quarta-feira, novembro 15, 2006

Emir, o nosso Diderot!

Também não quero que vocês fiquem com uma falsa impressão da editora Ivana Jinkings e do companheiro Emir Sader. Eles são capazes de obras bem maiores, de projetos marcados pela monumentalidade. A editora Boitempo, de Ivana, lançou, no mês passado, um trabalho coordenado pelo LPP (Laboratório de Políticas Públicas), de Sader, a Latinoamericana Enciclopédia Contemporânea. Assim, sem hífen, porque os coordenadores do projeto dizem que isso nos aproxima mais da América espanhola... Santo Deus! Por que não, então, botar o hífen no espanhol, rá, rá, rá? A apresentação informa que são 1.460 páginas, 980 verbetes, 1.040 fotos, 99 mapas, 80 tabelas, 46 fichas com dados gerais sobre cada país da região. Custa 190 mangos. Uma injustiça. Deveria ser distribuída de graça, nem que fosse para servir de banquinho. O projeto foi regiamente patrocinado pelas seguintes empresas:

- Petrobrás

- Eletrobrás
- BNDES
- Caixa Econômica Federal
- Banco do Brasil

Só o trabalho de coordenação disso tudo custou R$ 750 mil. Não é uma acusação, mas uma constatação. Rigor intelectual custa caro. Vocês pensam que é fácil contar a história da esquerda? Não é, não. É trabalho que não acaba mais. É mais fácil contar os cadáveres. Numa entrevista ao site Carta Maior*, sempre ele!, Ivana (foto) conta a sua sofrida luta na resistência. Leiam: “Acredito que a Boitempo vem contribuindo de forma importante para a ampliação do debate de idéias, num tempo em que a auto-ajuda, esotéricos e obras sobre governança empresarial, marketing e qualidade total inundam as prateleiras das livrarias e as páginas dos cadernos culturais. Não são poucas as dificuldades que a monopolização e a globalização do mercado editorial significam para editoras independentes e críticas como a Boitempo, na distribuição e na divulgação. Sem atalhos, estamos construindo um catálogo que não fez e não faz nenhuma concessão ao 'mercado', não transigimos na linha escolhida e acreditamos que há espaço e há público para obras de qualidade”. Eu proponho o troféu Mártir Editorial do Ano para Ivana. Ivana pode contar sempre com a Petrobrás, a Eletrobrás, o BNDES, a CEF e o Banco do Brasil para resistir ao mercado. Coragem!

Na apresentação, ela alerta: “[...] Os ensaios e verbetes assinados são de responsabilidade dos seus autores. Os textos foram editados, revisados, confrontados, mas procuramos manter sempre o estilo e principalmente a linha argumentativa e a opinião de cada um, o que faz que esta seja, essencialmente, uma enciclopédia de ensaístas. Não nos eximimos, porém, de eventuais erros ou imprecisões de conteúdo. Apesar dos esforços em conferir cada informação, é possível que tenhamos falhado em algum ou mais de um momento. Localizado, todo e qualquer erro será corrigido nas próximas edições. [...]”

Huuummm. Lerei com cuidado. Trabalho muito. Não perco uma chance de me divertir. No trecho acima, já há um primeiro tropeço na regência. Se, pela pegada, conhecemos o gigante, dá para imaginar o que vem nas outras 1.459 páginas.

*Um verdadeiro antro (sic) de "jornalismo isento"!

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