segunda-feira, agosto 11, 2008

JOAQUIM NABUCO

Se um politólogo tiver que destacar uma análise política de conjuntura no século 19, que tenha sido substantiva, com uso adequado e coerente dos instrumentos teóricos, certamente citaria "O 18o Brumário" onde Marx analisa a ascensão de Napoleão III na França. Publicou por capítulos em diário de Chicago e depois foi agrupado em livro mais tarde, clássico.
Se pedirmos o mesmo para a América Latina, também no século 19, ter-se-ia dificuldade de destacar um texto. Recentemente foi reeditada a análise de Joaquim Nabuco (foto) ("Balmaceda" Ed. Cosacnaify) sobre o golpe do presidente Balmaceda em 1891 no Chile e a guerra civil que se seguiu nos 9 meses daquele ano. Nabuco - em 1895 - esgrima uma análise profunda e sofisticada, que equivale em qualidade ao 18 Brumário para a América do Sul.

Abaixo, trechos selecionados por este Blog:


a) Política silogística é a arte de construção no vácuo. A base são teses e não fatos; o material, idéias e não homens, a situação, o mundo e não o país, os habitantes, as gerações futuras e não as atuais.

b) A protelação sistemática força o Congresso à inação, transforma-o em uma espécie de teatro de declamação, faz com que ele funcionando se sinta tão paralisado e inútil como se não estivesse reunido.

c) Era um estado maior sem soldados. Mas era um núcleo, pequeno em número, porém compacto, com homens resolutos.

d) Balmaceda ao fechar o Congresso, não tinha outro pensamento senão fabricar, na presidência, à última maneira dos argentinos, um partido seu, pessoal, anônimo, composto do lumpen, e dos repelidos de todos os partidos independentes.

e) A análise tinha esse caráter de superficialidade brilhante, própria do jornalismo político.

f) Há que aperfeiçoar o sistema parlamentar até torná-lo como na Inglaterra, um relógio que marca os minutos da opinião pública, e não somente as horas, como o governo presidencial americano.

g) O direito de defesa é inerente ao funcionamento de todos os poderes do Estado, e inseparável da autonomia de cada um.

h) Não há nada que paralise mais a iniciativa de um político, que a glória.

i) As retiradas são o supremo esforço do general e exigem a máxima solidez da tropa. A um amigo que uma vez o comparava aos grandes generais da história, Moltke (marechal de Bismarck) interrompeu dizendo: - Ainda não comandei uma retirada.

j) O político tem de representar o seu papel até o fim.

l) O político deve ter cuidado com a desordem nas leituras. Nesse caso, o torna-se uma espécie de títere de biblioteca; deixa de pensar por si, de contar consigo. Um espírito assim, posto no governo, a sua marcha política só pode ser um eterno zigue-zague, as suas construções um labirinto, até que de repente se vê sem saída.

m) Durante anos alguns países sofrem os males da anarquia e julgam estar sofrendo os do governo pessoal.

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