Bryan McCan - Georgetown University.
Trechos extraídos do artigo publicado na Latin American Research Review - october 2006. University of Texas Press.
"O problema das gangues nas favelas do Rio é basicamente de controle territorial e só secundariamente de tráfico de drogas, propriamente".
1. Quantas pessoas existem em média num iglu típico de esquimó? -Cinco: o pai e mãe esquimós, seus dois filhos e um antropólogo. A mesma piada poderia ser feita sobre as favelas do Rio de Janeiro, com antropólogos, sociólogos, cientistas políticos, ONGs... Nos últimos quarenta anos as favelas do Rio têm estado entre os bairros de baixa renda mais estudados do mundo.
2. Muitas favelas menores nas partes remotas da cidade ainda não viram seus antropólogos. Resulta daí que a produção universitária permaneça desequilibrada. Temos hoje conhecimento abundante sobre as favelas da Zona Sul, a área da cidade que concentra também bairros residenciais de classe média e hotéis para turistas, e muito pouco sobre as favelas da Zona Oeste - que crescem rapidamente.
3. Os moradores que resistiam ao tráfico de drogas corriam o risco de serem assassinados, enquanto os que colaboravam corriam o risco de retaliação com a invasão de um grupo rival. Estudo da assembléia estadual diz que 100 líderes comunitários foram assassinados e outros 100 expulsos pelas gangues de drogas no Rio, entre 1992 e 2001.
4. A associação de Rio das Pedras faz parte de um número dolorosamente pequeno de exceções a esse respeito. Lá agiram prematura e violentamente para manter o tráfico de drogas fora e mantiveram essa defesa forte nos últimos 20 anos. Ao suprimir a dissidência pela intimidação, a associação de Rio das Pedras assume algumas das características autoritárias das gangues de drogas contra as quais milita, mas pelo menos é menos tirânica, menos violenta e não é inerentemente instável em seu mando.
5. Hoje em relação a 1976 (quando Janice Perlman derrubou o mito da marginalização), na maior parte dos aspectos, as favelas estão mais fortemente ligadas à cidade formal. Elas têm diversidade econômica cada vez maior e geraram sua própria classe média de empresários, proprietários, funcionários públicos e agentes de ONGs. Suas infra-estruturas melhoraram dramaticamente. A presença dos governos municipal e estadual já é tangível no dia a dia das favelas através de projetos de obras públicas em larga escala e esforços contínuos de agentes de campo que oferecem uma série de diversos serviços públicos.
6. Duas verdades. A primeira é que além de assassinas e predatórias, as gangues de drogas também constituem um dreno imenso do comércio local, aplicando altas taxas sobre os negócios formais e informais, e até mesmo cobrando pedágio de entrada. As diversas iniciativas para fornecer microcrédito aos empreendedores da favela podem ou não aumentar a atividade comercial e criar emprego nas favelas, mas certamente ajudam os bolsos dos lideres destas gangues. A próspera vida comercial em Rio das Pedras onde os empresários têm custos de segurança comparativamente mais baixos permanece como um contra-exemplo curioso.
7. A segunda verdade é que o problema das gangues nas favelas do Rio é basicamente de controle territorial e só secundariamente de tráfico de drogas propriamente.
Trechos extraídos do artigo publicado na Latin American Research Review - october 2006. University of Texas Press.
"O problema das gangues nas favelas do Rio é basicamente de controle territorial e só secundariamente de tráfico de drogas, propriamente".
1. Quantas pessoas existem em média num iglu típico de esquimó? -Cinco: o pai e mãe esquimós, seus dois filhos e um antropólogo. A mesma piada poderia ser feita sobre as favelas do Rio de Janeiro, com antropólogos, sociólogos, cientistas políticos, ONGs... Nos últimos quarenta anos as favelas do Rio têm estado entre os bairros de baixa renda mais estudados do mundo.
2. Muitas favelas menores nas partes remotas da cidade ainda não viram seus antropólogos. Resulta daí que a produção universitária permaneça desequilibrada. Temos hoje conhecimento abundante sobre as favelas da Zona Sul, a área da cidade que concentra também bairros residenciais de classe média e hotéis para turistas, e muito pouco sobre as favelas da Zona Oeste - que crescem rapidamente.
3. Os moradores que resistiam ao tráfico de drogas corriam o risco de serem assassinados, enquanto os que colaboravam corriam o risco de retaliação com a invasão de um grupo rival. Estudo da assembléia estadual diz que 100 líderes comunitários foram assassinados e outros 100 expulsos pelas gangues de drogas no Rio, entre 1992 e 2001.
4. A associação de Rio das Pedras faz parte de um número dolorosamente pequeno de exceções a esse respeito. Lá agiram prematura e violentamente para manter o tráfico de drogas fora e mantiveram essa defesa forte nos últimos 20 anos. Ao suprimir a dissidência pela intimidação, a associação de Rio das Pedras assume algumas das características autoritárias das gangues de drogas contra as quais milita, mas pelo menos é menos tirânica, menos violenta e não é inerentemente instável em seu mando.
5. Hoje em relação a 1976 (quando Janice Perlman derrubou o mito da marginalização), na maior parte dos aspectos, as favelas estão mais fortemente ligadas à cidade formal. Elas têm diversidade econômica cada vez maior e geraram sua própria classe média de empresários, proprietários, funcionários públicos e agentes de ONGs. Suas infra-estruturas melhoraram dramaticamente. A presença dos governos municipal e estadual já é tangível no dia a dia das favelas através de projetos de obras públicas em larga escala e esforços contínuos de agentes de campo que oferecem uma série de diversos serviços públicos.
6. Duas verdades. A primeira é que além de assassinas e predatórias, as gangues de drogas também constituem um dreno imenso do comércio local, aplicando altas taxas sobre os negócios formais e informais, e até mesmo cobrando pedágio de entrada. As diversas iniciativas para fornecer microcrédito aos empreendedores da favela podem ou não aumentar a atividade comercial e criar emprego nas favelas, mas certamente ajudam os bolsos dos lideres destas gangues. A próspera vida comercial em Rio das Pedras onde os empresários têm custos de segurança comparativamente mais baixos permanece como um contra-exemplo curioso.
7. A segunda verdade é que o problema das gangues nas favelas do Rio é basicamente de controle territorial e só secundariamente de tráfico de drogas propriamente.
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