Por Jorge Fernández Diaz - La Nacion - Trechos.
1. Não diria que a política seja assimilável à literatura ou à pintura, porém posso assegurar-lhes que se trata de uma arte maior e que sua prática necessita uma vocação tão profunda e abnegada tal como um artista verdadeiro se auto-impõe. Em vinte e cinco anos de jornalismo conheci apenas um dirigente de primeiro nível que não era um animal político. Um homem sem tempo livre, quase um prisioneiro da matéria que domina. As vocações vulcânicas apagam o homem do mundo, deixam suas famílias perplexas e também suas necessidades mundanas, e como todo ato de amor torrencial, trata-se de um ato obsessivo.
2. Ninguém consegue chegar aos primeiros lugares sem possuir esse fogo sagrado. Comparar a política real com a política corporativa das empresas é, portanto, um amargo equívoco. A política, apesar de todos os seus gurus e politicólogos, resiste às regras do gerenciamento ortodoxo e da ciência pura. No mundo dos negócios, um mais um são dois. Na política, como todo mundo sabe, dois mais dois não são necessariamente quatro. Os que não são políticos são homens de ideologia pasteurizada, que igualmente se apossam das posições de "centro", e do livre mercado, e que começaram a se meter no lodo da história.
3. Alguns se sentem, no fundo de seus corações, injustamente derrotados por “políticos medíocres" e 'burocratas clientelistas". Eles, os príncipes da nova política, eficientes e limpos, cursaram a universidade e conhecem o mundo: são bastante viajados. Como é possível que possamos ser derrotados por esses políticos de cabotagem, esses imprestáveis de sempre, se perguntam eles. Alguns desses gerentes da nova política dormem com a mala fechada ao lado da cama. Estão sempre prontos para voltar ao setor privado ruminando uma queixa:” Sou demasiado bom e honesto para ficar na política".
4. Na verdade, esquecem que os verdadeiros militantes políticos não têm para onde voltar, porque pertencem de corpo e alma à luta política. Porque não poderiam fazer outra coisa, pelo simples fato de que nasceram para aquilo, porque resolveram agir de uma fora extrema. Um gerente é demasiadamente cerebral e possui um demasiado "sentido comum" para agir assim. Um militante é medido, não apenas pelo modo com que reage a uma vitória, mas sim como se recupera de suas derrotas. Esses senhores necessitam um exame profundo para entender o que está ocorrendo com eles. Na verdade são amadores pensando que são profissionais. Não dominam o assunto completamente, e no fundo, o depreciam um pouco.
5. Toda a nova política está cheia desses personagens bonzinhos e amorfos: Aves de arribação querendo comer as feras ainda cruas. Não é possível ensinar política a um incapaz, assim como não se pode ensinar política a que não tem ouvidos. Entender a política entendê-la de verdade, é um Dom: ou se tem ou não o tem. É um saber que não se adquire nos livros nem nos claustros. Esse saber é adquirido nas ruas e de maneira visceral. O que quero dizer é que parecem possuir grandes convicções, porém lhes falta paciência e flexibilidade para organizar partidos políticos consistentes, com alas de esquerda e de direita, com democracia interna e participação.
6. Abertamente individualistas, um dia recebem três milhões de votos e no dia seguinte não recebem voto nenhum. Têm uma estranha alergia, contagiada pelos pesquisadores de opinião e a “opinião pública" mais toscas dos comentaristas automáticos das rádios, que consiste em acreditar que toda aliança é a Aliança, ou seja, uma montagem invertebrada e incoerente que fracassa ao governar. E também que todo pacto político, é uma aliança para dividir favores.
7. Sem dominar o assunto, sem vocação nem visão pública, sem sentido comum, sem pragmatismo e sem humildade, sem capacidade para compor uma idéia, julgam estar num lugar mas estão em outro. Só se consegue mudar a história com esse apetite insaciável, com essa paixão que um frio gerente não pode gerenciar. Talvez nem sequer possa compreender. A nova política não pode amadurecer nas mãos daqueles que não são políticos.
1. Não diria que a política seja assimilável à literatura ou à pintura, porém posso assegurar-lhes que se trata de uma arte maior e que sua prática necessita uma vocação tão profunda e abnegada tal como um artista verdadeiro se auto-impõe. Em vinte e cinco anos de jornalismo conheci apenas um dirigente de primeiro nível que não era um animal político. Um homem sem tempo livre, quase um prisioneiro da matéria que domina. As vocações vulcânicas apagam o homem do mundo, deixam suas famílias perplexas e também suas necessidades mundanas, e como todo ato de amor torrencial, trata-se de um ato obsessivo.
2. Ninguém consegue chegar aos primeiros lugares sem possuir esse fogo sagrado. Comparar a política real com a política corporativa das empresas é, portanto, um amargo equívoco. A política, apesar de todos os seus gurus e politicólogos, resiste às regras do gerenciamento ortodoxo e da ciência pura. No mundo dos negócios, um mais um são dois. Na política, como todo mundo sabe, dois mais dois não são necessariamente quatro. Os que não são políticos são homens de ideologia pasteurizada, que igualmente se apossam das posições de "centro", e do livre mercado, e que começaram a se meter no lodo da história.
3. Alguns se sentem, no fundo de seus corações, injustamente derrotados por “políticos medíocres" e 'burocratas clientelistas". Eles, os príncipes da nova política, eficientes e limpos, cursaram a universidade e conhecem o mundo: são bastante viajados. Como é possível que possamos ser derrotados por esses políticos de cabotagem, esses imprestáveis de sempre, se perguntam eles. Alguns desses gerentes da nova política dormem com a mala fechada ao lado da cama. Estão sempre prontos para voltar ao setor privado ruminando uma queixa:” Sou demasiado bom e honesto para ficar na política".
4. Na verdade, esquecem que os verdadeiros militantes políticos não têm para onde voltar, porque pertencem de corpo e alma à luta política. Porque não poderiam fazer outra coisa, pelo simples fato de que nasceram para aquilo, porque resolveram agir de uma fora extrema. Um gerente é demasiadamente cerebral e possui um demasiado "sentido comum" para agir assim. Um militante é medido, não apenas pelo modo com que reage a uma vitória, mas sim como se recupera de suas derrotas. Esses senhores necessitam um exame profundo para entender o que está ocorrendo com eles. Na verdade são amadores pensando que são profissionais. Não dominam o assunto completamente, e no fundo, o depreciam um pouco.
5. Toda a nova política está cheia desses personagens bonzinhos e amorfos: Aves de arribação querendo comer as feras ainda cruas. Não é possível ensinar política a um incapaz, assim como não se pode ensinar política a que não tem ouvidos. Entender a política entendê-la de verdade, é um Dom: ou se tem ou não o tem. É um saber que não se adquire nos livros nem nos claustros. Esse saber é adquirido nas ruas e de maneira visceral. O que quero dizer é que parecem possuir grandes convicções, porém lhes falta paciência e flexibilidade para organizar partidos políticos consistentes, com alas de esquerda e de direita, com democracia interna e participação.
6. Abertamente individualistas, um dia recebem três milhões de votos e no dia seguinte não recebem voto nenhum. Têm uma estranha alergia, contagiada pelos pesquisadores de opinião e a “opinião pública" mais toscas dos comentaristas automáticos das rádios, que consiste em acreditar que toda aliança é a Aliança, ou seja, uma montagem invertebrada e incoerente que fracassa ao governar. E também que todo pacto político, é uma aliança para dividir favores.
7. Sem dominar o assunto, sem vocação nem visão pública, sem sentido comum, sem pragmatismo e sem humildade, sem capacidade para compor uma idéia, julgam estar num lugar mas estão em outro. Só se consegue mudar a história com esse apetite insaciável, com essa paixão que um frio gerente não pode gerenciar. Talvez nem sequer possa compreender. A nova política não pode amadurecer nas mãos daqueles que não são políticos.
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