15 milhões –R$ 32,1 milhões a valores de hoje. O dinheiro saiu dos cofres do Sesi (Serviço Social da Indústria). Significa dizer que é verba do trabalhador, recolhida da folha salarial das empresas e entregue aos cuidados do baronato sindical. Deveria produzir benefícios ao trabalhador. Mas patrocina também ruínas como o de Presidente Epitácio.

As entidades patronais costumam apelidar de "parafiscal" o dinheiro do chamado “Sistema S”, do qual o Sesi faz parte. Trata-se, porém, de dinheiro público, sujeito inclusive à fiscalização do TCU (Tribunal de Contas da União). O hotel que a Fiesp tenta vender é um dos exemplos mais eloqüentes da malversação que vem caracterizando há anos a gestão desse tipo de verba.

Não é a primeira vez que a Fiesp tenta passar adiante o mico de Presidente Epitácio. Sob Horácio Lafer Piva, antecessor de Paulo Skaf, atual presidente da entidade, o complexo hoteleiro já havia sido posto à venda. Embora tivesse custado mais de três dezenas de milhões de reais, Lafer Piva dispunha-se a negociá-lo até por R$ 8 milhões. Não houve, porém, quem quisesse comprar.

Além de quartos e bangalôs inteiramente mobiliados, há na propriedade um restaurante, um bar, uma lavanderia, piscinas, ginásio coberto, campo de futebol em tamanho oficial, quatro quadras de tênis, quatro quadras poliesportivas, camping para 100 barracas e 28 trailers equipados. Como se fosse pouco, há também um núcleo de pesca com 50 barcos motorizados, frigorífico, ancoradouro e churrasqueira. Tudo às moscas.

A Fiesp tem razões de sobra para tentar vender a encrenca. A manutenção das instalações tornou-se um sorvedouro de dinheiro. O custo da empreitada é um segredo guardado a sete chaves. Embora pareça um negócio de ocasião, o hotel não atrai compradores por razões óbvias. Não há em Presidente Epitácio nenhum atrativo turístico que justifique o investimento.

Lula anuncia desde o primeiro mandato a intenção de promover uma reforma na legislação trabalhista. Às portas do segundo mandato, o tema volta à tona. A gestão das verbas de entidades como Sesi, Senai, Sesc e Senac é um tema obrigatório numa reforma do gênero. Há coisas boas no sistema. Por exemplo: a rede de escolas que deu a Lula, ex-aluno do Senai, o diploma de torneiro mecânico. Mas também há fartos exemplos de malfeitorias.

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