sábado, fevereiro 16, 2008

A METÁSTASE - A CRISE ECONÔMICA ATUAL E SEUS ENORMES RISCOS

Uma empresa qualquer emite bônus para financiar-se, os bancos investem nestes bônus e garantem este risco por meio das monolines. Rebaixar a qualificação de uma das monolines mais importantes indica aos investidores e aos mercados que existe a possibilidade de que a mesma não possa atender aos riscos contraídos.
Se a crise financeira se transladasse dos grandes bancos norte-americanos (Citigroup, Merrill Lynch, JP Morgan, Bank of America) para outro setor tão considerável quanto o das seguradoras de bônus, isto significaria que a metástase avançou. A partir deste momento, seria legítimo perguntar, por exemplo, quanto tempo demorará para que apareça um hedge fund (fundos de alto risco) contaminado, também, pelo mesmo problema.
A inovação financeira destes últimos tempos tem consistido, entre outros aspectos, em parcelar, repartir e transformar o risco de modo sistemático; há produtos financeiros que são empacotados até sete ou oito vezes, e, a seguir, se titularizam. Que há dentro deles? Qual a sua composição, as suas entranhas? Ainda uma vez, ninguém sabe quem tem o que.
Na crise das hipotecas loucas, ocorrem três singularidades, que a distingue da maioria das convulsões anteriores: a primeira, que a contaminação emerge do âmago do sistema – Estados Unidos e a aristocracia financeira de Wall Street - não dos países emergentes, como em muitos dos episódios anteriores. A segunda, que os contaminados são os Estados do Primeiro Mundo, basicamente os europeus.
A terceira singularidade é a mais original: os salvadores dos bancos em crise com necessidades urgentes da capitalização são os países emergentes, através dos fundos soberanos de riqueza (sovereign-wealth funds), são empresas de capital público daqueles países (China, Arábia Saudita, Abu Dhabi, etc...), que têm gigantescas reservas de divisas pelo fato de possuírem matérias primas com os preços em alta, fundamentalmente petróleo, e que investem parte das primeiras em bancos e empresas privadas do Primeiro Mundo, sem participar da gestão das mesmas. O paradoxo é evidente: a periferia corre para salvar o centro do sistema.
Quando se conhecerá a profundidade e a extensão da crise das hipotecas subprime? Ao aparecerem os primeiros casos de entidades financeiras contaminadas, no final do mês de julho passado, foi dito que a data oportuna seria no momento de tornar públicas as contas parciais dos bancos, no último trimestre de 2007. Nestas semanas, estão sendo publicadas as contas bancárias correspondentes a todo o ano de 2007 e há muitas entidades internacionais que anunciam resultados muito inferiores aos previstos, atribuíveis à crise em questão. Mas os mercados não acreditam nisso e opinam, com sua tremenda desconfiança, que certamente surgirão novos números vermelhos.
Até que os auditores emitam seus informes normativos, não mudará o ambiente. E isto será a partir do mês de abril. Fevereiro e março serão meses muito difíceis em relação à percepção do problema, que, definitivamente, são os excessos da inovação. A partir do quarto mês do ano, deveria ser conhecida a dimensão dos rombos, o verdadeiro valor das titulações (os colaterais) e as repercussões da possível quebra destes veículos financeiros nos balanços dos bancos.

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