sexta-feira, outubro 27, 2006

Vejam como Tony Belloto (Titãs) justifica seu voto em Alckmin

"Uau! Minha declaração de voto gerou uma polêmica danada. Não imaginei que fosse me deparar com uma tropa de debatedores aguerridos. Já que este é um jornal de debates, prossigamos então:
Admito que posso ser visto, como muitos disseram aqui, como um escritor de "pseudoromances", um autor de "musiquinhas" e membro de uma "bandinha" que aliena politicamente a "juventude" brasileira. Ok, ok. Posso ser um "Rui Barbosa chato" e tenho, realmente, uma esposa linda. Mas é injusto dizer que vivo num "condomínio fechado", pois não vivo, e que não conheço a "realidade das ruas". Os Titãs são das bandas mais estradeiras do Brasil, e viajamos o tempo todo fazendo shows por aí há vinte e cinco anos. Conhecemos a realidade brasileira de perto, do Oiapoque ao Chuí. Quem ouve nossas músicas sabe que temos uma postura crítica em relação aos problemas brasileiros.
Disseram que sou de direita, e eu não sou, minha obra comprova isso, mas a tomar como exemplo o que líderes da esquerda latino-americana (Chavez, Fidel, Evo) têm feito, tampouco me convenço de que ofereçam soluções eficazes para os graves problemas da América Latina.
Se revelei publicamente meu voto, foi porque descreio do voto nulo e professo a escolha entre um dos dois candidatos, pois um deles será eleito.
Assumo que não sou cientista político nem militante partidário, mas não sou desinformado. Leio os jornais todo os dias e ando pelas ruas como qualquer um. Entendo que para cada CPI enterrada por um tucano, há outra tentando ser enterrada por um petista. Para cada privatização, há em contrapartida a engorda de uma estatal. Para cada foto de Alckmin com Garotinho, há uma de Lula com Jader Barbalho. Enquanto isso crianças continuam pedindo esmola nas ruas, banqueiros continuam faturando adoidado e o Brasil continua batendo recordes negativos de desigualdade social, criminalidade e subdesenvolvimento.
Até nos programas de governo dos dois partidos há coincidência e afinidade. Se Lula segue a política econômica de FHC, um eventual governo tucano certamente prosseguirá com o Bolsa Família. Portanto não se discute aqui uma diferença fundamental de caminhos para o país. O Brasil – infelizmente -não será tão diferente nos próximos anos, seja governado pelo PSDB ou pelo PT.
O ponto que defendo é que Lula carrega, desde sempre, um valor simbólico muito forte. Lula é o símbolo do homem do povo que por mérito próprio superou dificuldades e tornou-se presidente da nação. É uma história bonita e ele é merecedor de sua glória. Mas é justamente essa imagem que, na minha opinião, foi arranhada pelos escândalos de corrupção em seu governo. E, vejam bem, não me refiro aqui a suspeitas de envolvimento desse ou daquele. Sei que a política não é praticada por vestais e querubins e que de vez em quando um problema ou outro pode acontecer.
Me refiro a fatos inegáveis, sistemáticos e comprovados: a propina do Valdomiro Diniz, valerioduto, mensalão, as tergiversações do Delúbio, os balbucios de Silvio Pereira e seu Land Rover, a dissimulação do Valério, os dólares na cueca, a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro a mando de Palocci, as quedas de Dirceu, Genoíno, Gushiken, Berzoini e do próprio Palocci, o escândalo do dossiê, as pilhas de dinheiro, as imagens do assessor do Mercadante carregando a mala com dinheiro suspeito, o pedido do MP à PF de indiciamento de Humberto Costa por envolvimento com a máfia dos sanguessugas, a afirmação do procurador geral da República de que uma "organização criminosa" forjara-se no seio do governo etc.
Essas irregularidades, sempre operadas por gente tão próxima ao presidente, levam à desconfiança de um procedimento perigoso por parte do governo e dos partidos que o apóiam. A teoria de que "os fins justificam os meios" é praticada com uma recorrência inaceitável.
Na minha opinião, o que se ameaça aqui é a própria democracia. Ou não?
Saudações aos que concordam e aos que discordam, sem conflito não se faz uma boa história.
Com vocês, a palavra.

Tony Bellotto."

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