terça-feira, maio 06, 2008

A síntese entre liberalismo e democracia

Trechos do artigo de Darío Roldan - doutor em estudos históricos da escola de altos estudos em ciências sociais da França e professor da Universidad Di Tella de Buenos Aires, no Clarin.

1. Tocqueville é o grande pensador da tradição liberal e democrática. Num tempo em que ambas as tradições eram antagônicas, sua obra constituiu um lúcido esforço para sintetizá-las, assim como uma meditação filosófica-política sobre a sociedade democrática e o fenômeno democrático. A sociedade democrática consagra uma sociedade de indivíduos iguais. Nessa sociedade, o laço social só pode ser político; apenas a liberdade pode conduzir os homens a realizar essa obra comum.

2. Mas essa sociedade, fundamentada na igualdade, também produz formas de desigualdade econômica que impulsionam, ao mesmo tempo, a paixão pela igualdade. O que caracteriza a sociedade democrática, então, não é a igualdade econômica, nem sequer a igualdade jurídica, é o imaginário igualitário que significa a ruptura para com a idéia de que as diferenças entre os homens são insuperáveis e pré-estabelecidas hierarquicamente.

3. O desafio é que o homem democrático está dominado pela paixão irrefreável pela igualdade e sente um gosto muitas vezes moderado pela liberdade. Aí se abriga o problema da democracia.

4. Por isso, eu prefiro insistir em que a síntese liberal-democrática é um tesouro adquirido por um elevado preço e que é preciso cuidá-la. Nossa tradição liberal é muito débil e isso tem sido um inconveniente para a democracia. Assim, me parece preocupante o reaparecimento de uma crítica que opõe o liberalismo e a democracia. Não acredito que estejamos diante de um déficit republicano, como se assinala às vezes a propósito das instituições políticas. Ao contrário, estamos diante do risco de enfraquecimento da síntese liberal-democrática.

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