quarta-feira, julho 23, 2008

O que nos sussurra a sociedade?

Uma pesquisa de opinião fala de reações médias da sociedade e seus cortes clássicos. Mas não consegue chegar ao cotidiano das pessoas que reagem, interagem, processam, inventam e re-produzem suas próprias versões dos fatos, dos produtos, das políticas, das mídias, das celebridades, dos políticos...
Na revista Diálogos da Educação, Curitiba, de set.dez 2007, Marília Claret Geraes Duran (foto), revisa Certeau (Maneiras de pensar o cotidiano com Michel Certeau), embora seu foco seja a escola e mais ainda a sala de aula, na introdução, permite aos comunicadores políticos e aos candidatos, terem noção da complexidade desta comunicação, que parte verticalmente, mas é processada horizontalmente para quaisquer lados ou possibilidades. E deste processamento sairá a decisão de voto. Comunicar no mundo de hoje, tem uma complexidade muito maior do que imaginam os candidatos e seus publicitários.
Abaixo trechos do artigo citado que no original tem doze páginas.

1. Um ponto se refere à sua capacidade de se maravilhar e confiar na inteligência e na inventividade do mais fraco, em face de uma convicção ética e política, alimentada por uma sensibilidade estética, que dá a Certeau possibilidades de crer firmemente na "liberdade gazeteira das práticas", de ver diferenças e de perceber as microresistências que fundam microliberdades e deslocam fronteiras de dominação. A inversão de perspectiva que fundamenta a sua Invenção do Cotidiano desloca a atenção do "consumo supostamente passivo dos produtos recebidos, para a criação anônima, nascida da prática, do desvio no uso desses produtos".

2. Rigor e reflexão que o levam a dedicar sua obra ao "homem ordinário", ao "herói comum", herói anônimo que é o "Murmúrio das Sociedades".

3. Ele acredita nas possibilidades de a multidão anônima abrir o próprio caminho no uso dos produtos impostos pelas políticas culturais, numa liberdade em que cada um procura viver, do melhor modo possível, a ordem social e a violência das coisas.

4. Para poder apreciar "a diferença ou a semelhança entre a produção da imagem e a produção secundária que se esconde nos processos de sua utilização", Certeau propõe, como baliza teórica, a "construção de frases próprias com um vocabulário e uma sintaxe recebidos", supondo que pelas maneiras de usar essa produção, pelas invenções cotidianas, pelas maneiras de fazer, ocorre com os usuários, uma "bricolagem" com e na economia cultural dominante, pela possibilidade de descobrir inúmeras metamorfoses da lei, segundo seus interesses próprios e suas próprias regras.

5. Nessa perspectiva, a legitimidade da "autoridade", isto é a expressão daquilo que é aceito como "crível", se constrói pelas representações que vão se articulando em torno dela e que se traduzem por uma "constelação de referências", fontes, uma história, uma iconografia, em suma, por uma articulação de "autoridades". Ou seja, "a toda vontade construtiva são necessários sinais de reconhecimento e acordos feitos acerca das condições de possibilidade, para que seja aberto um espaço onde se desenvolva".

6. São as representações aceitas que, segundo ele, inauguram, e ao mesmo tempo exprimem essa nova credibilidade. Uma vez anunciada uma política e assumida sua implantação, são oferecidas condições de possibilidade que são os "sinais de reconhecimento".

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