Trecho. Sobre o Mito do Che. JOSEP RAMONEDA, publicado em 16/10/2007
1. Mas, para mim, a verdadeira razão do mito do Che está no fracasso da revolução cubana. Desde a invasão da Hungria em 1956, a ignorância sobre os regimes de tipo soviético não era um mito aceitável sob nenhum ponto de vista. A revolução cubana parecia diferente. Surgiu num Continente muito mal tratado e seus líderes tinham uma imagem livre e independente.
2. Há, no Caribe, algo anárquico e libertino, que parecia contraditório diante da frigidez de morgue dos regimes comunistas do Leste. E a esquerda de todo o mundo colocou muita ilusão nela. Ernesto Che Guevara foi astuto: distanciou-se no tempo. Abandonou Fidel, porque provavelmente teve a intuição de que a confluência com o modelo de tipo soviético era inevitável. E o fez em nome de valores muito atraentes: autenticidade, fidelidade ao ideal, insubmissão, desapego ao poder e um certo tom de liberdade. O resto colocou nele a morte, que sempre tem um papel na construção dos pedestais.
3. É próprio dos santos fugir da realidade. E isso foi o que fez o Che. Deixou a crua realidade de uma Cuba em construção, em que realmente se confrontavam coisas muito sérias, e se foi para uma aventura que se sabia perfeitamente inútil e que não chegava sequer a uma promessa. Mas isso lhe dava auréola de autenticidade. Com a autenticidade presumidamente libertaria de Ernesto Che Guevara a esquerda ajustava as contas com sua própria consciência e encontrava uma maneira de salvar o castrismo, pelo menos nos fundamentos. Duas vias que conduziam à paralise. Ou à contemplação, caso se prefira, já que falamos de vidas de santos. A suspeita de tudo que se ergue sobre nossas cabeças.
1. Mas, para mim, a verdadeira razão do mito do Che está no fracasso da revolução cubana. Desde a invasão da Hungria em 1956, a ignorância sobre os regimes de tipo soviético não era um mito aceitável sob nenhum ponto de vista. A revolução cubana parecia diferente. Surgiu num Continente muito mal tratado e seus líderes tinham uma imagem livre e independente.
2. Há, no Caribe, algo anárquico e libertino, que parecia contraditório diante da frigidez de morgue dos regimes comunistas do Leste. E a esquerda de todo o mundo colocou muita ilusão nela. Ernesto Che Guevara foi astuto: distanciou-se no tempo. Abandonou Fidel, porque provavelmente teve a intuição de que a confluência com o modelo de tipo soviético era inevitável. E o fez em nome de valores muito atraentes: autenticidade, fidelidade ao ideal, insubmissão, desapego ao poder e um certo tom de liberdade. O resto colocou nele a morte, que sempre tem um papel na construção dos pedestais.
3. É próprio dos santos fugir da realidade. E isso foi o que fez o Che. Deixou a crua realidade de uma Cuba em construção, em que realmente se confrontavam coisas muito sérias, e se foi para uma aventura que se sabia perfeitamente inútil e que não chegava sequer a uma promessa. Mas isso lhe dava auréola de autenticidade. Com a autenticidade presumidamente libertaria de Ernesto Che Guevara a esquerda ajustava as contas com sua própria consciência e encontrava uma maneira de salvar o castrismo, pelo menos nos fundamentos. Duas vias que conduziam à paralise. Ou à contemplação, caso se prefira, já que falamos de vidas de santos. A suspeita de tudo que se ergue sobre nossas cabeças.
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