As lições emanadas da primeira etapa do pleito municipal consolidam convicções e aprofundam aprendizados indispensáveis para o observador da cena política nacional.
As eleições realizadas no último domingo estamparam sem rasuras a fragilidade dos partidos políticos. Como afirmei da tribuna no meu primeiro pronunciamento após a divulgação dos resultados, estamos assistindo à falência partidária no Brasil. Não temos partidos programáticos, mas siglas para registro de candidaturas que se associam para eleger. E, nessa associação, assiste-se a alianças estapafúrdias. Estabelece-se uma espécie de geléia geral, uma balbúrdia capaz de impingir muitas dúvidas ao eleitor, por mais esclarecido que seja. Na verdade, consagra-se uma anarquia programática.
Na reta final da campanha, no Paraná, testemunhei no próprio peito a confusão generalizada em que se transformou o nosso cenário eleitoral. Em determinado dia fui a oito cidades diferentes e coloquei na camisa oito números diferentes. O PSDB coligado com o PT, o PSDB coligado com o PCdoB, os democratas coligados com o PT.
A anarquia geral e irrestrita configura de forma inequívoca um quadro partidário carcomido. O excesso de siglas é sintoma que se exacerba a cada pleito eleitoral. Podemos denominá-las de qualquer alcunha, menos partidos políticos. As afinidades ideológicas e a observância aos preceitos programáticos são letra morta de estatutos ficcionais.
Presenciei no plenário do Senado Federal o esforço de lideranças governistas que interpretaram o resultado das eleições como uma vitória do governo. Mas como? Não se trata de vitória "oficial" e muito menos da oposição. O pleito foi essencialmente municipal, com questões paroquiais prevalecendo e relações de natureza política locais definindo as alianças que disputaram as eleições. Portanto, não há que se fazer cotejamento entre governo e oposição.
Não posso deixar de registrar que são poucos os oposicionistas no país atualmente, seja no município, no estado ou na União. Não me reporto apenas à oposição ao governo federal. Faço referência à oposição ao PSDB, aos democratas, ao PMDB. Não importa o partido que esteja no poder, a oposição desaparece.
Sem maiores delongas esse é o quadro real da política brasileira. Não há como ignorar essa realidade. A falência partidária está nos convocando a uma ação responsável para promovermos uma reforma política que confira ao Brasil um modelo compatível com a nossa realidade. O que aí está já foi condenado.
Discordo de algumas análises que insistem em estabelecer paralelos e previsões eleitorais para 2010, com base nas eleições de 2008. Não há como se estabelecer um parâmetro, porque as eleições de 2010 se darão, mais uma vez, em torno de nomes, e não de partidos políticos. Os nomes é que aglutinarão forças partidárias díspares, heterogêneas, em razão do dilaceramento programático partidário. Aliás, o governo atual é um exemplo disso: forças partidárias contraditórias dão suporte a um governo absolutamente heterogêneo, que não tem uma face definida. É essa a política brasileira, e dizer outra coisa é falsidade.
Devemos reconhecer que avançamos no processo eleitoral. O aprimoramento da legislação determinando o fim daquela parafernália nas ruas das cidades - a pirotecnia do "showmício" e o bazar de brindes, camisetas, bonés - trouxe economia e respeito ao eleitor, que adquiriu maior independência no ato de julgar e eleger. Tive a satisfação e a surpresa de participar de grandes concentrações populares. A tese de que o povo comparecia aos comícios apenas para ver artistas não se confirma. A população, quando motivada, comparece à praça pública, e não o faz de coração vazio.
Há muito a ser feito e o itinerário da reforma política é rigorosamente incontornável. Não podemos olvidar a esperança que nutrimos por dias melhores, mas o espaço para encenação deixou de existir.
As eleições realizadas no último domingo estamparam sem rasuras a fragilidade dos partidos políticos. Como afirmei da tribuna no meu primeiro pronunciamento após a divulgação dos resultados, estamos assistindo à falência partidária no Brasil. Não temos partidos programáticos, mas siglas para registro de candidaturas que se associam para eleger. E, nessa associação, assiste-se a alianças estapafúrdias. Estabelece-se uma espécie de geléia geral, uma balbúrdia capaz de impingir muitas dúvidas ao eleitor, por mais esclarecido que seja. Na verdade, consagra-se uma anarquia programática.
Na reta final da campanha, no Paraná, testemunhei no próprio peito a confusão generalizada em que se transformou o nosso cenário eleitoral. Em determinado dia fui a oito cidades diferentes e coloquei na camisa oito números diferentes. O PSDB coligado com o PT, o PSDB coligado com o PCdoB, os democratas coligados com o PT.
A anarquia geral e irrestrita configura de forma inequívoca um quadro partidário carcomido. O excesso de siglas é sintoma que se exacerba a cada pleito eleitoral. Podemos denominá-las de qualquer alcunha, menos partidos políticos. As afinidades ideológicas e a observância aos preceitos programáticos são letra morta de estatutos ficcionais.
Presenciei no plenário do Senado Federal o esforço de lideranças governistas que interpretaram o resultado das eleições como uma vitória do governo. Mas como? Não se trata de vitória "oficial" e muito menos da oposição. O pleito foi essencialmente municipal, com questões paroquiais prevalecendo e relações de natureza política locais definindo as alianças que disputaram as eleições. Portanto, não há que se fazer cotejamento entre governo e oposição.
Não posso deixar de registrar que são poucos os oposicionistas no país atualmente, seja no município, no estado ou na União. Não me reporto apenas à oposição ao governo federal. Faço referência à oposição ao PSDB, aos democratas, ao PMDB. Não importa o partido que esteja no poder, a oposição desaparece.
Sem maiores delongas esse é o quadro real da política brasileira. Não há como ignorar essa realidade. A falência partidária está nos convocando a uma ação responsável para promovermos uma reforma política que confira ao Brasil um modelo compatível com a nossa realidade. O que aí está já foi condenado.
Discordo de algumas análises que insistem em estabelecer paralelos e previsões eleitorais para 2010, com base nas eleições de 2008. Não há como se estabelecer um parâmetro, porque as eleições de 2010 se darão, mais uma vez, em torno de nomes, e não de partidos políticos. Os nomes é que aglutinarão forças partidárias díspares, heterogêneas, em razão do dilaceramento programático partidário. Aliás, o governo atual é um exemplo disso: forças partidárias contraditórias dão suporte a um governo absolutamente heterogêneo, que não tem uma face definida. É essa a política brasileira, e dizer outra coisa é falsidade.
Devemos reconhecer que avançamos no processo eleitoral. O aprimoramento da legislação determinando o fim daquela parafernália nas ruas das cidades - a pirotecnia do "showmício" e o bazar de brindes, camisetas, bonés - trouxe economia e respeito ao eleitor, que adquiriu maior independência no ato de julgar e eleger. Tive a satisfação e a surpresa de participar de grandes concentrações populares. A tese de que o povo comparecia aos comícios apenas para ver artistas não se confirma. A população, quando motivada, comparece à praça pública, e não o faz de coração vazio.
Há muito a ser feito e o itinerário da reforma política é rigorosamente incontornável. Não podemos olvidar a esperança que nutrimos por dias melhores, mas o espaço para encenação deixou de existir.
O Senador Alvaro Dias é 2º vice-presidente do Senado e vice-líder do PSDB
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