quinta-feira, dezembro 11, 2008

"Ainda não assistimos o mais doloroso desta crise"

Entrevista ao Clarin de Buenos Aires do prestigiado economista Guillermo Calvo (foto), destacado quando antecipou o "efeito tequila".
Não sou otimista, porque são limitadas as ferramentas à disposição dos governos para enfrentar a crise”, disse Calvo.

P- Quanto tempo durará a recessão a nível global?
R- “Creio que estamos entrando numa etapa em que se está reduzindo a capacidade de os bancos centrais lidarem com a crise. Foi efetiva para evitar que os bancos fossem à falência e pelo fato de que o PIB dos EUA ainda não caiu. Mas, de agora em diante, subsistem problemas sérios de liquidez que recaem sobre o crédito para o setor real.”

P- Então, não crê que haja passado o pior.
R- “Não, não sou otimista, porque são limitadas as ferramentas que têm os governos para enfrentar esta segunda e muito mais dolorosa parte da crise. As taxas de juros já estão em zero. E, por outro lado, como há problema de crédito, não tenho fé que adiante muito uma expansão fiscal, como a que se anuncia nos EUA e na Argentina. O ano 2009 está terminado, temos de nos preparar para 2010.”

P- Que zona vai sofrer mais?
R- “Há países emergentes da Europa Oriental, que tem um muito elevado déficit em conta corrente e que dependem bastante do crédito, e são os mais expostos. Por isso, a Hungria pede ajuda, e não vamos falar do caso da Islândia. A América Latina tem reservas internacionais importantes, o que confere à região a capacidade de resposta. Porém, será difícil usá-las por conta própria, sem apoio internacional, porque, quando elas se esgotam, surge a desconfiança dos mercados.”

P- Há margem na Argentina para uma aterrissagem suave?
R- O mundo está-se complicando. Não vejo a perspectiva de recuperação dos preços das matérias primas, que exportamos, mas sim que eles continuem caindo. Isso cria problemas fiscais, que, em alguma medida, estão sendo enfrentados com a nacionalização das AFJP (“Administradoras de Fondos de Jubilación y Pensión”). Não gosto pessoalmente que se atropelem os direitos de propriedade, mas o Governo tem formas de encontrar uma solução para elas para não cair na bancarrota. Neste caso, não quebrará, porque usará os fundos das AFJP que antes se orientavam para os setores empresariais, que agora vão ficar sem crédito. Vejo para o próximo ano uma grande contração do setor privado, com um setor público flutuando, e isso resultará num aumento do desemprego e numa queda do crescimento.”

P- E as obras públicas podem ser um motor de crescimento em 2009?
R- “O setor público terá forçosamente de ser mais ativo no próximo ano. As obras públicas, seu aumento, não é uma má idéia do ponto de vista macroeconômico. Depois, que não haja corrupção e que a alocação de recursos seja adequada, é outro tema de discussão.”

P- Devemos pagar ao Clube de Paris, como anunciou o Governo argentino antes de estourar a crise?
R- É o momento de pensar que as reservas são extremadamente úteis ao país.

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