sexta-feira, maio 04, 2007

MICROPOLÍTICA!

Trechos de artigo de Enrique Gil Calvo em El País! Semelhanças com nossos problemas!

01. No próximo mês, se celebram eleições municipais em toda a Espanha - eleições para as Câmaras de Vereadores e para as Regiões Autônomas, naquelas comunidades de vía lenta que não dispõem de poderes para dissolver suas legislaturas e convocar eleições próprias. Assim, deveríamos estar debatendo, com paixão, aqueles temas de micropolítica, centrados sobre a agenda local e territorial. Mas não é assim, porque as manchetes da imprensa continuam ocupados com os habituais assuntos da macropolítica nacional.

02. Parece que todos nos sentimos estadistas e, por isso, depreciamos a política local para nos ocupar apenas do verdadeiramente importante, que seriam os gravíssimos problemas nacionais. Contudo, ainda que seja paradoxal, semelhante atitude é um dos piores indicadores do provincianismo arcaico. Se fôssemos mais modernos ou simplesmente normais e tivéssemos algum sentido comum, atenderíamos, com prioridade, aos fundamentos micropolíticos da vida pública. E, como não procedemos de tal maneira, os cidadãos dão as costas aos nossos representantes políticos. Assim, crescem os índices de abstenção, que ameaçam as próximas eleições para as Municipalidades.

03. Que se deve entender por micropolítica? Antes de mais nada, a economia que sustenta as condições materiais da vida cotidiana das pessoas. Alguns censuram o chefe de governo por sua incapacidade de vender a idéia de que a "Espanha vai bem", como proclamava seu antecessor. Isso nos deveria levar à suspeita de que talvez as coisas não caminhem tão bem assim. E, para averiguar, nada melhor do que partir da clássica distinção entre macroeconomia e microeconômica: aquela, sim, parece ir bem, mas não sucede o mesmo com esta, entendida como a estrutura de oportunidades que determinam as interações dos agentes individuais.

04. As condições microeconômicas de emprego e de habitação, bloqueiam a emancipação de mulheres e de jovens, penalizando, sobretudo as classes médias. Isso é micropolítica: a estrutura de incentivos que permite formar ou dissolver famílias compartindo o trabalho profissional com a responsabilidade progenitora. Uma micropolítica feita de políticas de emprego, de políticas de habitação por aluguel e de políticas de bem-estar social.

05. O problema é que esta micropolítica se decide e se aplica na escala local , pois o Governo central apenas tem a seu alcance coordenar e propor marcos normativos setoriais, como acaba de fazer com as empolgantes leis de dependência e igualdade. Mas uma simples história servirá para ilustrar as dificuldades. Há pouco, presenciei umas jornadas de serviços sociais e a reclamação comum dos usuários, dos responsáveis e das autoridades era a confusão normativa e a descoordenação funcional entre os quatro níveis administrativos: municipal, provincial, estatal e europeu. E se queixavam tanto que apenas pude sugerir-lhes a distribuição de um GPS de orientação a fim de não se perderem no labirinto burocrático.

06. Quem governa o mosaico da micropolítica de proximidade? Dada a grande descoordenação que se produz na escala estatal se diria que ninguém: somente os responsáveis políticos na escala local, que gozam de ampla liberdade para adotar a micropolítica que mais lhe agrade. E o ruim é que demasiadas vezes decidem para agradar não tanto seus eleitores, mas também os promotores imobiliários, de cujos resultados dependem para financiar-se. Assim não vai.

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