sábado, setembro 16, 2006

O MERCADOR DE HONRAS

Não é novidade para ninguém que acompanha meus artigos que sou contra o PT e suas farsas, contra sua incompetência administrativa, sua voracidade autofágica. Durante esses infames anos Lula fui, desde o início de sua gestão, uma contundente crítica. Em abril de 2003 eu publiquei um artigo com o nome: “Acomodados na pobreza”, em que eu já denunciava a farsa do Fome Zero e seu uso político. Nesse mesmo ano, 2003, um jornalista amigo meu que trabalha em Brasília me ligou contando um fato que ele havia presenciado por acaso. O então ministro Zé Dirceu, em uma reunião com alguns deputados de Mato Grosso (provavelmente os mensaleiros), tratando das eleições de 2006. Isso mesmo, em 2003 Zé Dirceu já negociava a sucessão daqui. Alguém da reunião disse que, para 2006, o PT teria Serys Marly para o governo. Foi quando Dirceu falou que Serys não fazia parte dos planos do PT. Isso levanta a suspeita de que um acordo entre o governador Blairo e o PT tenha sido tramado naquela época, provavelmente algum dos seus mensaleios fez a ponte para o entendimento. Serys nunca foi do Campo Majoritário, como Abicalil e Alexandre Cesar. Agora, fica mais claro o porquê de Carlos Abicalil não sair ao governo.
Onde quero chegar? Vamos lá.
O homem preso pela Polícia Federal com uma mala de dinheiro para negociar com a Planam é Valdebran Carlos Padilha da Silva, engenheiro civil (segundo ele), proprietário da empresa Saneng Saneamento e Construção Ltda. Mesmo assim, ele foi funcionário do gabinete do deputado federal Carlos Abicalil. Foi coordenador técnico da AMM (Associação dos Municípios de MT), é um conhecido lobista e financiador de campanhas do PT e foi financeiro de Alexandre Cesar em 2004, quando concorreu à prefeitura de Cuiabá.
Tanto a Saneng quanto a Planam constavam, pelo menos até o dia 18 de agosto de 2006, da relação de fornecedores ativos cadastrados no governo do Estado de Mato Grosso, ou seja, prestaram algum tipo de serviço, digamos assim, para o atual governo.
Quem é Luis Antonio Vedoin? Um salafrário que mesmo no meio desse escândalo todo teve a frieza de continuar negociando informações com outros mais porcarias ainda. Desta vez, Luis Antonio estava negociando honras.
Ora, mesmo não gostando do PT e sabendo de suas ligações escusas, não deixarei que a ira me tire o discernimento e o meu senso de justiça.
Não concordo com as idéias e ideais da senadora Serys, discordo veementemente do seu posicionamento diante das atitudes cometidas por integrantes do seu partido. É claro que ela não assumiu uma defesa que beira o ridículo, como Abicalil. Frustrei-me com seu desempenho no senado. Tudo isso é verdade, mas não me tapam os olhos a ponto de cometer injustiças.
Eu acredito nos princípios da pessoa Serys, acredito na sua integridade. E sei que suas atitudes têm os mesmos objetivos meus, apesar de termos visões diferentes de como alcançar um país melhor. Não é uma ingênua ou boba, mas tem integridade.
Não é de hoje que conheço Serys, conheço desde muito tempo. Desde o tempo em que ela morava perto do Cuiabá Tênis Clube e eu era apenas uma menina que, assim como sua filha, andava descalça pelas ruas do bairro. Mesmo sendo ainda uma menina e me importar com pouca coisa além da previsão do tempo, eu a observava e admirava a sua batalha, via nela a representação da força, era pra mim uma mulher guerreira. Talvez ela até tenha influenciado ou despertado em mim um senso crítico sem que eu tenha percebido. Anos depois, já crescida, fui sua aluna na UFMT. Foi nessa época que comecei a discordar de suas idéias. Mas sempre a respeitei pela sua integridade, que agora está sendo manchada pelas denúncias do quadrilheiro Vedoin. Não posso afirmar se o genro de Serys fez negócios com a empresa e usou o nome da sogra, não o conheço. Mas não acredito que deliberadamente ela tenha ordenado uma negociação com suas emendas.
O mesmo aconteceu com o senador Antero Paes de Barros, envolvido nesse escândalo pelo mercador de honras. Quem o pagou para isso? Ambos, Antero e Serys, são candidatos ao governo do Estado de Mato Grosso, concorrentes do atual governador que tem o apoio dos mensaleiros e sanguessugas do Estado, e que apoiou o PT em 2004, não o PT de Serys, mas o PT de Abicalil, Alexandre Cesar e Valdebran Padilha.
Não sei, mas algo me diz que por trás dessa sujeira toda existe mais um componente, algo que por hora chamo de “o dedo da mãe da miss”.

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ. Articulista do Jornal A Gazeta.

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