Trechos do artigo de Gabriel Tortella (foto) (catedrático emérito na Universidade de Alcalá) em 25/09/08, El País.
1. Para uma pessoa com alguns anos de idade e alguma leitura da História, a presente crise tem algo de monótono, de repetitivo, de déjà-vu. As crises e os ciclos são, como seu nome o indica, recorrentes: acontecem periodicamente, a cada determinado número de anos. As flutuações econômicas ocorrem porque a gente não aprende com o passado.
2. Há muitas teorias a respeito. Eu vou propor aqui uma variante daquela que são denominadas de "teorias psicológicas do ciclo". Eu afirmo que as flutuações econômicas se devem a que a gente não sabe História; trata-se de uma variante do conhecido aforismo de George Santayana, não vulgar, menos atinado: "Os que não recordam o passado estão condenados a repeti-lo”.
3. A maior parte dos serem humanos se comporta como se o presente fosse durar indefinidamente: mais tecnicamente, extrapolam o presente para o futuro. As decisões econômicas são tomadas como se o futuro fosse ser uma simples continuação do presente, o que implica pensar que a economia irá evoluir de maneira contínua, e não cíclica. E é isso, precisamente, que causa os ciclos: não se acredita que irá acontecer.
4. Em economia, as expectativas se realizam por si mesmas. Mas, em outros casos, como neste, se produz o efeito contrário: as expectativas, no longo prazo, se voltam contra elas mesmas. Porém, a grande pergunta é: quanto tempo vai durar esta crise? A História diz algo sobre isso? A única coisa evidente é que pode durar 10 anos. É verdade que as mais recentes, que antes citei, duraram cerca de 2 ou 3 anos.
5. Mas esta crise tem aparência de ser duradoura a nível internacional, porque existem graves incertezas acerca dos preços relativos de produtos tão importantes, como o petróleo e os alimentos, porque esta larga década precedente de baixos níveis de juros estimulou investimentos em setores cuja viabilidade está agora sendo contraditada e porque, após as recentes catástrofes nas bolsas, levará muito tempo para reconstruir um sistema internacional de crédito, hoje em ruínas.
6. Contudo, uma vez no poder, se fez muito pouco para prevenir uma crise anunciada com lucidez: nem frear os gastos para aumentar o superávit em tempos de bonança, nem reformar as estruturas de distribuição para melhorar a competitividade e moderar os preços, nem modernizar os centros de ensino e de investigação para livrar-nos da dependência tecnológica e melhorar a produtividade.
7. Se quisermos uma recomendação eficaz para paliar futuras crises, aqui vai uma: estudar mais História. Tem ela muito para nos ensinar.
1. Para uma pessoa com alguns anos de idade e alguma leitura da História, a presente crise tem algo de monótono, de repetitivo, de déjà-vu. As crises e os ciclos são, como seu nome o indica, recorrentes: acontecem periodicamente, a cada determinado número de anos. As flutuações econômicas ocorrem porque a gente não aprende com o passado.
2. Há muitas teorias a respeito. Eu vou propor aqui uma variante daquela que são denominadas de "teorias psicológicas do ciclo". Eu afirmo que as flutuações econômicas se devem a que a gente não sabe História; trata-se de uma variante do conhecido aforismo de George Santayana, não vulgar, menos atinado: "Os que não recordam o passado estão condenados a repeti-lo”.
3. A maior parte dos serem humanos se comporta como se o presente fosse durar indefinidamente: mais tecnicamente, extrapolam o presente para o futuro. As decisões econômicas são tomadas como se o futuro fosse ser uma simples continuação do presente, o que implica pensar que a economia irá evoluir de maneira contínua, e não cíclica. E é isso, precisamente, que causa os ciclos: não se acredita que irá acontecer.
4. Em economia, as expectativas se realizam por si mesmas. Mas, em outros casos, como neste, se produz o efeito contrário: as expectativas, no longo prazo, se voltam contra elas mesmas. Porém, a grande pergunta é: quanto tempo vai durar esta crise? A História diz algo sobre isso? A única coisa evidente é que pode durar 10 anos. É verdade que as mais recentes, que antes citei, duraram cerca de 2 ou 3 anos.
5. Mas esta crise tem aparência de ser duradoura a nível internacional, porque existem graves incertezas acerca dos preços relativos de produtos tão importantes, como o petróleo e os alimentos, porque esta larga década precedente de baixos níveis de juros estimulou investimentos em setores cuja viabilidade está agora sendo contraditada e porque, após as recentes catástrofes nas bolsas, levará muito tempo para reconstruir um sistema internacional de crédito, hoje em ruínas.
6. Contudo, uma vez no poder, se fez muito pouco para prevenir uma crise anunciada com lucidez: nem frear os gastos para aumentar o superávit em tempos de bonança, nem reformar as estruturas de distribuição para melhorar a competitividade e moderar os preços, nem modernizar os centros de ensino e de investigação para livrar-nos da dependência tecnológica e melhorar a produtividade.
7. Se quisermos uma recomendação eficaz para paliar futuras crises, aqui vai uma: estudar mais História. Tem ela muito para nos ensinar.
Um comentário:
É aquela velha história de sempre:
"Aqueles que não aprendem com os erros do passado estão condenados a repetí-los eternamente." (Quem foi mesmo o autor dessa frase?)
Mas fazer o quê? Depois da bolha do "dot-com" e da "festa imobiliária", espere um pouco que brevemente vem aí a "bolha verde", ou algo similar (lembre disso daqui uns dois ou três anos)...
P.S.: cada povo tem o governo que merece - quem mandou votar nos republicanos.
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