sábado, janeiro 20, 2007

Investidores sabem separar Brasil da Venezuela, diz van Agtmael

Fundador do conceito "mercados emergentes", o gestor de investimentos Antoine van Agtmael diz que influência do líder venezuelano deve espantar apenas recursos destinados à própria Venezuela e seus aliados

Por Larissa Santana

Com o peso de quem poderia tirar, de um minuto para o outro, 2 bilhões de dólares do Brasil, o economista Antoine van Agtmael acredita falar pela maioria dos investidores estrangeiros ao garantir que a economia brasileira não será abalada por Hugo Chávez. Nos primeiros dias de 2007, o líder venezuelano deu o tom de seu próximo mandato ao trombetear a intenção de nacionalizar empresas dos setores de telefonia e energia e ao ampliar sua influência na América Latina com a posse do aliado Rafael Correa, no Equador. As ações de Chávez já vinham mantendo os investidores com um pé para fora da Venezuela, mas agora provocam o temor de que seu efeito repelente se alastre por todos os países latinos, incluindo o Brasil – uma previsão rechaçada de bate-pronto por van Agtmael, dono de uma experiência de 30 anos no trabalho com mercados emergentes.

Fundador da Emerging Markets Management, empresa de investimento dos Estados Unidos que administra 20 bilhões de dólares, van Agtmael é o pai do termo "mercados emergentes", cunhado quando o economista trabalhava na International Finance Corporation, braço de investimento privado do Banco Mundial. Ele acredita que países como os do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), além de México e Chile, continuam sendo a bola da vez na economia mundial – fato comprovado pela força que suas empresas vêm mostrando – e nem mesmo os gritos de Chávez farão os investidores se esquecerem disso. Foi o que disse van Agtmael em entrevista concedida ao Portal EXAME, poucos dias depois do lançamento de seu novo livro The Emerging Markets Century, publicado nos Estados Unidos na segunda semana de janeiro de 2007.

PORTAL EXAME – A economia brasileira está forte o suficiente para resistir a possíveis temores de investidores quanto às decisões de Hugo Chávez na Venezuela?

ANTOINE VAN AGTMAEL - Eu acho que há seis fatores que influenciam a América Latina: petróleo, China, juros, biocombustíveis, Chávez e a economia global. Coloco Chávez em quinto lugar porque ele conseguiu adeptos em pequenos países, mas não enganou os grandes países. O México o rejeitou de forma muito clara nas últimas eleições. O Brasil o rejeitou de forma mais repentina sob o governo de Lula. Então, podemos dizer que sua influência está contida.

PORTAL EXAME – Mas, ainda que contida, a influência de Chávez no continente pode afetar o investimento externo em mercados latino-americanos?

VAN AGTMAEL - Em países como Venezuela e Equador, sim. Na Argentina, os investidores estão cautelosos, mas por outros motivos. Não acredito que estejam mais preocupados quanto a Brasil, México. Mas vamos pensar de forma diferente: o que conta hoje não é apenas o poder das multinacionais e das corporações nos Estados Unidos, Europa e Japão. O que importa é o poder das empresas chinesas, coreanas, brasileiras, russas. Ou seja, mesmo que haja alguma preocupação no que chamamos de "ocidente", você verá que há novas multinacionais que pegarão essa oportunidade.

PORTAL EXAME - E por que elas teriam menos medo do que as do "ocidente"?

VAN AGTMAEL - Porque elas entendem melhor o ambiente latino-americano. Elas vêm desses mercados emergentes. Eu comecei minha empresa há 19 anos, com 20 milhões de dólares, e hoje administramos 20 bilhões de dólares em mercados emergentes. Eu vejo isso crescer cada vez mais, porque as pessoas reconhecem a mudança na economia global. Sabem que, em 25 anos, os mercados emergentes serão metade da economia global. Portanto essas pessoas querem estar lá, precisam estar lá. Haverá recuos ocasionais? Claro. Mas esta é a tendência, e não se pode lutar contra ela. Chávez vai ocasionalmente assustar investidores, de forma rápida, mas no fim os investidores vão perceber que a tendência é mais importante.

PORTAL EXAME – O Brasil poderia chegar a uma crise momentânea como a de 2002, antes da eleição de Lula?

VAN AGTMAEL - Isso só aconteceria se Lula começasse a nacionalizar grandes companhias. Eu acho que ele sabe que esse é um caminho suicida. Se isso acontecesse, então pessoas como eu ficariam com medo. Como investidor, você precisa fazer apostas e seguir suas convicções. Algumas vezes as convicções estão erradas, mas esta é a minha. Estou pessimista sobre Chávez ao pensar em países como Venezuela, Equador, possivelmente Colômbia e Peru, mas nada além disso.

PORTAL EXAME - O sucesso de companhias como Petrobras, Vale do Rio Doce, Aracruz e Embraer, destacado no seu livro como exemplo da força dos emergentes, mostra também que a economia brasileira está ficando mais resistente?

VAN AGTMAEL - Sim, finalmente. E isso demorou um pouco porque a economia estava no que poderíamos chamar de fora dos trilhos. As políticas econômicas que vinham sendo perseguidas eram, de alguma forma, ruins. Como resultado, o Brasil entrou em uma crise de dívida, não era tido como confiável pela comunidade internacional. Basicamente os responsáveis pelas políticas - Palocci [o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci] foi muito importante - entenderam que precisavam recuperar aquela confiança, e para isso, precisavam manter as taxas de juros altas e uma política monetária rígida. Agora a confiança, acredito, foi restaurada em grande extensão, interna e externamente.

PORTAL EXAME – Hoje a Emerging Markets Management possui 2 bilhões de dólares investidos no Brasil. Em quanto a empresa pretende ampliar esse montante?

VAN AGTMAEL - Nós não temos essas metas, porque elas dependem do que nossos clientes demandam. Minha visão geral sobre o Brasil é de que as taxas de juros devem cair gradualmente e a economia vai melhorar. Outro ponto positivo é que, por ter passado por tantas crises, o Brasil tem companhias competitivas em base global, além de um setor financeiro excelente. Os negativos são que o Brasil não tem alta tecnologia, à exceção da Embraer; e é altamente dependente de commodities e, como resultado, da China. Acho que, como porcentagem do nosso portfólio total, a probabilidade é de que o Brasil cresça até o fim deste ano, a menos que ocorra uma grande queda na demanda da China, que tem um impacto no preço de commodities.

Fonte aqui.

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