quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Francis Fukuyama está certo?

O cientista político americano Francis Fukuyama (foto) surpreendeu o mundo, em 1989, ao anunciar que o capitalismo e a democracia burguesa representariam o ápice da História da Humanidade. No célebre ensaio "O Fim da História", Fukuyama sustentava que o século XX seria o apogeu da civilização, com a desintegração da União Soviética simbolizando o triunfo da democracia liberal ocidental sobre todos os outros sistemas. A derrocada do fascismo e do socialismo como alternativas globais teria deixado, segundo ele, apenas um nacionalismo residual, incapaz de aglutinar um projeto para a Humanidade e o fundamentalismo islâmico. Este, na visão de Fukuyama, confinado ao Oriente e aos países periféricos.
A pretensão do ensaio, hoje, o guarda como uma peça de museu. O mundo liberal que se visualizava soa até naif diante das contradições que ampliaram as diferenças em vez de democratizar as vantagens. O propalado triunfo liberal não resiste às discussões sobre protecionismo e isolacionismo. E estes são justamente os dois temas de um artigo de Fukuyama para o jornal britânico The Guardian.

Na análise, não há espaço para classificar o atual cenário dos Estados Unidos em relação ao resto do mundo da mesma forma como fora idealizado naquela época de grandes rupturas históricas. Sumiram do discurso os sinais da vitória do liberalismo, tendo sido substituídos pela preocupação no caso de uma debácle (já não tão impossível assim) da intervenção americana no Iraque.

O triunfal deu lugar ao pessimista. Fukuyama adverte, por um lado, que a consolidação do país árabe mostrará, aos olhos do mundo, que a guerra em nome da Pax Americana foi bem sucedida. O sucesso poderia ser visto como uma etiqueta a ser pregada em toda a bagagem que a administração Bush carregou no projeto, "incluindo seu unilateralismo, o uso da força e a incompetência na execução do pós-conflito".

Para os que torcem contra, segundo ele, a derrota serviria para desencorajar novas intervenções no futuro. Mas essa é uma visão tão naif quanto o artigo original. Traria, na verdade, consequências políticas mais graves na forma como a maior potência do planeta passaria a lidar com os problemas internacionais. Francis Fukuyama cita como exemplo o comportamento indiferente da imprensa americana no caso das charges de Maomé para mostrar de que maneira o rift entre EUA e Europa se ampliou com o episódio. Haverá reflexos políticos disso, sempre no sentido de afastar, não do de reunir, de aproximar.

Outro exemplo gritante afeta diretamente a economia globalizada, corroendo os princípios defendidos no "Fim da História". O recuo no contrato que cedia portos americanos a uma empresa árabe, por alegadas razões de segurança e medo do terrorismo, sinaliza uma propensão gigantesca ao isolacionismo econômico, impressionante sobretudo pelo fato de ter sido objeto de uma pressão conjunta de democratas e republicanos. A aliança nesse caso se deu nas bases nacionalistas, não no pragmatismo liberal. A decisão, além de gerar enorme ressentimento no mundo muçulmano, corrói os pilares da globalização econômica sobre os quais, segundo Fukuyamna, brilhou a glória do triunfo liberal de 1989.

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