Trechos do artigo do politólogo e historiador argentino - Natálio Botana - no La Nacion de 07/08/08! Serve para lá. Serve para cá!
1. David Hume, ainda no século XVIII, observou que o destino das formas políticas se cifrava em maior ou menor grau na força da opinião. Numa democracia, essa opinião revelada diariamente por sondagens de opinião adquire seu máximo valor: é indispensável para apoiar e é ameaçante para questionar. Por isso, as lideranças sobem e baixam num escrutínio constante que parece não ter fim.
2. O fator mais importante para moderar os excessos dessa volatilidade são as instituições do regime representativo e, por conseguinte, os partidos políticos. No campo mais amplo do poder social há, por certo, muitos exemplos de mediação, mas, nos processos políticos chega um momento em que essas mediações devem transferir-se para o terreno onde sobressai a autoridade pública e no qual se votam e se instauram as leis que comprometem a sociedade em seu conjunto. A mediação política tem o apetite de universalidade, mas, ao contrário, a mediação social se reduz à necessidade de expressão da particularidade dos interesses. São as duas caras do pluralismo.
3. Devido a esta inevitável conexão entre o que é comum e o que é particular, a mediação política requer: a) estabilidade; b) organização; e c) continuidade. Estes três atributos são os grandes ausentes no sistema político argentino e, em conseqüência, nossos partidos sofrem uma constante perda de legitimidade. Trata-se de uma espécie de democracia cariocinética, que, diante de cada crise e de cada conflito, adiciona mais fragmentação e mais confusão ao potencial eleitorado. Este é um legado que vem de longe e que ainda não cessou de corroer o princípio da representação política.
4. Impõe-se colocar em marcha a reconstrução dos partidos. Dizemos reconstrução com todo o valor arquitetônico que tem esta palavra: reconstruir as regras de participação cidadã nos partidos, reconstruir o diálogo entre grupos pertencentes a um antigo partido (isso é vital para os partidos mais antigos); reconstruir, sobretudo, a ética que exige um mínimo de lealdade dentro destas organizações.
5. É uma corrida contra a degradação do que vem em sentido contrário, que, não obstante, deixa em suspenso o inadiável trabalho de forjar uma alternativa. Desconstruir, sim, mas qual será de aqui em diante o conteúdo substantivo de uma desejável mudança para a oposição, diga de programar-se e de ser apresentada como uma alternativa crível? Até novo aviso, estes projetos são meramente virtuais.
6. Se consideramos valiosa esta praxe, são necessários dois requisitos complementares aos três atributos que mencionamos mais acima. O primeiro consiste no respeito a umas regras que jamais deveriam subordinar-se ao apetite das lideranças. Hoje, alguns partidos reforçam com remendos, itinerários personalistas, mais do que trajetórias institucionais. Esta experiência nos ensina que, nada na democracia esteja adquirido definitivamente.
7. Uma prudente combinação da ética da vitória com a ética da derrota nos partidos políticos pode ajudar a produzir melhores lideranças e manter, enquanto isso, a estabilidade das referidas organizações. É um critério para levar-se em conta. Todos querem ganhar, mas poucos sabem perder. Se não for assim, se difunde a mania de fazer uma cozinha à parte. Poderá ser reconstruída algum dia esta disciplina espontânea nos partidos? A pergunta fica aberta, tão aberta quanto a soma dos fracassos que, a este respeito, acumulamos.
1. David Hume, ainda no século XVIII, observou que o destino das formas políticas se cifrava em maior ou menor grau na força da opinião. Numa democracia, essa opinião revelada diariamente por sondagens de opinião adquire seu máximo valor: é indispensável para apoiar e é ameaçante para questionar. Por isso, as lideranças sobem e baixam num escrutínio constante que parece não ter fim.
2. O fator mais importante para moderar os excessos dessa volatilidade são as instituições do regime representativo e, por conseguinte, os partidos políticos. No campo mais amplo do poder social há, por certo, muitos exemplos de mediação, mas, nos processos políticos chega um momento em que essas mediações devem transferir-se para o terreno onde sobressai a autoridade pública e no qual se votam e se instauram as leis que comprometem a sociedade em seu conjunto. A mediação política tem o apetite de universalidade, mas, ao contrário, a mediação social se reduz à necessidade de expressão da particularidade dos interesses. São as duas caras do pluralismo.
3. Devido a esta inevitável conexão entre o que é comum e o que é particular, a mediação política requer: a) estabilidade; b) organização; e c) continuidade. Estes três atributos são os grandes ausentes no sistema político argentino e, em conseqüência, nossos partidos sofrem uma constante perda de legitimidade. Trata-se de uma espécie de democracia cariocinética, que, diante de cada crise e de cada conflito, adiciona mais fragmentação e mais confusão ao potencial eleitorado. Este é um legado que vem de longe e que ainda não cessou de corroer o princípio da representação política.
4. Impõe-se colocar em marcha a reconstrução dos partidos. Dizemos reconstrução com todo o valor arquitetônico que tem esta palavra: reconstruir as regras de participação cidadã nos partidos, reconstruir o diálogo entre grupos pertencentes a um antigo partido (isso é vital para os partidos mais antigos); reconstruir, sobretudo, a ética que exige um mínimo de lealdade dentro destas organizações.
5. É uma corrida contra a degradação do que vem em sentido contrário, que, não obstante, deixa em suspenso o inadiável trabalho de forjar uma alternativa. Desconstruir, sim, mas qual será de aqui em diante o conteúdo substantivo de uma desejável mudança para a oposição, diga de programar-se e de ser apresentada como uma alternativa crível? Até novo aviso, estes projetos são meramente virtuais.
6. Se consideramos valiosa esta praxe, são necessários dois requisitos complementares aos três atributos que mencionamos mais acima. O primeiro consiste no respeito a umas regras que jamais deveriam subordinar-se ao apetite das lideranças. Hoje, alguns partidos reforçam com remendos, itinerários personalistas, mais do que trajetórias institucionais. Esta experiência nos ensina que, nada na democracia esteja adquirido definitivamente.
7. Uma prudente combinação da ética da vitória com a ética da derrota nos partidos políticos pode ajudar a produzir melhores lideranças e manter, enquanto isso, a estabilidade das referidas organizações. É um critério para levar-se em conta. Todos querem ganhar, mas poucos sabem perder. Se não for assim, se difunde a mania de fazer uma cozinha à parte. Poderá ser reconstruída algum dia esta disciplina espontânea nos partidos? A pergunta fica aberta, tão aberta quanto a soma dos fracassos que, a este respeito, acumulamos.
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