quinta-feira, agosto 17, 2006

A Polícia Federal e as eleições

Aqui está o velho Bruxo!



Vocês já leram O Alienista, de Machado de Assis, pois não? Se não leram e não têm o livro em casa, aqui vocês podem ler os capítulos na tela fazer download da obra. Pois bem. Márcio Thomaz Bastos é o nosso Simão Bacamarte, o maluquete de Itaguaí que cismou que todo mundo estava louco e resolveu trancafiar a cidade na Casa Verde. Por que digo isso? Vocês já repararam na quantidade de operações da Polícia Federal? Hoje, aconteceu mais uma, como já devem ter lido nos sites ou lerão amanhã nos jornais.

Foram mobilizados 950 agentes e 350 servidores da Receita federal — 1.300 pessoas — para prender 95, na operação denominada Dilúvio. Deve ser uma referência à quantidade de gente envolvida: 13,68 para cada preso. Acho que foram disputados a tapa: “É meu, vi primeiro”. Dilúvio rima com Delúbio. Isso me faz lembrar que o Simão Bacamarte da PF, até agora, não meteu em cana uma só pessoa ligada ao mensalão.

Um jornalista dedicado, que não se deixe seduzir por esse espírito “pega e esfola” — já disse que só investigo advérbios e derivações impróprias — deveria fazer um calendário das atividades da PF de Márcio Thomaz Bacamarte: elas costumam crescer muito quando os governistas se enroscam em acusações e quando há eleições — em qualquer nível.

O tema é delicado, sei disso. Afinal, tocar no assunto — e não é a primeira vez que o faço —confunde-se com defender a impunidade. Mas me parece que alguns ladrões obscuros, se todos realmente forem culpados, acabam ocupando a cena de larápios de muito maior calibre e de mais alta esfera, que também deveriam estar em cana.

Lembro-me, por exemplo, da frase do ministro: “Caixa dois é crime”. É mesmo. E o que é feito dos criminosos? Estão disputando eleições. Pior: o partido do ministro — ou ao qual ele serve — recorreu à Justiça para tirar do ar o site da Transparência Brasil (www.transparencia.org.br), que comete a ousadia de apenas pôr na ar a biografia dos candidatos. E, claro, faz uma recomendação, mas em outra página: não vote em sanguessuga e mensaleiro. O PT entrou com uma notícia crime (!!!) contra a entidade. Nunca vi nada tão escancarado. É inédito.

Ok, toda PF tem de ir aonde o bandido está. Mas tem de ser todo e qualquer bandido. E também pode perfeitamente bem fazê-lo com mais discrição. Há um óbvio espalhafato nas ações. E se houver inocentes no meio dessa gente toda? Como fazer a reparação? Parece-me inequívoco que há um uso político das ações da Polícia Federal, ao menos no que respeita à forma como se dão as ações. O discurso de Lula em palanque e sua entrevista ao Jornal Nacional não deixaram a menor dúvida quanto a isso. A PF é hoje um forte elemento da propaganda oficial.

Não podemos nos esquecer — e este é um dos cuidados que as democracias têm de tomar — que o crime comum, ainda que contra ordem econômica, é sempre um excelente aliado de regimes autoritários ou totalitários. Sob o pretexto de combatê-lo, começam-se a enrijecer as articulações da democracia. Eu não gosto de toda essa saliência da Polícia Federal e desse uso político-eleitoral que se faz de sua “eficiência”.

Todas as ditaduras, as comunistas e as fascistas, sempre procuraram parecer implacáveis com os “corruptos”. Ocorre que todas elas sempre dependeram, para perdurar, da colaboração de corruptos amigos do regime. É só uma lembrança. “Nestepaiz”, centenas de agentes se mobilizam para prender uma dona de butique que não oferece resistência; “Nestepaiz”, ameaça-se derrubar o portão da casa de um dono de cervejaria. Mas, “Nestepaiz”, ainda não se viu mensaleiro de algemas. Ao contrário: alguns estão nos dando conselhos e, com o dedo em riste, ainda fazem ameaças.

Um comentário:

Dinara Lima disse...

Oi sempre venho aqui ler seu blog! beijão