quarta-feira, agosto 27, 2008

Kennedy e o Nordeste

Encontrei essa verdadeira pérola jornalística-histórica sobre o interesse de Kennedy, então presidente dos EUA, com uma série de influências, conseqüências e outros interesses que não somente o de ajudar o Nordeste brasileiro a se desenvolver. Como o artigo é muito grande, pincelo aqui com trechos intrigantes, meu objetivo é levar os leitores ao blog onde ele está postado na íntegra. Vale a leitura, muito instrutiva e reveladora.
Vamos aos trechos, no final você encontar o link para acessar o artigo completo.

O plano de Kennedy para desenvolver o Nordeste

por Vandeck Santiago
A surpreendente história de como, quando e por que a nação mais poderosa do planeta interveio na região mais pobre do hemisfério.
...Quando os americanos estavam chegando
Em outubro de 1961 o economista e diplomata norte-americano Merwin Bohan desembarcou no Recife com uma missão do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy....
O acordo - Menos de um ano depois daquela frase, em 13 de abril de 1962, Kennedy e o presidente do Brasil, João Goulart, assinaram em Washington o Northeast Agreement ("Acordo do Nordeste"). O único acordo assinado pelos EUA, na época, destinado a uma região de um País. Previa um investimento de US$ 131 milhões na região, num prazo de dois anos (feita a atualização para os dias de hoje, seria o equivalente a US$ 650 milhões)...
O Nordeste, segundo a CIA
O Nordeste era uma região "potencialmente explosiva", os comunistas e seus simpatizantes estavam a ponto de ganhar as eleições e "assumir o controle político" no Recife e em Pernambuco e o "aumento de 30% nos gêneros de primeira necessidade" favoreciam a agitação na região. Para completar, havia líderes "pró-comunistas" como Francisco Julião e Miguel Arraes, em ascensão eleitoral: havia técnicos como Celso Furtado, um profissional "respeitável" mas que tivera ligações com "o movimento comunista" no passado e mantinha no presente relações com a "extrema esquerda e nacionalistas” , como se não bastasse, havia ainda a seca, que levava os nordestinos a saquear armazéns. Tudo isso numa área que, em pobreza, era "comparável ao Haiti".
Este era o Nordeste descrito em relatórios produzidos pela CIA em 1961, 1962 e 1963 - todos eles lidos pela reportagem do DIARIO. Estão liberados para consulta pública, mas até agora nunca haviam sido pesquisados para um trabalho específico sobre o Nordeste. Com relação a questões nacionais, o tom dispensado a João Goulart é sempre hostil. O presidente brasileiro, que acabou derrubado pelo golpe militar de março de 1964, não passava de "um oportunista", conforme os relatórios...
Deu - várias vezes - no New York Times
Para o leitor médio americano dos anos 60, o Brasil era um lugar incrivelmente distante onde se falava mañana e se fazia a siesta. Mas entre outubro de 1960 e abril de 1964 outras palavras foram associadas à imagem de país distante. Palavras como "Nordeste do Brasil", "Sudene", "Ligas Camponesas", "Recife", "Miguel Arraes" e "região brasileira vítima da seca" entraram em avalanche para as páginas da imprensa internacional. Vez por outra, havia menções até ao "padre Cícero" e "Lampião". Os principais jornais e revistas dos Estados Unidos, como o The New York Times e a Newsweek, e da Europa, como o Le Monde (França) e a Der Spiegel, da Alemanha, mandavam para lá repórteres e fotógrafos....
Good morning, Recife
Nunca os Estados Unidos estiveram tão próximos do Recife quanto naqueles agitados anos do governo Kennedy. E também, naqueles agitados anos, nenhuma outra região latino-americana recebeu tantos norte-americanos quanto o Nordeste. E ainda, em tempo algum, pernambucanos e nordestinos receberam tantos convites para visitar os Estados Unidos - com tudo pago, of course - quanto naqueles agitados anos. Era tamanha a presença norte-americana que ninguém se surpreendia ao abrir o jornal e ver uma cena inusitada em qualquer época: um almirante dos EUA, todo sorrisos, com um mal colocado chapéu de cangaceiro na cabeça. Pois aconteceu. Saiu na primeira página do Diario de 10 de maio de 1963. O almirante chamava-se Tyree Jr., comandava as forças navais dos EUA no Atlântico Sul e pôs o chapéu de cangaceiro durante festa para recepcioná-lo no Clube Internacional.
Toda esta história começou a partir do interesse do presidente Kennedy pela região. Vieram depois o "Acordo do Nordeste", reportagens no The New York Times, fotos de manifestações das Ligas Camponesas em tudo que era jornal e revista (aquelas cenas de camponeses com as foices pra cima e coisa e tal), dólares, o temor e a ansiedade de um novo foco de conflitos no mundo - e pronto, o Nordeste entrou na rota internacional, como uma escala obrigatória...
O primeiro mensalão. Kennedy sabia?
O maior envolvimento dos Estados Unidos nos assuntos internos do Brasil aconteceu nas eleições de 1962. Milhões de dólares foram utilizados na campanha de 869 políticos brasileiros - 600 candidatos a deputado estadual, 250 a federal, 11 a senador e 8 a governador, todos eles considerados pró-Estados Unidos, hostis ao comunismo e contrários ao governo de João Goulart. Houve uma CPI para investigar o caso, mas ninguém foi punido...
O envolvimento dos EUA nas eleições brasileiras de 1962 foi debatida em 23 de junho daquele ano, numa reunião entre o presidente John Kennedy, o assessor Richard Goodwin e Gordon...
...Desde 1940 os presidentes americanos tinham o hábito de gravar as conversas;...
...Há partes originalmente suprimidas do diálogo, por serem consideradas ainda impróprias para divulgação. Veja alguns trechos abaixo:
Kennedy: Os comunistas são fortes [no Brasil]?
[Lincoln] Gordon: Como partido, são fracos.
(...)
Kennnedy: Mas agora eles ganharam boa parte da esquerda?
Gordon: Boa parte. Eles hoje ocupam postos chave e estão-se organizando...
Kennedy: Goulart lhes dá proteção?
Gordon: Ele os protege tanto no governo quanto nos sindicatos.
(...)
Kennedy: Os moderados estão muito desanimados no Brasil?
Gordon: Não a ponto de desistir. Estão muito descontentes. (...) Aluízio Alves [governador do Rio Grande do Norte] quer organizar um centro forte, levemente de esquerda. Acho que devemos apoiar totalmente a idéia.
[nesta parte, seis segundos da conversa são suprimidos, considerados "sigilosos"]
Gordon: (...) Não podemos mais ser complacentes. Creio que devemos fazer mais e provavelmente teremos de fazer mais com um pouco menos de preocupação sobre possíveis desperdícios e perda do controle [da situação]. (...) Há uma organização, o Ipes, por exemplo, [inaudível] progressista, que precisa de ajuda financeira; ela tem [inaudível] apoio e eu acho que devíamos ajudá-la.
[Richard] Goodwin: Acho que as eleições podem ser decisivas. O Linc [Gordon] as compara às eleições italianas de 1948
Kennedy: Eu sei. Quanto é que vamos investir nisso?
Gordon: Nesse caso, creio que alguns milhões de dólares.
[aqui foram cortados sete segundos de diálogo também considerados "sigilosos"]
Kennedy: É muito dinheiro. Sabe como é, aqui, numa campanha presidencial, gasta-se mais ou menos 12 [milhões de dólares]. E [com] nossos custos... já são US$ 8 milhões. É muito dinheiro para uma eleição.
Gordon: Exato.
Kennedy: (inaudível)
Kennedy [dirigindo-se a Gordon]: Bem, isso já está sendo gasto no momento? Você já está levando isso adiante?
[39 segundos "sigilosos" são suprimidos nesta parte]
(...)
Gordon: Acho que há algo que podemos fazer em relação a Goulart como parte de uma estratégia geral. Gostaria de alertar o sr. sobre a possibilidade de uma ação militar. Há uma grande probabilidade de isso acontecer".
...
Celso Furtado
"Tenho a impressão de que o Nordeste, onde eu estava na época, foi a região mais prejudicada pelo golpe. O Nordeste foi surpreendido com uma política em andamento, um movimento social, através das Ligas Camponesas, da Sudene e da Igreja Católica, que apontavam para uma outra direção. Tudo isso foi destruído.
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