Trechos do artigo de Natalio R. Botana - em LA NACIÓN, sobre o novo horizontalismo!
1. A dialética amigo-inimigo tem, nesta montagem da liderança, um papel decisivo que rechaçaria, à primeira vista, a convivência pluralista e a expressão autônoma do povo eleitor. Contudo, algo falhou nesta engrenagem. Até 2 de dezembro, a dinâmica do "chavismo" encadeava uma sucessão de vitórias. A gerência do Estado, a entrada no mundo dos excluídos por meio de umas "missões bolivarianas", embebidas de justiça social, o maná que brota do petróleo, o controle dos meios de comunicação: tudo isto anunciava outra vitória, embora ao custo de gerar mais divisão e rancor.
2. Por outro lado, se na Rússia a sociedade parece inclinada a aceitar esta mistura de autoritarismo e de capitalismo, com a supremacia de um Estado que também capta a renda petrolífera, na Venezuela o espelho da opinião deu mostras recentes de que o socialismo chavista não a tem consigo. Nas atuais condições sociais, pode-se estabelecer em nossos países uma hegemonia que renegue o pluralismo político e a autonomia da sociedade civil?
3. Disto pode inferir-se que muito pouco se conseguiu de antemão na América Latina. Não há lideranças permanentes, se levarmos em consideração que nossas sociedades estão agora em pleno movimento. Elas são atravessadas por toda classe de conflitos: de distribuição, de origem étnica, de incorporação de massas urbanas. São sociedades que combinam momentos de ebulição e de apatia, nos quais se torna cada vez mais difícil armar esquemas inspirados em experiências do passado, como o cruzamento entre Perón e Fidel Castro, de que se vangloria Chávez. Na verdade, estamos avançando num terreno instável, onde as sociedades e seus eleitorados surpreendem e produzem mudanças bruscas de direção.
4. Devido à consciência que se difunde sobre a injustiça das desigualdades, as tradições que não foram abolidas e o desenvolvimento de novos extratos sociais nascidos da expansão do sistema educativo, nossas sociedades são, cada vez mais, sociedades horizontais. Resistem à imposição de regimes políticos verticais, entre outros motivos porque, sobre esta horizontalidade, superpôs-se a horizontalidade que deriva da mutação que estamos experimentando na escala das comunicações.
5. Já se disse, talvez com razão, que a Venezuela suportou um vazio no campo da oposição. Apesar disto, estes vazios hoje se preenchem rapidamente. Os agrupamentos estudantis mobilizaram o voto com a Internet e com celulares. Se a Internet não é, ainda, o meio de comunicação dos setores mais desfavorecidos, o telefone celular certamente o é. Portanto, as mudanças de opinião são mais vertiginosas, principalmente quando a ocasião é propícia e o lance consiste em votar pelo sim ou pelo não.
6. Na encruzilhada desta dupla horizontalidade – a social e a tecnológica – um referendo pode ser fatal. Sabemos que, na América Latina, a democracia é sacudida por golpes de opinião de tamanhos diversos. Certos governos são eleitos e depois destituídos, como se os registros da representação política oscilassem entre a normalidade eleitoral e os sobressaltos extra-eleitorais das mobilizações populares. Nesta sucessão de golpes de opinião.
7. Antes, as hegemonias duravam porque as maiorias eleitorais as queriam; agora, pareceria que as peças daquela forja do poder popular se estão oxidando. A hegemonia, então, não vai longe. Apesar disso, a contradição entre os governantes que sonham com esta classe de dominação e os segmentos da sociedade que não estão dispostos a aderir a tais desígnios é fonte de polarizações e de retrocessos. Aprender esta lição não é simples.
1. A dialética amigo-inimigo tem, nesta montagem da liderança, um papel decisivo que rechaçaria, à primeira vista, a convivência pluralista e a expressão autônoma do povo eleitor. Contudo, algo falhou nesta engrenagem. Até 2 de dezembro, a dinâmica do "chavismo" encadeava uma sucessão de vitórias. A gerência do Estado, a entrada no mundo dos excluídos por meio de umas "missões bolivarianas", embebidas de justiça social, o maná que brota do petróleo, o controle dos meios de comunicação: tudo isto anunciava outra vitória, embora ao custo de gerar mais divisão e rancor.
2. Por outro lado, se na Rússia a sociedade parece inclinada a aceitar esta mistura de autoritarismo e de capitalismo, com a supremacia de um Estado que também capta a renda petrolífera, na Venezuela o espelho da opinião deu mostras recentes de que o socialismo chavista não a tem consigo. Nas atuais condições sociais, pode-se estabelecer em nossos países uma hegemonia que renegue o pluralismo político e a autonomia da sociedade civil?
3. Disto pode inferir-se que muito pouco se conseguiu de antemão na América Latina. Não há lideranças permanentes, se levarmos em consideração que nossas sociedades estão agora em pleno movimento. Elas são atravessadas por toda classe de conflitos: de distribuição, de origem étnica, de incorporação de massas urbanas. São sociedades que combinam momentos de ebulição e de apatia, nos quais se torna cada vez mais difícil armar esquemas inspirados em experiências do passado, como o cruzamento entre Perón e Fidel Castro, de que se vangloria Chávez. Na verdade, estamos avançando num terreno instável, onde as sociedades e seus eleitorados surpreendem e produzem mudanças bruscas de direção.
4. Devido à consciência que se difunde sobre a injustiça das desigualdades, as tradições que não foram abolidas e o desenvolvimento de novos extratos sociais nascidos da expansão do sistema educativo, nossas sociedades são, cada vez mais, sociedades horizontais. Resistem à imposição de regimes políticos verticais, entre outros motivos porque, sobre esta horizontalidade, superpôs-se a horizontalidade que deriva da mutação que estamos experimentando na escala das comunicações.
5. Já se disse, talvez com razão, que a Venezuela suportou um vazio no campo da oposição. Apesar disto, estes vazios hoje se preenchem rapidamente. Os agrupamentos estudantis mobilizaram o voto com a Internet e com celulares. Se a Internet não é, ainda, o meio de comunicação dos setores mais desfavorecidos, o telefone celular certamente o é. Portanto, as mudanças de opinião são mais vertiginosas, principalmente quando a ocasião é propícia e o lance consiste em votar pelo sim ou pelo não.
6. Na encruzilhada desta dupla horizontalidade – a social e a tecnológica – um referendo pode ser fatal. Sabemos que, na América Latina, a democracia é sacudida por golpes de opinião de tamanhos diversos. Certos governos são eleitos e depois destituídos, como se os registros da representação política oscilassem entre a normalidade eleitoral e os sobressaltos extra-eleitorais das mobilizações populares. Nesta sucessão de golpes de opinião.
7. Antes, as hegemonias duravam porque as maiorias eleitorais as queriam; agora, pareceria que as peças daquela forja do poder popular se estão oxidando. A hegemonia, então, não vai longe. Apesar disso, a contradição entre os governantes que sonham com esta classe de dominação e os segmentos da sociedade que não estão dispostos a aderir a tais desígnios é fonte de polarizações e de retrocessos. Aprender esta lição não é simples.
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