Uma resultante tem sido o entendimento que o conflito em política é danoso. Manuel Antonio Garreton (foto) - sociólogo e docente da U. do Chile - em artigo no Clarin de Buenos Aires, aprofunda o tema. Abaixo, trechos.
1. Instala-se, nos dias de hoje, uma nova ideologia, que proclama que todo consenso é bom e que todo o conflito é danoso e, então, deve-se negá-lo, evitá-lo ou superá-lo de qualquer maneira. A possibilidade de conflitos estruturais, é vista como uma ameaça à sobrevivência da sociedade, e, assim, o consenso a todo preço será usado como pretexto para isolar o "conflitivo" ou obrigá-lo a negociar e aceitar a solução que se impõe quando contraria interesses.
2. Estamos diante de uma mudança do papel da política em nossas sociedades, por um lado, no sentido de que ela não parece ser o campo exclusivo de definição de seu rumo, nem também de debate de grandes projetos ou de visões alternativas. Por outro lado, se produz uma exacerbação de conflitos particulares e parciais, em que há uma emergência de múltiplos e de novos fatores que lutam por seus direitos no espaço democrático e que não encontram no âmbito político um canal.
3. Como os conflitos propriamente políticos aparecem desligados da sociedade, aumenta a insegurança e a pressão para que “se ponham todos de acordo”.
4. Mas o debate e o conflito são condições necessárias para um consenso de fato, em especial naqueles grandes temas que constituem os fundamentos da convivência num país. Esses próprios consensos fundamentais também estão sempre em reformulação e aprofundamento, porque as percepções dos atores sociais vão variando.
5. Todo consenso que não está baseado em debates e conflitos corre o risco de ser a imposição de uma determinada relação de poder, ou seja, ao contrário de um consenso propriamente dito. Muitas das soluções apressadas para questões fundamentais ocorrem debaixo da ameaça da perda da unidade, pela pressão de grupos de poder artificial, por cálculos conjunturais. E, ao fim de um par de anos, se revelam erradas e tem de ser revistas inteiramente.
6. Neste sentido, as “comissões nacionais”, que se criam em algumas partes com distintos nomes, carentes de institucionalidade e de responsabilidade frente aos Parlamentos, se revelam mais como mecanismos de apaziguamento e de adiamento de conflitos que de solução real dos problemas.
7. Isto exige uma mudança nos partidos políticos, aos quais se deve dotar de recursos para que cumpram sua missão e gerem foros onde se encontrem cidadãos, políticos e funcionários do Estado, se recoloquem as universidades e os parlamentos na vida política nacional. E que nisso se incluam os meios de comunicação para que se expressem e se juntem ao debate público sem a tergiversação desses interesses.
8. Apenas depois de conflitos e de debates poderá esperar-se que o consenso sobre certos temas seja não o reflexo unilateral de certas visões e interesses particulares, mas a expressão de um autêntico projeto nacional em todas as áreas.
1. Instala-se, nos dias de hoje, uma nova ideologia, que proclama que todo consenso é bom e que todo o conflito é danoso e, então, deve-se negá-lo, evitá-lo ou superá-lo de qualquer maneira. A possibilidade de conflitos estruturais, é vista como uma ameaça à sobrevivência da sociedade, e, assim, o consenso a todo preço será usado como pretexto para isolar o "conflitivo" ou obrigá-lo a negociar e aceitar a solução que se impõe quando contraria interesses.
2. Estamos diante de uma mudança do papel da política em nossas sociedades, por um lado, no sentido de que ela não parece ser o campo exclusivo de definição de seu rumo, nem também de debate de grandes projetos ou de visões alternativas. Por outro lado, se produz uma exacerbação de conflitos particulares e parciais, em que há uma emergência de múltiplos e de novos fatores que lutam por seus direitos no espaço democrático e que não encontram no âmbito político um canal.
3. Como os conflitos propriamente políticos aparecem desligados da sociedade, aumenta a insegurança e a pressão para que “se ponham todos de acordo”.
4. Mas o debate e o conflito são condições necessárias para um consenso de fato, em especial naqueles grandes temas que constituem os fundamentos da convivência num país. Esses próprios consensos fundamentais também estão sempre em reformulação e aprofundamento, porque as percepções dos atores sociais vão variando.
5. Todo consenso que não está baseado em debates e conflitos corre o risco de ser a imposição de uma determinada relação de poder, ou seja, ao contrário de um consenso propriamente dito. Muitas das soluções apressadas para questões fundamentais ocorrem debaixo da ameaça da perda da unidade, pela pressão de grupos de poder artificial, por cálculos conjunturais. E, ao fim de um par de anos, se revelam erradas e tem de ser revistas inteiramente.
6. Neste sentido, as “comissões nacionais”, que se criam em algumas partes com distintos nomes, carentes de institucionalidade e de responsabilidade frente aos Parlamentos, se revelam mais como mecanismos de apaziguamento e de adiamento de conflitos que de solução real dos problemas.
7. Isto exige uma mudança nos partidos políticos, aos quais se deve dotar de recursos para que cumpram sua missão e gerem foros onde se encontrem cidadãos, políticos e funcionários do Estado, se recoloquem as universidades e os parlamentos na vida política nacional. E que nisso se incluam os meios de comunicação para que se expressem e se juntem ao debate público sem a tergiversação desses interesses.
8. Apenas depois de conflitos e de debates poderá esperar-se que o consenso sobre certos temas seja não o reflexo unilateral de certas visões e interesses particulares, mas a expressão de um autêntico projeto nacional em todas as áreas.
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