quarta-feira, agosto 01, 2007

OPINIÃO PÚBLICA: UM PROCESSO DE CONTAMINAÇÃO!

Começo por uma nota do Painel da FSP de 24/07/2007: Soluço. Existe pesquisa na praça, pós-vaia e pós-Congonhas, registrando recuo na popularidade de Lula. Nada radical. Um tropeço.
Quem informou ao Painel da FSP esta nota, entende nada de pesquisas e de opinião pública. Opinião Pública não é a mesma coisa que Audiência. Audiência é o resultado de uma medição instantânea para aquele momento. Opinião Pública é resultante de um processo onde os opinamentos individuais vão contaminando - ou não - outros opinamentos, até que se forme - ou não - uma opinião pública.

Tenho insistido: TV não forma opinião, pois trabalha na lógica da audiência, que é opinião formada. Mas tem duas funções fundamentais na formação de opinião pública:
a) espalha informações de uma maneira ampla e geral;
b) acelera o processo de contaminação por opinamentos individuais, se estiver na linha com estes fluxos de opinamentos.

Uma vez as informações espalhadas, as pessoas - naturalmente - destacam algumas e sobre elas conversam com seus conhecidos e especialmente com os que para elas a opinião é relevante. Uma vez incorporada como opinião aquela informação, esta pessoa multiplica seu opinamento falando com muitas pessoas. Quando isso ocorre de forma análoga e na mesma direção por parte de muita gente - de muitos pontos de deflagração - o processo leva a uma contaminação, cuja velocidade depende da repetição que a imprensa possa fazer, na mesma direção.

Vamos a política. Se um político, e muito mais ainda um presidente pela exposição que tem, é muito bem avaliado, e surge um fato desabonador de sua conduta, os fluxos de opinamento vão entrando. É natural que aqueles que avaliavam mais positivamente, resistam e argumentem e peçam mais razões. Mas quando muitas pessoas repetem a mesma coisa para ele, este reflui e não mais defende sua avaliação anterior, deslocando seu opinamento para um grau menos favorável. Isso vai quebrando as resistências.

Quando se trata de um país continental, com largas diferença sociais, e, portanto, onde o acesso a todas as mídias não é razoavelmente homogêneo, esse processo de contaminação se dá em velocidade menor.

No Brasil - um fato contundente, amplamente noticiado, leva em geral 90 dias para alcançar os pontos periféricos. Esse processo requer ser capilarizado pelos mais reativos, digamos a oposição. Quanto mais a oposição política imagina que este processo ocorrerá naturalmente, mais ele é retardado, e mais facilmente o governo pode reagir, contrainformando.

No mensalão em 2005 isso ocorreu em três meses. No entanto a oposição - por temer a desestabilização política ou por achar que se tratava de um pato manco - arrefeceu esse processo de contaminação e 150 dias depois o presidente estava em recuperação.

Agora há duas diferenças:
a) o processo não surgiu espalhado, mas tem um foco de forte e reiterada contaminação, entre os que usam aeroportos, o que é bem mais que os passageiros.
b) a oposição aprendeu.

Portanto - com uma semana dos fatos deflagrados, falar em tropeço ou algo assim, é no mínimo imprudente. Na cidade de São Paulo - o data-folha aponta um foco que afetou em quase 10 pontos a avaliação do presidente. É pouco ou muito? Se for um fluxo dinâmico e contaminante, é muitíssimo. E é, pela capacidade argumentativa e ampliadora deste foco. Mais prudente seria dizer que o processo está em curso e que o recomendável é acompanhá-lo nos próximos 90 dias antes de qualquer conclusão. Analisando bem a série e seus cruzamentos.

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