sexta-feira, agosto 25, 2006

O Mau-humor pode ser um distúrbio psiquiátrico

Este é um exemplo de mal-humor feminino

por
Andreia Cony


Se para alguns o mau-humor é sinônimo de frescura, para a medicina este mal da vida moderna é considerado um distúrbio psiquiátrico chamado Distimia. É claro que não se deve generalizar e afirmar que toda pessoa que está mau-humorada é um distímico.
De acordo com a psiquiatria, para o mau-humor ser classificado como doença é necessário que seja avaliado o tempo de duração e os sintomas que ele acarreta para a pessoa que sofre com isto. Foi para entender melhor sobre este assunto pouco divulgado que o portal www.saude.com.br entrevistou com exclusividade a Dra. Lina Nunes Gomes.

O que é a Distimia?
A Distimia é um transtorno psiquiátrico em que a pessoa apresenta, além do mau-humor, outras alterações, como falta ou excesso de apetite, insônia ou hipersônia, pouca energia ou fadiga, baixa auto-estima, pouca concentração ou dificuldade de tomar decisões, e sentimentos de desesperança. Além disso, a pessoa pode apresentar alguns sintomas somáticos como náusea, vomito, cefaléia e enxaqueca.

Qual é o diagnostico da Distimia?
Os critérios variam com os sintomas apresentados e o tempo de duração, que tem que ser no mínimo de dois anos de doença ininterrupta. É natural as pessoas terem alterações de humor no ao dia-dia, mas apresentar os sintomas da doença por mais de dois anos pode ser diagnosticado como Distimia.

Depois da doença diagnosticada, qual o tratamento mais adequado?
O tratamento consiste basicamente em psicoterapia, que eu acho essencial, e no uso de antidepressivos, PAMELOR é um dos antidepressivos indicados para casos de distimias. No caso do Brasil, os mais usados são os inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Para um tratamento eficaz da doença, o paciente deve fazer uso do medicamento por volta de dois anos , ou seja, o tratamento da Distimia é mais prolongado do que no caso da depressão.

Os distímicos procuram o psiquiatra para o tratamento?
Não. Eu nunca recebi em meu consultório um quadro puro de distimia, mas isso tem a ver com a falta de informação da população sobre a doença. É muito comum os pacientes chegarem ao consultório reclamando de depressão ou quadros associados e o médico descobrir que, na verdade, se trata de uma distimia.

O que acontece com o distímico que não se trata?
Normalmente 40% a 50% dos distímicos que não se tratam se tornam pessoas depressivas.

Em que a doença pode prejudicar a vida pessoal do distímico?
Como o distímico tende a ser altamente crítico, ele por si só, já afasta as pessoas ao seu redor, pois é difícil conviver com uma pessoa que está sempre mau-humorada e que reclama de tudo. Além disso, a distimia vem acompanhada de alguns sintomas somáticos como náusea, vomito, cefaléia e enxaqueca,o que prejudica a vida profissional da pessoa, pois ela passa a faltar muitas vezes ao trabalho ou à escola.

A Distimia pode atingir as crianças?
Sim. A distimia pode atingir crianças, mas isso normalmente só acontece com crianças que tiveram perdas emocionais importantes. Normalmente a criança fica irritada e costuma criar uns rituais próprios. É mais complicado iniciar um tratamento com crianças do que com adultos, pois as mães não costumam aceitar que seus filhos sofram de qualquer transtorno psiquiátrico. Por outro lado, se o tratamento for iniciado, a evolução é melhor do que no adulto.

Qual a faixa-etária, sexo e classes mais atingidas pela distimia?
Os mais atingidos são adolescentes e adultos jovens, sendo mais incidente em mulheres e na população de baixa renda. A doença está com alguma freqüência relacionada com uma deficiência física incapacitante. De acordo com dados americanos, a distimia atinge de 3% a 5% da população. Acredito que este dado esteja subestimado, já que a maioria dos distímicos não procura atendimento psiquiátrico.

Ainda de acordo com dados americanos, mais de 50% dos casos de distimia atingem pessoas abaixo de 25 anos de idade. Por que?
Por ser uma época de transição, conflitos, auto-afirmação e mudanças, a adolescência é uma fase complicada. Existem pessoas que lidam muito mal com este momento, pois têm dificuldades de adaptação. E isto acaba acentuando o mau-humor e a baixa da auto-estima, o que acaba levando a distimia.

Existe uma predisposição para a doença?
Sim. Existe uma predisposição familiar. Quem tem familiares com história de algum transtorno do humor tem maior probabilidade de apresentar um quadro de distimia do que os que não tem. Mas isso depende de como a pessoa vai lidar com a sua própria vida. Afinal, a distimia tem relação também com o meio social.

Como a família do distímico deve agir para conviver com a doença?
Dra. Lina Nunes Gomes: É complicado conviver com uma pessoa mau-humorada, mas antes de tudo a família deve identificar com que tipo de distímico ela está lidando.
Existem dois tipos de distímicos.
Ego-distônico, que é aquela pessoa que sofre por ser mau-humorada e percebe que as pessoas se incomodam com isso. Neste caso é mais fácil a convivência, pois o distímico tem consciência de que precisa de ajuda médica.
Ego-sintônico, que é aquela pessoa que não percebe e não aceita que é mau-humorada, tornando-se arrogante e de difícil convívio. Neste caso, só muita paciência e conversas podem melhorar o convívio com ela.

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