quarta-feira, junho 06, 2007

DA SÉRIE: AQUI... COMO LÁ...: A POLÍTICA É IMPIEDOSA COM A MORAL!

Trechos do artigo da psicanalista argentina SILVIA BLEICHMAR, autora de Dolor País, publicado em La Nacion.

1. Já se sabe: a política é impiedosa com a moral. Mas isso é assim, não porque todo mundo seja corrupto, mas porque, mais além da corrupção, que parece inerradicável, e na qual se envolve grande parte da corporação política de diversos signos e ideologias, as decisões de poder, em seu caráter pragmático, obrigam a escolha de ações regidas pelo que se considera necessário, contra aquilo que se concebe como correto.

2. A partir da diferença entre corrupção e imoralidade, se perfila um aspecto da política e da vida que deve ser levado em conta. Há atos que não são necessariamente corruptos, mas são imorais, porque quem os exerce sabe que não estão sob a opção que consideram válida e que os deixaria em paz com suas consciências.

3. Não há duvida de que os atos de corrupção seguem minando nossa confiança nas instituições e nas decisões que o poder tomará sobre eles. Mas a imoralidade com a qual se estabelecem algumas alianças políticas às vezes não deixa perceber a voracidade econômica dos que dela participam. Transparece como um afã de poder que, em seu movimento mesmo, deixa inertes a quem se vê por ele capturado.

4. De ai o pudor que sentimos, esse sentimento que surge após a exibição de um ato imoral. E vemos as idas e voltas com as quais alguns setores exercitam esse jogo, mediante o qual negociam lugares e postos em função da perspectiva eleitoral, como se o acesso à função pública fosse um premio de loteria ou bingo. E o fato de que se nos degrade - em muitos programas propostos - de nossa condição de cidadãos a aquela de "vizinhos", não se dando conta, das verdadeiras necessidades que nos atravessam, cortando as propostas dos nexos que as determinam, ou escamoteando as condições que levam a uma ou outra escolha daqueles programas de governo. Disfarçam de forma sistemática com as idas e vindas - sorrindo - que realizam pelos bairros.

5. E é também aqui onde a política deveria ser restituída em sua função de princípios, como exercício da cidadania e não como puro mercadeio. Porque o problema não está só em que a mentira esteja disfarçando a verdade, mas que venha a surgir exercícios que impossibilitem - não só o engano de outros, mas o auto-engano - que lhe dá sustentação.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não houvesse políticos
E a política seria a
coisa mais bela do mundo!