sexta-feira, maio 16, 2008

Desatinos e desacertos

"Quando a suspeita germina na alma, o menor incidente assume um aspecto decisivo."
Machado de Assis

A cada lance em torno do dossiê sobre gastos da Presidência da República na gestão Fernando Henrique Cardoso, diferentes instâncias do Governo Federal reforçam o inverossímil numa cadeia de emplastros improvisados.
As autoridades integrantes do 1º escalão defenderam, desde o primeiro momento, teses surreais para negar a elaboração de uma peça criminosa nas dependências do Palácio do Planalto.
O itinerário percorrido até o momento demonstra que o Governo do Presidente Lula está disposto a chegar ao paroxismo da contradição para preservar quem ordenou a elaboração do dossiê. Nem mesmo a revelação de que um funcionário da Casa Civil foi o responsável pelo envio do malfadado dossiê para um servidor de carreira do Senado lotado no meu gabinete arrefeceu a sanha governista em patrocinar versões malbaratadas nos bastidores palacianos.
Na última ‘tacada' difundiu-se a mais nova versão do rosário do "fica o dito pelo não-dito", qual seja, o vazamento ocorreu por um "descuido", não houve dolo. Provavelmente, o culpado será o modelo de teclado do computador da Casa Civil, sensível ao menor toque.
Desenha-se no horizonte antiético um final de enredo com material já bastante conhecido do país: tudo não passou de uma ação de aloprados de escalões inferiores. Na lógica pré-fabricada, penalizados devem ser os coadjuvantes; os cardeais do governo são intocáveis. Aceitam punir membros do baixo clero. A elite governamental deve permanecer incólume.
A propósito, o cotidiano do Governo foi marcado por uma sucessão de escândalos que, invariavelmente, foram desmentidos por versões que se atualizaram no movimento dos ponteiros de um relógio de precisão suíça. A seqüência de escândalos que assolaram o país findou por defenestrar as principais figuras da administração do presidente Lula.
Não identifico talento gerencial nem reconheço a competência como traço marcante dos atuais gestores governamentais. Os desatinados não possuem amor pátrio que os vincule aos interesses maiores da nação. Infelizmente, ‘eles' mobiliam diversos escalões da administração do Presidente Lula. Os desacertos da gestão em curso são cometidos em série. A ausência de planejamento e articulação é uma das marcas indeléveis do atual governo. A superposição de ações de uma esplanada de tantos ministérios exibe uma das facetas da claudicante performance gerencial.
O rol de promessas que antecederam a chegada ao poder do governo petista caiu no esquecimento em meio aos embates conjunturais. Assistimos finalmente ao lançamento da tão prometida política industrial. Lançada com pompa e circunstância, bem ao estilo pirotécnico em voga, sob a alcunha de "Plano de Desenvolvimento Produtivo", traduz um amontoado de medidas fiscais direcionado a setores específicos, associado a uma pequena redução nos juros do BNDES e a uma boa dose de marketing. As medidas pontuais anunciadas foram acopladas aos orçamentos estatais preexistentes, o portento que não poderia faltar.
Estamos vivendo uma era na qual o estoque de diatribes palacianas parece inesgotável. Em tempo: na bacia das almas nem mesmo Joseph Goebbels, ministro da Informação e Propaganda do Reich, foi capaz de escamotear a verdade.
Senador Alvaro Dias - 2º Vice Presidente do Senado, vice-líder do PSDB

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