terça-feira, junho 26, 2007

ARGENTINA: ATÉ QUANDO?

1. A economia argentina cresce nos últimos anos, a uma taxa entre 7% e 9%. A taxa de desemprego nos anos Kirchner caiu de 20% para 8,7%, abaixo da do Brasil que passa de 10%. A moratória da divida com reconhecimento apenas dos credores que aceitaram um desconto de 75%, não abala as suas relações externas. O câmbio de 3 pesos por dólar se descolou do real que deixou de ser paritário com o peso para cair abaixo de 2 por dólar. Com isso aumentou o poder de compra do brasileiro na Argentina, que se tornou barata e atrativa. A taxa de investimentos sobre o PIB alcança 23% uns 4 a 5 pontos maior que a do Brasil. Para um PIB medido pela taxa de cambio de 220 bilhões de dólares as receitas fiscais somam 52 bilhôes de dólares e as despesas - incluindo o serviço da dívida - 47,5 bilhões aportando um superávit fiscal global, de 2% do PIB. As exportações somam 47 bilhões de dólares e as importações 32, produzindo um superávit de 15 bilhões ou 7% do PIB. Com isso as reservas em moeda estrangeira chegam a quase 35 bilhões de dólares ou 15% do PIB. Se o poder de compra da classe média se pode medir pelo automóvel que usa, o panorama de Buenos Aires é muito pior do que o de SP, Rio ou Santiago do Chile.

2. O prefeito eleito de Buenos Aires neste domingo, o empresário Mauricio Macri de 48 anos, fundou um partido PRO - proposta republicana - e derrotou o candidato de Kirchner, que entrou de cabeça na campanha. Kirchner tem amplo apoio da população argentina, com exceção da capital onde sua aprovação é pouco maior que 30%. Com a importância relativa de Buenos Aires - muito mais que SP se quisermos comparar com o Brasil - no longo período de transição de seis meses a partir de hoje - inevitavelmente presidente e prefeito com status de governador - terão que sentar e conversar.

3. Macri acusa o governo de esquerda que sai de Buenos Aires de demagógico e fiscalmente irresponsável. Criou um poder judiciário municipal inócuo, criou (embora não tenha implantado ainda) comunas - que são sub-prefeituras eleitas pelo voto direto com máquina própria e mergulhou num empreguismo de “companheiras e companheiros" que chega a dobrar o numero de servidores em várias secretarias (que chamam de ministérios). Macri precisará de uma reforma constitucional para cancelar estas medidas. Terá maioria para isso e terá que fazê-lo no inicio do governo. Vai sentar com Kirchner e pedir gestão de parte da policia e de parte do sistema de transportes. Se incluir a policia de investigação, certamente não conseguirá. A segurança publica é regida por lei nacional e não pela constituição.

4. Macri diz que o apoio que o capital financeiro internacional vem prestando à política econômica de Kirchner, se deve ao superávit fiscal, que segundo Macri é uma questão fundamentalista para o sistema. Não importa muito o cambio e nem tanto a inflação, para eles, afirma.

5. Macri sublinha que a inflação é maior do que a declarada e lembra que Kirchner mexeu na metodologia do índice. Mas alerta que o mais grave é a rede de subsídios que usa e que segura a inflação artificialmente e lhe dá popularidade. Aí estão principalmente o subsidio ao transporte público (tarifa metade da de equilíbrio) ao gás (já não há oferta suficiente para a demanda) e combustíveis...etc... Sem estes subsídios e sem a mexida no índice, a inflação estaria num patamar mais próximo dos 20%.

6. Macri ironiza dizendo que Kirchner gosta mesmo é de trabalhar com uma equipe que esteja abaixo de seu nível intelectual (se assim se pode chamar) - o que dá um caráter medíocre ao ministério. Cita especialmente a ministra da economia, que pouco sabe de sua pasta.

7. No final de outubro haverá eleição presidencial. Kirchner não tem oposição, governa por decreto através de lei delegada até 2009. Diz que vai lançar sua esposa para sua reeleição. Poucos acreditam. O único nome que teria condição de enfrentá-lo seria Macri, mas este afirmou - e gravou para TV e Radio - tantas vezes quantas lhe perguntaram na campanha, que não sairá da prefeitura.

8. Agora é acompanhar, tanto o quadro político com este novo fato em Buenos Aires, quanto o quadro econômico, se haverá fôlego para a estabilidade precária argentina resistir a tantos golpes de populismo econômico.

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