Alguns trechos da resenha do livro biográfico - recém lançado - de Mauricio Dominguez Perez - LACERDA NA GUANABARA - escrita pelo prefeito Cesar Maia, que ele chamou de Devastadoramente Capaz, expressão usada no final do livro. Essa resenha - na integra - foi publicada no caderno MAIS da Folha de SP!
1. Blowback é uma expressão usada por alguns politólogos para definir uma ação política que aponta numa direção e produz um resultado inesperado e contrário ao objetivo inicial. Em grande medida, foi o que ocorreu com Carlos Lacerda a partir de sua candidatura a governador da Guanabara, em 1960. Jogava tudo, mesmo antes, na desestabilização dos governos do PSD e do PTB. E olhava para a sua meta: a eleição presidencial de 1965.
2. Maurício Dominguez Perez nos traz na melhor biografia sobre Carlos Lacerda. Para admiradores e críticos. Melhor por não ser fundamentalista - nem de um lado nem de outro - em relação a um político que tinha uma fronteira nítida entre os que o amavam e os que o odiavam. Melhor porque permite aos admiradores de Lacerda sublinhar suas opiniões. Melhor porque também permite aos críticos dele sublinhar suas opiniões, apesar da diagonal favorável do livro. Melhor porque o governo Lacerda não caiu do céu, mas surgiu da dinâmica anterior das prefeituras do então Distrito Federal.
3. Um comunicador como Lacerda, fundador ainda nos anos 1940 do discurso coloquial, sem fortes entonações, em que a série de sinonímias substituía com muito maior força o tom da voz, terminou perdendo a batalha da comunicação e terminou carregando, ao longo do tempo, a imagem de repressor dos pobres - mendigos e favelados - que lhe lançava a oposição.
4. A leitura atenta das inúmeras referências analisadas por Perez permite voltar ao efeito "blowback". Olhando certamente para 1965 - e para isso teria que sair do governo seis meses antes -, Lacerda estabeleceu um plano de metas que não poderia realizar em seu período de governo. Mas serviria para demonstrar ao país o que faria como presidente e as mudanças e reformas que estabeleceria, reconstruindo a máquina pública e usando muito melhor os recursos disponíveis.
Não contava, porém, com que o golpe de mão, abertamente defendido por ele desde a metade dos anos 50, acabasse sendo seu calvário.
5. Principalmente porque Castello Branco, o presidente escolhido pelos militares, se perfilava como lacerdista até 1964. Castello Branco produziu uma forte recessão, especialmente nos centros urbanos, como o Rio. A queda acentuada do PIB e, com ele, das receitas afundou o governo Lacerda num para-e-anda de obras, prejudicou até o pagamento dos servidores e culminou no atraso efetivo da folha antes das eleições. A oposição radical de Lacerda ao plano econômico de Roberto Campos-Bulhões é exemplo de sua fúria, que aumentou com o cancelamento da eleição presidencial de 1965. Um regime que em seu início descontinuou as ambições políticas de Lacerda, primeiro pelos fatos econômicos e, depois, pela vontade política, resultando mais tarde em sua cassação.
6. Não há melhor qualificação dele do que a encontrada no relatório da CIA de 31/12/1964, citado por Elio Gaspari antes e reproduzido por Perez no final de seu livro e que serve de título a esta resenha: devastadoramente capaz. Leitura insubstituível para quem quiser entender bem e melhor Lacerda, o Rio e o Brasil a partir dos anos 1960.
1. Blowback é uma expressão usada por alguns politólogos para definir uma ação política que aponta numa direção e produz um resultado inesperado e contrário ao objetivo inicial. Em grande medida, foi o que ocorreu com Carlos Lacerda a partir de sua candidatura a governador da Guanabara, em 1960. Jogava tudo, mesmo antes, na desestabilização dos governos do PSD e do PTB. E olhava para a sua meta: a eleição presidencial de 1965.
2. Maurício Dominguez Perez nos traz na melhor biografia sobre Carlos Lacerda. Para admiradores e críticos. Melhor por não ser fundamentalista - nem de um lado nem de outro - em relação a um político que tinha uma fronteira nítida entre os que o amavam e os que o odiavam. Melhor porque permite aos admiradores de Lacerda sublinhar suas opiniões. Melhor porque também permite aos críticos dele sublinhar suas opiniões, apesar da diagonal favorável do livro. Melhor porque o governo Lacerda não caiu do céu, mas surgiu da dinâmica anterior das prefeituras do então Distrito Federal.
3. Um comunicador como Lacerda, fundador ainda nos anos 1940 do discurso coloquial, sem fortes entonações, em que a série de sinonímias substituía com muito maior força o tom da voz, terminou perdendo a batalha da comunicação e terminou carregando, ao longo do tempo, a imagem de repressor dos pobres - mendigos e favelados - que lhe lançava a oposição.
4. A leitura atenta das inúmeras referências analisadas por Perez permite voltar ao efeito "blowback". Olhando certamente para 1965 - e para isso teria que sair do governo seis meses antes -, Lacerda estabeleceu um plano de metas que não poderia realizar em seu período de governo. Mas serviria para demonstrar ao país o que faria como presidente e as mudanças e reformas que estabeleceria, reconstruindo a máquina pública e usando muito melhor os recursos disponíveis.
Não contava, porém, com que o golpe de mão, abertamente defendido por ele desde a metade dos anos 50, acabasse sendo seu calvário.
5. Principalmente porque Castello Branco, o presidente escolhido pelos militares, se perfilava como lacerdista até 1964. Castello Branco produziu uma forte recessão, especialmente nos centros urbanos, como o Rio. A queda acentuada do PIB e, com ele, das receitas afundou o governo Lacerda num para-e-anda de obras, prejudicou até o pagamento dos servidores e culminou no atraso efetivo da folha antes das eleições. A oposição radical de Lacerda ao plano econômico de Roberto Campos-Bulhões é exemplo de sua fúria, que aumentou com o cancelamento da eleição presidencial de 1965. Um regime que em seu início descontinuou as ambições políticas de Lacerda, primeiro pelos fatos econômicos e, depois, pela vontade política, resultando mais tarde em sua cassação.
6. Não há melhor qualificação dele do que a encontrada no relatório da CIA de 31/12/1964, citado por Elio Gaspari antes e reproduzido por Perez no final de seu livro e que serve de título a esta resenha: devastadoramente capaz. Leitura insubstituível para quem quiser entender bem e melhor Lacerda, o Rio e o Brasil a partir dos anos 1960.
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