terça-feira, fevereiro 06, 2007

Opinião da imprensa e cientistas acompanha variações da temperatura

"Na ciência, o consenso é irrelevante. O que importa são os resultados. Os grandes cientistas da história são justamente aqueles que quebraram com o consenso". (Michael Crichton)

Nestes primeiros dias de 2007 o público no Brasil e ao redor do mundo foi literalmente bombardeado por notícias e previsões alarmantes a respeito do aquecimento global e sua possíveis consequências regionais e globais. Já eu, louco pelo debate, achei nesta frase do sujeito ao lado, que além de grande escritor, é médico e cientista dos bons, um motivo para entrar nessa história. Logo no primeiro dia de 2007, a partir de uma matéria do jornal inglês The Independent, eclodia a previsão de que este ano seria o mais quente da história. A notícia ganhou espaço na imprensa de todo o planeta:

"O efeito estufa e o fenômeno climático conhecido como El Niño farão de 2007 o ano mais quente já registrado, com conseqüências para todo o planeta. A afirmação é do professor Phil Jones, diretor da Unidade de Pesquisa sobre Clima da Universidade de East Anglia, na Inglaterra. Segundo previsões de Jones, publicadas hoje no jornal britânico The Independent, o ano será marcado por condições climáticas extremas em todo o mundo, que podem causar secas na Indonésia e inundações na Califórnia. O professor afirma que o aquecimento global - que causou degelos no Ártico - piorará com a chegada do El Niño, fenômeno causado pelo aumento das temperaturas médias das águas do oceano Pacífico".

O que a imprensa mundial não contou a você é o que afirmava na década de setenta a mesma Unidade de Pesquisa sobre Clima da Universidade de East Anglia que hoje anuncia o ano mais quente de todos os tempos e faz previsões sombrias em relação ao futuro como consequência da emissão de gases do efeito estufa. Em publicação traduzida para o Português da Organização das Nações Unidas, o Professor Hubert H. Lamb, Diretor do Centro de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia, assinou um trabalho intitulado "Há 30 anos a Terra se esfria", apresentando uma série de dados correntes e históricos que levaram à conclusão sobre um resfriamento global.

O texto do Diretor do Centro de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia não se limitou a concluir por um resfriamento global, mas salientou que este veio na sequência de um período de aquecimento do planeta que teve início antes mesmo da Revolução Industrial, marco utilizado pelos defensores das teorias catastrofistas de influência humana para delimitar o começo do atual período de aquecimento global.

O texto questiona como poderia então a Terra se resfriado entre os anos cinquenta e setenta, como de fato ocorreu, se os níveis de emissão de gás carbônico na atmosfera aumentavam em decorrência da "industralização galopante".

O trabalho de Hubert H. Lamb, Diretor do Centro de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia, faz uma descrição ainda do quadro testemunhado no planeta e nas calotas polares com o forte aquecimento global observado no final do século XIX e no começo do século XX, quando os níveis de poluição na atmosfera eram ínfimos na comparação com os dias atuais e a industrialização sequer havia chegado à maioria dos países.

O texto do Professor Lamb da década de 1970 é esclarecedor porque ajuda a derrubar alguns mitos que se criaram com o noticiário dos últimos anos em torno do aquecimento global. O degelo das calotas polares teve início antes mesmo da Revolução Industrial e decorreu de um processo natural associado ao fim da Pequena Idade do Gelo dos séculos XVII, XVIII e XIX. A primeira metade do século registrou um intenso aquecimento no planeta que foi seguido por um período de forte resfriamento entre os anos de 1950 e 1977. Criou-se um consenso estúpido e desinformado que há um século o planeta Terra enfrenta um processo de aquecimento desenfreado, quando, recentemente, o planeta viveu três décadas de temperatura muito baixa. O século XX foi marcado por períodos muito bem delimitados de calor e frio no mundo e que estiveram fortemente associados ao comportamento da temperatura da água do Oceano Pacífico, logo um ciclo natural. Justamente estas variações de calor (anos 20 a 40 e novamente entre 1977 e 2006) e frio (décadas de 10 e 20 e período de 1950 a 1976) fizeram com que o noticiário apresentasse diferentes versões ao longo do tempo. A revista Nesweek, uma das mais importantes dos Estados Unidos, publicava em 28 de abril de 1975 uma reportagem de página inteira sob o título "O mundo que esfria".

A Newsweek, em sua reportagem, comentava do período quente enfrentado pela Terra até os anos quarenta e que fora seguido por três décadas de muito frio, particularmente entre 1945 e 1975. A publicação chegou a estampar um gráfico com a variação da temperatura no século XX até então e que fora elaborado a partir do Centro Nacional de Dados Climatológicos do NOAA.

A variabilidade natural do clima ao longo dos últimos cem anos pode ser muito bem compreendida pelo noticiário, por exemplo, da revista norte-americana Time, a mais importante do jornalismo nos Estados Unidos. Em sessenta anos, a revista publicou três matérias de capa sobre o comportamento do clima do planeta. Na sua edição de 10 de setembro de 1945, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, a capa da Time mostrava um desenho do planeta suando e esbaforido com a manchete logo abaixo: "O mundo está fervendo". O planeta havia enfrentando nos dez anos anteriores intensos episódios de El Niño como, por exemplo, o de 1941 que resultou na grande enchente de Porto Alegre. Três décadas mais tarde, na sua edição de 31 de janeiro de 1977, a mesma Time noticiava o frio intenso que catigava o mundo e os Estados Unidos com a manchete "O Grande Congelamento". Novamente três décadas mais tarde, em 3 de abril de 2006, a revista dizia aos seus leitores "Fiquem preocupados, muito preocupados" com o aquecimento global que era o tema especial da edição.

Observem o intervalo entre as reportagens de 1945, 1977 e 2006. São, em média, trinta anos. Justamente os ciclos da Oscilação Decadal do Pacífico (aqui) costumam durar de vinte a trinta anos. Em fases quentes da PDO no século XX o planeta passou por um processo de aquecimento enquanto na fases frias resfriou-se. Nos últimos trinta anos, quando começou a surgir o temor em torno do aquecimento global, a fase da PDO esteve positiva e ainda com dois eventos de Super El Niño em 1982/1983 e 1997/1998. A frequência e intensidade de eventos de La Niña, que tendem a resfriar o planeta, foram muito menores nas últimas três décadas em razão do período quente da PDO que tem como característica favorecer justamente mais ocorrências de El Niño e manifestações mais intensas do fenômeno. Observem o comportamento da PDO ao longo do século XX e no começo deste século XXI.

Agora vejam a relação direta entre as datas de publicação das reportagens e a evolução da PDO com suas fases quentes e frias.

Por que o resfriamento observado durante três décadas na segunda metade do século XX é sonegado do público ? O aquecimento global é um fato, mas está se criando uma histeria coletiva e midiática - também com o apoio de cientistas interessados em conseguir recursos para suas pesquisas - que não encontra sustentação a partir de análises de dados correntes e históricos.

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