Trechos do artigo do historiador e politólogo, Natalio Botana para La Nacion. Aliás, perfeitamente adaptável aqui.
1. Contudo, as reformas eleitorais são apenas um ponto sobressalente num campo minado por critérios que subordinam a autoridade do Estado às apetências dos governos. Se os governos, com suas diversas facções, se confundem com o Estado, usando e abusando de instituições destinadas a toda a população, então qualquer reforma eleitoral que se empreenda poderia reproduzir, com sucessivas voltas no parafuso, o mesmo esquema de dominação.
2. Embora esse jogo seja praticado pela rede de caciques, que nos vários distritos procuram fabricar um voto útil de acordo com seus desígnios, é preciso recordar que esses perturbadores da livre vontade cidadã formam parte do Estado em seus três níveis (no nacional, no estadual e no municipal). O Estado se converte, dessa maneira, na maquinaria eleitoral de um partido. Não é um instrumento da sociedade a serviço do bem comum, mas um instrumento do governo a serviço de seu interesse particular.
3. Diversos exemplos históricos ilustram este dilema. Na literatura especializada se registra habitualmente o ano de 1832, quando o Parlamento aprovou na Inglaterra a primeira reforma eleitoral inscrita num longo processo de extensão do voto. Os técnicos costumam destacar as modificações atinentes ao tamanho dos distritos e aos procedimentos adotados para converter os votos em bancadas, mas não sublinham com a mesma ênfase – pelo menos em nosso país – o fato de que, um ano mais tarde, se hajam posto em execução na Inglaterra as primeiras leis para instaurar o serviço civil do Estado, baseado no mérito, o concurso e a avaliação dos candidatos a ocupar cargos na burocracia.
4. Sem o serviço público, não há Estado capaz de merecer esse nome, da mesma forma que, sem boas leis eleitorais, não há representação política que afiance a qualidade da democracia. Como se poderá observar estão aqui em jogo as legitimidades: uma que vem de baixo, por meio das eleições, e outra que vem de cima, mediante as articulações dos corpos profissionais e neutros do Estado.
5. Será preciso insistir nesses argumentos para precaver, uma vez mais, o caráter invertebrado do Estado argentino? Levada até suas últimas conseqüências, esta maneira espúria de agenciar o poder afeta diretamente a base eleitoral da democracia e impede o cumprimento do compromisso fundamental de garantir a transparência das eleições.
6. O Estado emerge como um botim pronto para ser capturado por partidos, sindicatos ou organizações ad hoc. Tivemos entre nós experiências de todo o tipo de aumento, de redução, de emprego do Estado para os fins mais perversos e criminosos. No entanto, em nenhuma delas se logrou constituir um Estado em forma, apto para servir, e não somente para dominar. Talvez estas considerações nos sirvam para entender que nossa meta é uma reforma política que abarque simultaneamente a reforma eleitoral e a reforma do Estado. É hora, portanto, de por as mãos na obra e nada é melhor do que proporcionar este debate ao Congresso da Nação para remontar, entre outros motivos, seu baixo prestígio.
1. Contudo, as reformas eleitorais são apenas um ponto sobressalente num campo minado por critérios que subordinam a autoridade do Estado às apetências dos governos. Se os governos, com suas diversas facções, se confundem com o Estado, usando e abusando de instituições destinadas a toda a população, então qualquer reforma eleitoral que se empreenda poderia reproduzir, com sucessivas voltas no parafuso, o mesmo esquema de dominação.
2. Embora esse jogo seja praticado pela rede de caciques, que nos vários distritos procuram fabricar um voto útil de acordo com seus desígnios, é preciso recordar que esses perturbadores da livre vontade cidadã formam parte do Estado em seus três níveis (no nacional, no estadual e no municipal). O Estado se converte, dessa maneira, na maquinaria eleitoral de um partido. Não é um instrumento da sociedade a serviço do bem comum, mas um instrumento do governo a serviço de seu interesse particular.
3. Diversos exemplos históricos ilustram este dilema. Na literatura especializada se registra habitualmente o ano de 1832, quando o Parlamento aprovou na Inglaterra a primeira reforma eleitoral inscrita num longo processo de extensão do voto. Os técnicos costumam destacar as modificações atinentes ao tamanho dos distritos e aos procedimentos adotados para converter os votos em bancadas, mas não sublinham com a mesma ênfase – pelo menos em nosso país – o fato de que, um ano mais tarde, se hajam posto em execução na Inglaterra as primeiras leis para instaurar o serviço civil do Estado, baseado no mérito, o concurso e a avaliação dos candidatos a ocupar cargos na burocracia.
4. Sem o serviço público, não há Estado capaz de merecer esse nome, da mesma forma que, sem boas leis eleitorais, não há representação política que afiance a qualidade da democracia. Como se poderá observar estão aqui em jogo as legitimidades: uma que vem de baixo, por meio das eleições, e outra que vem de cima, mediante as articulações dos corpos profissionais e neutros do Estado.
5. Será preciso insistir nesses argumentos para precaver, uma vez mais, o caráter invertebrado do Estado argentino? Levada até suas últimas conseqüências, esta maneira espúria de agenciar o poder afeta diretamente a base eleitoral da democracia e impede o cumprimento do compromisso fundamental de garantir a transparência das eleições.
6. O Estado emerge como um botim pronto para ser capturado por partidos, sindicatos ou organizações ad hoc. Tivemos entre nós experiências de todo o tipo de aumento, de redução, de emprego do Estado para os fins mais perversos e criminosos. No entanto, em nenhuma delas se logrou constituir um Estado em forma, apto para servir, e não somente para dominar. Talvez estas considerações nos sirvam para entender que nossa meta é uma reforma política que abarque simultaneamente a reforma eleitoral e a reforma do Estado. É hora, portanto, de por as mãos na obra e nada é melhor do que proporcionar este debate ao Congresso da Nação para remontar, entre outros motivos, seu baixo prestígio.
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