Já vi essa história antes. na década de 1970, os EUA também deixaram sua moeda depreciar

Trechos de artigo no Clarin dos economistas Ricardo Arriazu e Fernando Marengo.

1. Uma cuidadosa avaliação do comportamento dos preços nos últimos meses mostra que praticamente a totalidade desta aceleração está explicada pela ascensão nos preços dos alimentos e dos produtos energéticos, enquanto que o ritmo de incremento dos preços do resto dos produtos se manteve estável. O caso da China é dramático, uma vez que a inflação se elevou em poucos meses de 2,2% a 8,7%, aceleração explicada primordialmente por um incremento superior a 23% nos preços dos alimentos.

2. O índice de preços de alimentos, levantado pelo FMI, mostra uma duplicação desses preços desde 2003. Contudo, ao longo destes 58 meses, se observam períodos diferenciados: um primeiro período, que abarca desde o início da ascensão dos preços até maio de 2007, em que os preços dos alimentos se incrementaram a um ritmo mensal médio de 0,8% e um segundo, em que a subida de preços se acelera até alcançar um ritmo médio mensal de 3,3%.

3. Existem no mínimo quatro fatores que explicam a alta recente dos preços de alimentos (e da energia): a) o estancamento da produção mundial de cereais e de oleaginosas entre 1996 e 2003, de que resultou a uma baixa excessiva dos estoques mundiais desses produtos; b) uma crescente demanda de milho (e outros produtos) destinado à produção de bicombustíveis; c) a desvalorização do dólar, que, ao elevar os níveis das rendas mundiais medidos por esta moeda, eleva os preços mundiais; e d) a compra de produtos primários por parte de fundos especializados como forma de proteção contra a inflação.

4. Os dois primeiros fatores explicam grande parte da ascensão até ao mês de maio de 2007. Os últimos dos fatores explicam em grande medida a subida posterior. Esta situação é muito similar à registrada a princípios da década de 1970, tão pronto os EUA abandonaram a convertibilidade de sua moeda em relação ao ouro e deixaram sua moeda depreciar-se. Diante deste cenário, os investidores optaram por mudar seus portfólios, desfazendo-se de ativos financeiros e adquirindo ativos reais.