terça-feira, setembro 12, 2006

Carta da República café com leite

A Política do Café-com-Leite, ficou conhecida pela aliança que o Presidente Campos Sales com os 37 deputados federais mineiros, a maior bancada, devido a sua população. Esta aliança permitiu a burguesia cafeeira paulista controlar no âmbito nacional, a política monetária e cambial, a negociação no exterior de empréstimos para a compra das sacas de café excedentes, enfim, uma política de intervenção que garantia aos cafeicultores lucros seguros. Para Minas Gerais, o apoio a São Paulo garantia a nomeação dos membros da elite mineira para cargos na área federal e verbas para obras públicas, como a construção de ferrovias. Os paulistas e os mineiros ocupavam os cargos de Presidente da República e os ministérios da Justiça, das Finanças, da Agricultura, Vice Presidência etc.
As famílias oligúrias ocupavam os cargos de Governador do Estado, e as Secretárias das Finanças, da Educação e Saúde, a Prefeitura da Capital, a Chefia de Polícia Estadual, a Diretoria da Imprensa Oficial, a presidência dos Bancos Estaduais e da Assembléia Legislativa. Tal política, consolidou o poder das famílias ricas dos Estados formando as oligarquias. Em Minas: Cesário Alvim, Bias Fortes, Bueno Brandão, Afonso Pena, Francisco Sales, Artur Bernardes entre outras. Para integrar a oligarquia mineira contavam "os laços de família, educação e dinheiro" estando aberta aos indivíduos talentosos que formavam-se principalmente em Direito nas Universidades do Rio de Janeiro e São Paulo. De volta ao Estado, ele tornava-se promotor público, juiz, casava-se com moça da elite da cidade, podia tornar-se político elegendo-se vereador, prefeito e deputado. A oligarquia mineira controlava o poder através do Partido Republicano Mineiro. A lista dos candidatos era organizada pela Comissão Executiva do PRM que mandava os nomes para serem homologados pelo governador do Estado. Para integrar esta lista o candidato tinha ser da confiança dos chefes políticos da região, os coronéis, ou indicados pelo governo devido ao talento e cultura. Não havia lugar no Partido para os dissidentes que eram expulsos.
Assim, que leu a Carta do ex presidente, pode fazer uma conotação com tal período. FHC não surpreendeu ao selar a vitória de Lula em 2006, já que desde sua manifestação há 30 dias atrás, o ex-presidente demonstra seu descontentamento com a candidatura de Geraldo Alckmin. Para ele, o partido errou ao preterir José Serra, a quem julga mais preparado para o governo do país. Trata-se, na verdade de uma luta interna partidária de gerações e grupos políticos mal resolvida.
FHC é homem de peso na campanha de Alckmin. Tem grande potencia e alcance as suas opiniões, desde o futuro do partido, a acida manifestação da estratégia eleitoral tucana, denuncias de erros grosseiros no trato da questão Azeredo bem como a incompetente política de segurança pública da gestão Alckmin. Some-se tudo e o resultado é a liquidação da disputa Presidencial. É a estratégia de retirar-se agora e revigorar-se para a hegemonia do PSDB na sucessão de 2010.
Mas na verdade o impopular não é Alckmin, mas o legado FHC de oito anos de governo, incapaz de ser defendido por Alckmin. E não é só isso. O PSDB ainda terá que arrumar a casa e viabilizar a velha guarda tucana para um nome só. O que não acontece. Caso seja consolidada as pesquisas, o PSDB partirá com dois pólos em condições iguais de disputar a sucessão: Serra, no governo paulista, e Aécio Neves, no mineiro.
Aécio tem alto índice de intenções de voto no segundo maior colégio eleitoral. Com vocação para minimizar inimizades e manter diálogo estreito com Lula possibilita um horizonte maior de forças de escala nacional. É Aécio a pedra no caminho do ex-presidente. Sua a indicação, preterindo-se a de Serra para 2010 sepultaria de vez o grupo político de FHC dentro do PSDB. Como se vê, voltamos as briga das elites das repúblicas café-com-leite.

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