segunda-feira, novembro 08, 2010

Humilhado pela Direita, censurado pela Esquerda e abandonado pelo Centro

Trechos de matéria de Peter Brake no NYT reproduzida em El País (17).

1. (...) Obama me disse que não se arrependia da direção da sua presidência, mas que ele aprendeu o que chamou de "lições táticas". Acha que se deixou parecer com o mesmo “antigo liberal democrata apaixonado em aumentar os impostos e os gastos públicos". Talvez não deveria ter proposto os cortes de impostos como parte do pacote de estímulos, e sim "ter deixado os republicanos insistirem nisso" para que isso tivesse sido visto como um acordo entre os dois partidos.

2. Acima de tudo, Obama diz que aprendeu que, apesar de sua retórica anti-Washington, tinha que seguir as regras do jogo se quisesse vencer. Estar totalmente seguro de que está certo é inútil se ninguém concorda. "Com tanta coisa vindo até nós", disse Obama, "provavelmente gastamos mais tempo tentando fazer as políticas direito do que tentando fazer política direito. Provavelmente há um orgulho perverso em minha administração - e eu assumo a responsabilidade por isso. Isso vinha de cima - a ideia de que estávamos fazendo a coisa certa, mesmo que em curto prazo fosse impopular."

3. Obama disse: "Agora, o que eu tenho para dizer, algo já previsto e que pode ser muito difícil, é que em uma democracia tão grande e caótica como a nossa, demora-se muito para fazer as coisas. E não estamos acostumados com a paciência". Equipe de Obama não sabem se chegou a hora de ir. Os índices de aprovação de Obama nas pesquisas realizadas pelo The New York Times e CBS News caíram de 62%, que tinha quando tomou posse, para 45% em setembro, apenas um ponto à frente de Clinton antes de perder as eleições legislativas de 1994 e três pontos acima de Reagan quando os republicanos perderam duas dúzias de cadeiras na Câmara em 1982.

4. Ainda assim, é possível vencer o jogo interno e perder o jogo externo. Em seus momentos mais pessimistas, os assessores da Casa Branca se perguntam se um presidente moderno tem alguma chance de triunfar, sejam quais forem as leis que ele aprove. Tudo parece conspirar contra ele: uma oposição implacável com pouco ou nenhum interesse em colaborar, uma mídia saturada de trivialidades e conflitos, uma cultura que exige soluções para ontem, uma sociedade cínica que sente pouco apreço por suas lideranças. Neste ambiente, eles concluem cada vez mais que qualquer presidente moderno poderá ser, na melhor das hipóteses, mediano.

5. Em contrapartida, o governador Ed Rendell (foto), da Pensilvânia, é um dos democratas que deu nota ruim a Obama por não ter sido mais hábil com a oposição. "Uma nota alta, quase máxima em objetivos cumpridos", disse ele, "mas uma reprovação justamente em comunicação." Obama permitiu que eles fossem manchados por críticos. "O governo perdeu a batalha das comunicações nas duas principais iniciativas, e a perdeu cedo", disse Rendell, ardente apoiador de Hillary Clinton que depois se tornou aliado de Obama. Essa é uma frase que também se ouve dentro da Casa Branca: o problema é de comunicação. O primeiro refúgio de qualquer político quando tem dificuldades é dizer que se trata de um problema de comunicação e não de objetivos políticos.

6. "Quando ele falava em ser um presidente transformador, a questão era restaurar a fé do povo americano em nossas instituições governamentais", disse Ken Duberstein (foto), ex-chefe de gabinete de Reagan, que votou em Obama em 2008. "Mas agora sabemos que não deu certo. O povo está ainda mais desconfiado das nossas instituições, especialmente do governo... Francamente, e agora eu me conformaria em ter, não um presidente de transformação, mas sim um de transição, alguém que pudéssemos trabalhar. Parece que há uma rigidez ideológica que os cidadãos não enxergam". "As pessoas não enviaram Obama a Washington para ser o legislador chefe", me disse um assessor. "Elas se entregaram a sensação de que ele não estava fazendo nada sobre a economia."

7. Como dito por um importante assessor: "Vai haver muito pouco incentivo para fazer coisas grandes nos próximos dois anos, a menos que surja alguma crise". Mas Obama e sua equipe desprezam a estratégia de dar pequenos passos, adotada por Clinton após as eleições legislativas de 1994. Antes de deixar o cargo, Emanuel disse: "Não sou daqueles que acha que não será possível fazer nada. Creio que sempre se deve ter um programa de governo". Mas, que tipo de programa? Nem tão radical, nem tão provocador, afirmam alguns assessores. "Terá que se limitar e centrar-se nas coisas que são alcançáveis e de alta prioridade para o povo americano", afirmou Dick Durbin (foto), o número dois dos democratas no Senado. Daschle disse que Obama terá que estender a mão para os adversários.

8. Rendell discorda. "Não se preocupe tanto com o bipartidarismo, se os republicanos seguem recusando-se a cooperar", recomendou. "Que se faça o que tem que ser feito. Que se contra-ataque". Ao mesmo tempo, prossegue, que pare de lamentar o que herdou: "Após as eleições, eu acho que você tem que parar de apontar o dedo, culpando a administração Bush. Está bem fazê-lo durante a campanha, mas depois acabou. Quando se abusa disso como temos feito, soa como um disco quebrado. E depois de dois anos, a responsabilidade é sua. "

9. Obama seguirá tendo essa responsabilidade por mais dois anos, ou seis, se ele conseguir sair dessa situação. Como escritor, Obama sabe valorizar o ritmo de uma história tumultuada. Mas quem é o protagonista na realidade? No fundo, este presidente continua sendo um mistério para muitos americanos.

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