Neste momento, é evidente que o nosso prezado Bacen deve estar tendo dificuldades em aplicar as reservas brasileiras. Grandes bancos americanos deixaram de ser confiáveis, sem falar nas chamadas non-bank financial institutions nos EUA e em outros paises. Nomes como Morgan Stanley, Wachovia, UBS estão em listas de "problem financial institutions" pelo mundo afora. Pois muito bem. Há cinco meses atrás, nós já havíamos percebido este dilema e apresentamos a solução.
Luiz Cezar Fernandes* (foto) publicou este artigo há vários meses atrás no Jornal do Brasil e Isto É Dinheiro. Merece ser reproduzido agora diante do agravamento da crise internacional de crédito.
“QUEM SABE FAZ A HORA” - proteção contra a crise financeira internacional e o uso eficiente das reservas brasileiras
Luiz Cezar Fernandes
Publicado no Jornal do Brasil de 11/4/2008
A crise internacional de crédito começa a afetar o crédito para o Brasil.
O Banco Central do Brasil não só deve como pode adotar uma atitude proativa, para minimizar o impacto deste “choque externo de crédito” sobre o nosso País, utilizando eficientemente as nossas reservas internacionais em moeda estrangeira - e não ficar inerte por muito tempo, como o Federal Reserve nos EUA, o que é incompreensível. Vamos explicar a seguir.
Por motivos completamente diferentes, a crise financeira internacional deverá provocar sobre o comércio exterior brasileiro o mesmo efeito que se verificou no início da década de 80 durante a crise da dívida externa brasileira: escassez de crédito.
A partir de 1982/1983, o Governo Brasileiro foi obrigado a criar o chamado Projeto III para garantir o financiamento das exportações e importações do Brasil na época já que os bancos internacionais estavam retirando rapidamente dinheiro do País – sobretudo o capital de curto prazo – ao verificarem que as reservas brasileiras estavam se aproximando de zero.
Agora, em 2008, por razões que não têm absolutamente nada a ver com o Brasil, está havendo uma grande contração geral de crédito nos bancos internacionais, contração esta que certamente vai incluir bons clientes exportadores ou importadores brasileiros até grandes multinacionais. É lógico que a redução de crédito se traduz em forte elevação no custo do dinheiro ou até mesmo falta de recursos para renovar linhas assim como novos financiamentos.
É importante explicar que a contração do crédito internacional de um modo geral independe de possíveis novas baixas de taxas de juros nos EUA e em outros paises. Ela já está ocorrendo – e de modo intenso – por uma combinação de razões relacionadas à crise financeira internacional, principalmente nos EUA.
Acontece que a “crise” não só está motivando forte redução no valor de mercado do capital dos grandes bancos internacionais, mas também está forçando estes mesmos bancos a recomprarem créditos ruins ou podres que foram cedidos para terceiros (para veículos como hedge funds ou “special investment vehicles”) com determinadas promessas de garantia e recompra.
Ocorre, porém, que os bancos são obrigados a manter certos limites máximos – definidos pelo chamado Acordo de Basiléia – de concessão de empréstimos e financiamentos baseados em determinados múltiplos em relação ao valor de mercado do seu capital.
Com isso, apenas de exemplo, um banco que estivesse emprestando 10 para cada 1 de capital – no limite – pode ter tido o seu valor reduzido para 0,5 e ao mesmo tempo obrigado a recomprar outros 10 que foram “vendidos” para fora do balanço. A relação aumentou simplesmente de 1 para 10 para 1 para 40. Consequentemente, de algum modo, o banco vai ter de retornar ao múltiplo original, seja com mais capital, seja parando de emprestar, seja vendendo “bons”ativos, ou mesmo descumprindo compromissos anteriores de garantia de linhas de crédito aos melhores clientes.
Vale ressaltar que aumentos de capital são obviamente limitados, além do fato de que – mesmo que estejam tentando - não se consegue elevar “artificialmente” de forma relevante o valor de mercado de instituições financeiras (com compras de ações de bancos por órgãos governamentais).
Pode-se afirmar com certeza que empresas brasileiras, exportadores, importadores e bancos vão encontrar muita dificuldade de renovar financiamentos e pré-financiamentos ou captar recursos novos junto a mercado internacional. Vale frisar que, em matéria de empréstimos de longo prazo de um modo geral, os mercados internacionais simplesmente travaram.
É aí que o Banco Central do Brasil precisa atuar novamente com rapidez, ao contrário da atitude inercial do Federal Reserve nos EUA. Assim como fez por diversas vezes, evitando crises sistêmicas da industria bancária brasileira.
Temos diante de nós a oportunidade de minimizar o efeito da crise, com o uso mais eficiente das reservas brasileiras. Além de manter reservas em moeda estrangeira aplicadas em títulos seguros – sobretudo dos EUA - ou depositados em bancos estrangeiros (que certamente não renovarão linhas com bancos e empresas brasileiras), queremos sugerir que o Banco Central se antecipe e passe a financiar o comércio exterior brasileiro com suas reservas internacionais, financiando empresas e bancos brasileiros no exterior, o que supriria a falta de financiamento às nossas exportações.
Em 1982/83, o chamado Projeto III se situava na faixa de US$ 10 bilhões. Pode-se imaginar para os níveis do comércio exterior brasileiro de hoje um programa de US$ 30/40 bilhões.
A propósito, por coerência, é de se esperar que as pessoas físicas e jurídicas brasileiras que podem manter legalmente depósitos no exterior dêem maior preferência aos grandes bancos brasileiros com agências no exterior, que se encontram em posições de extrema solidez, em contraste com certos nomes famosos da chamada “banca internacional”.
Dica do leitor e amigo, Cláudio Bentes!
* Ex controlador do Banco Pactual.
Luiz Cezar Fernandes* (foto) publicou este artigo há vários meses atrás no Jornal do Brasil e Isto É Dinheiro. Merece ser reproduzido agora diante do agravamento da crise internacional de crédito.
“QUEM SABE FAZ A HORA” - proteção contra a crise financeira internacional e o uso eficiente das reservas brasileiras
Luiz Cezar Fernandes
Publicado no Jornal do Brasil de 11/4/2008
A crise internacional de crédito começa a afetar o crédito para o Brasil.
O Banco Central do Brasil não só deve como pode adotar uma atitude proativa, para minimizar o impacto deste “choque externo de crédito” sobre o nosso País, utilizando eficientemente as nossas reservas internacionais em moeda estrangeira - e não ficar inerte por muito tempo, como o Federal Reserve nos EUA, o que é incompreensível. Vamos explicar a seguir.
Por motivos completamente diferentes, a crise financeira internacional deverá provocar sobre o comércio exterior brasileiro o mesmo efeito que se verificou no início da década de 80 durante a crise da dívida externa brasileira: escassez de crédito.
A partir de 1982/1983, o Governo Brasileiro foi obrigado a criar o chamado Projeto III para garantir o financiamento das exportações e importações do Brasil na época já que os bancos internacionais estavam retirando rapidamente dinheiro do País – sobretudo o capital de curto prazo – ao verificarem que as reservas brasileiras estavam se aproximando de zero.
Agora, em 2008, por razões que não têm absolutamente nada a ver com o Brasil, está havendo uma grande contração geral de crédito nos bancos internacionais, contração esta que certamente vai incluir bons clientes exportadores ou importadores brasileiros até grandes multinacionais. É lógico que a redução de crédito se traduz em forte elevação no custo do dinheiro ou até mesmo falta de recursos para renovar linhas assim como novos financiamentos.
É importante explicar que a contração do crédito internacional de um modo geral independe de possíveis novas baixas de taxas de juros nos EUA e em outros paises. Ela já está ocorrendo – e de modo intenso – por uma combinação de razões relacionadas à crise financeira internacional, principalmente nos EUA.
Acontece que a “crise” não só está motivando forte redução no valor de mercado do capital dos grandes bancos internacionais, mas também está forçando estes mesmos bancos a recomprarem créditos ruins ou podres que foram cedidos para terceiros (para veículos como hedge funds ou “special investment vehicles”) com determinadas promessas de garantia e recompra.
Ocorre, porém, que os bancos são obrigados a manter certos limites máximos – definidos pelo chamado Acordo de Basiléia – de concessão de empréstimos e financiamentos baseados em determinados múltiplos em relação ao valor de mercado do seu capital.
Com isso, apenas de exemplo, um banco que estivesse emprestando 10 para cada 1 de capital – no limite – pode ter tido o seu valor reduzido para 0,5 e ao mesmo tempo obrigado a recomprar outros 10 que foram “vendidos” para fora do balanço. A relação aumentou simplesmente de 1 para 10 para 1 para 40. Consequentemente, de algum modo, o banco vai ter de retornar ao múltiplo original, seja com mais capital, seja parando de emprestar, seja vendendo “bons”ativos, ou mesmo descumprindo compromissos anteriores de garantia de linhas de crédito aos melhores clientes.
Vale ressaltar que aumentos de capital são obviamente limitados, além do fato de que – mesmo que estejam tentando - não se consegue elevar “artificialmente” de forma relevante o valor de mercado de instituições financeiras (com compras de ações de bancos por órgãos governamentais).
Pode-se afirmar com certeza que empresas brasileiras, exportadores, importadores e bancos vão encontrar muita dificuldade de renovar financiamentos e pré-financiamentos ou captar recursos novos junto a mercado internacional. Vale frisar que, em matéria de empréstimos de longo prazo de um modo geral, os mercados internacionais simplesmente travaram.
É aí que o Banco Central do Brasil precisa atuar novamente com rapidez, ao contrário da atitude inercial do Federal Reserve nos EUA. Assim como fez por diversas vezes, evitando crises sistêmicas da industria bancária brasileira.
Temos diante de nós a oportunidade de minimizar o efeito da crise, com o uso mais eficiente das reservas brasileiras. Além de manter reservas em moeda estrangeira aplicadas em títulos seguros – sobretudo dos EUA - ou depositados em bancos estrangeiros (que certamente não renovarão linhas com bancos e empresas brasileiras), queremos sugerir que o Banco Central se antecipe e passe a financiar o comércio exterior brasileiro com suas reservas internacionais, financiando empresas e bancos brasileiros no exterior, o que supriria a falta de financiamento às nossas exportações.
Em 1982/83, o chamado Projeto III se situava na faixa de US$ 10 bilhões. Pode-se imaginar para os níveis do comércio exterior brasileiro de hoje um programa de US$ 30/40 bilhões.
A propósito, por coerência, é de se esperar que as pessoas físicas e jurídicas brasileiras que podem manter legalmente depósitos no exterior dêem maior preferência aos grandes bancos brasileiros com agências no exterior, que se encontram em posições de extrema solidez, em contraste com certos nomes famosos da chamada “banca internacional”.
Dica do leitor e amigo, Cláudio Bentes!
* Ex controlador do Banco Pactual.
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