terça-feira, abril 29, 2008

GOVERNOS SIAMESES: O KIRCHNER E LULA - O MESMO MÉTODO, O MESMO ESTILO!

Trechos da coluna dominical no La Nacion, de Mariano Grondona (foto), jornalista sênior: "O Que é Pior, Enganar o Enganar-se?”.

1. Os discursos incessantes da Presidenta nos dão uma pista de seus pensamentos. A mídia está registrando, nesse sentido, uma inquietante distancia entre as palavras de Cristina e os dados da realidade. Ela acaba de dizer, por exemplo, que seu governo e o de seu marido é um primeiro “bom governo” que teve a Argentina independente em seus 200 anos de história.

2. Dizia Maquiavel que o que quer enganar sempre encontrará os que querem ser enganados. As palavras de Cristina e seus acólitos são apenas casos de abuso de propaganda destinada à parte menos informada da sociedade, aos milhões de “clientes" de uma vasta rede de cooptação, ou refletem algo mais profundo? Há, nos Kirchner, unicamente um projeto deliberado de manipulação ou, por detrás dele, gravita uma falha de sua própria percepção que os tem não mais como inculpados do que dizem, mas sim como vítima dos que pensam? Reduz-se tudo, por ventura, a seguir esse maestro da propaganda, que foi Joseph Goebbels, quando dizia “minta, minta, que algo fica”, ou o desdobramento da propaganda oficial traduz autênticos erros diante da incômoda realidade.

3. Ao distorcer a realidade, o governo dos Kirchner não apenas desinforma as massas que o seguem; prejudica-se também a si mesmo. Apenas um caso. A Presidente acredita ser uma grande oradora. É para muitos evidente, no entanto, que suas exaltadas arengas, em lugar de beneficiá-la, a prejudicam. Foi por este efeito “bumerangue” que seus assessores a aconselharam a falar menos. E é evidente também que parte da crispação que hoje agita principalmente as classes médias urbanas, e não apenas o campo, se deve às atuações discursivas da Presidenta. Mas ela insiste. Nos encontramos aqui diante de um excesso da propaganda destinada a terceiros ou diante de um próprio erro de percepção?

4. Quando a Presidenta investe contra a mídia, não aflora aqui também um preconceito ideológico contra as expressões livres do jornalismo, cujos meios, até ontem menos hostis, já começam a dar-lhe as costas? A que se deve, em todo o caso, que nem Nestor, nem Cristina não hajam jamais concedido entrevistas coletivas à imprensa habituais nos países democráticos?

5. De certa maneira, os preconceitos do Governo, tão visíveis frente ao campo, ao jornalismo independente, às Forças Armadas e à Igreja, são ainda graves do que as pressões da propaganda oficial, porque, enquanto o que engana deliberadamente conhece a realidade que oculta, o preconceito a ignora porque seus próprios antolhos não lhe deixam ver. Aqui é precisamente onde, enquanto o que engana o faz com conhecimento, o que se auto-engana passa a ser não só a vítima de sua audiência, mas também a vítima de suas próprias preconcepções.

6. O que é pior, então, ganhar mediante a propaganda, ou enganar-se pelos preconceitos? Moralmente, talvez a propaganda seja pior, pois é afluente do cinismo. Porém, o cínico conhece pelo menos seu erro e, se emendar-se moralmente, poderia superá-lo. O preconceituoso desconhece ao contrário qual é o mecanismo de distorção que opera em suas entranhas. Que poderia, nesse caso, corrigi-lo? Como escutará os que querem ajudá-lo a ver as coisas como são, se seus preconceitos o levam a suspeitar que esses mesmos que querem
ajudá-lo são precisamente seus inimigos?

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