Trechos da entrevista de Régis Debray (foto), ao La Nacion!
1- No fundo, o político consiste em evitar o pior. E o que é pior para o grupo humano? A desunião, o desmembramento, a dissolução. O chefe existe para lograr a unidade. Seja onde for, é o chefe que mantém a coesão ou produz a unidade no seio de um grupo.
2- O chefe é sempre um homem de palavras. Uma palavra que cristaliza, que dinamiza, que constrói o rebanho. Estou-me referindo ao rei pastor, que não é o único arquétipo. É o que mostra o caminho. Moisés é o exemplo perfeito. É a versão semítica, arcaica, mas Bonaparte também foi rei pastor.
3- Há o rei tecelão. Seu trabalho é o de conciliar os audazes e os conservadores. Em toda a sociedade existem aqueles que querem mudar e aqueles que querem conservar. O papel do chefe tecelão é o de harmonizar a cadeia e a trama, tornar compatível o que em princípio não o é. Simbolicamente, rei tecelão deve fabricar um abrigo que protegerá o grupo do frio, do desmembramento, da dispersão.
4- Estou me referindo a dois modelos fundamentais, mas muito atuais, de chefe. As pessoas desejam ter um chefe ao se sentirem ameaçadas pela dissolução.
5- Há muitas modalidades de chefe. Há o chefe distante, como De Gaulle ou Che Guevara. Esta observação lhe parecerá surpreendente, mas ambos eram pessoas que se mantinham à distância, com certa frieza, com certo déficit voluntário de comunicação. Depois, está o chefe efusivo, o chefe de proximidade. Penso, por exemplo, em Fidel Castro.
6- O chefe é o dono do tempo. Não se deixa impor pelo tempo: cria seu ritmo. Criar o calendário é um privilégio do chefe. O chefe é amado pelos seus, mas pode não amá-los. É alguém que tem o privilégio de não amar. Isso é o que se chama de impassibilidade do chefe, até sua indiferença. Uma vez, perguntei a François Mitterrand qual era seu segredo. Respondeu-me: “A indiferença”.
7- Trata-se de uma certa distância de todos, enquanto todos devem estar próximos, devem sentir-se próximos ao chefe e, sobretudo amados por ele. O chefe é a pessoa capaz de cerrar os dentes e ter suficiente confiança em si mesmo para inspirar aos demais. O chefe tem essa capacidade, que às vezes se chama a implacabilidade, que é muito fácil de admitir na guerra.
8- Por isso, é tão difícil para um intelectual ser chefe. Porque, por definição, um intelectual é aquele que duvida sempre, que coloca em julgamento suas idéias e suas opiniões.
9- O chefe é o encontro entre uma personalidade e uma conjuntura. Isso não se aprende.
10- O chefe que se deixa ver com demasiada freqüência em rêmige, praticando o jogging, corre o risco de perder sua autoridade. O rei tem dois corpos: um profano, outro sagrado. O simbólico, o de sua imagem oficial, esse que permite construir o imaginário coletivo, uma imagem magnificada, solene, e o corpo físico. Quando se mostra de maneira demasiada esse corpo físico, se revela o indivíduo. E o indivíduo é como os outros.
11- O chefe é um coletivo individualizado, um coletivo sublimado. É necessário que o chefe seja uma sublimação. É teatro, dirá você. Sim, mas o teatro forma parte da vida política. O chefe existe: é necessário saber disso para não cair-se na mistificação do chefe.
12- De tanto se tentar rechaçar o chefe, acaba-se aceitando o primeiro que aparecer. Melhor falar do chefe para evitar o pior, que é a mistificação do chefe, o culto da personalidade e todas as manifestações extremistas da autoridade.
13- A autoridade é moral, é imaginária, não repousa sobre uma força. Não é uma questão de músculos ou de número. A autoridade é uma questão de crença ou de conhecimentos. O professor tem autoridade numa classe. É necessário que tenha essa autoridade, pois, do contrário, se produzirá a desordem e o pequeno cacique acabará por tomar o poder. Isso não será bom nem para os alunos, nem para o conhecimento.
14- Tratar de evitar que um janota acabe acreditando ser o patrão, é justamente a democracia.
1- No fundo, o político consiste em evitar o pior. E o que é pior para o grupo humano? A desunião, o desmembramento, a dissolução. O chefe existe para lograr a unidade. Seja onde for, é o chefe que mantém a coesão ou produz a unidade no seio de um grupo.
2- O chefe é sempre um homem de palavras. Uma palavra que cristaliza, que dinamiza, que constrói o rebanho. Estou-me referindo ao rei pastor, que não é o único arquétipo. É o que mostra o caminho. Moisés é o exemplo perfeito. É a versão semítica, arcaica, mas Bonaparte também foi rei pastor.
3- Há o rei tecelão. Seu trabalho é o de conciliar os audazes e os conservadores. Em toda a sociedade existem aqueles que querem mudar e aqueles que querem conservar. O papel do chefe tecelão é o de harmonizar a cadeia e a trama, tornar compatível o que em princípio não o é. Simbolicamente, rei tecelão deve fabricar um abrigo que protegerá o grupo do frio, do desmembramento, da dispersão.
4- Estou me referindo a dois modelos fundamentais, mas muito atuais, de chefe. As pessoas desejam ter um chefe ao se sentirem ameaçadas pela dissolução.
5- Há muitas modalidades de chefe. Há o chefe distante, como De Gaulle ou Che Guevara. Esta observação lhe parecerá surpreendente, mas ambos eram pessoas que se mantinham à distância, com certa frieza, com certo déficit voluntário de comunicação. Depois, está o chefe efusivo, o chefe de proximidade. Penso, por exemplo, em Fidel Castro.
6- O chefe é o dono do tempo. Não se deixa impor pelo tempo: cria seu ritmo. Criar o calendário é um privilégio do chefe. O chefe é amado pelos seus, mas pode não amá-los. É alguém que tem o privilégio de não amar. Isso é o que se chama de impassibilidade do chefe, até sua indiferença. Uma vez, perguntei a François Mitterrand qual era seu segredo. Respondeu-me: “A indiferença”.
7- Trata-se de uma certa distância de todos, enquanto todos devem estar próximos, devem sentir-se próximos ao chefe e, sobretudo amados por ele. O chefe é a pessoa capaz de cerrar os dentes e ter suficiente confiança em si mesmo para inspirar aos demais. O chefe tem essa capacidade, que às vezes se chama a implacabilidade, que é muito fácil de admitir na guerra.
8- Por isso, é tão difícil para um intelectual ser chefe. Porque, por definição, um intelectual é aquele que duvida sempre, que coloca em julgamento suas idéias e suas opiniões.
9- O chefe é o encontro entre uma personalidade e uma conjuntura. Isso não se aprende.
10- O chefe que se deixa ver com demasiada freqüência em rêmige, praticando o jogging, corre o risco de perder sua autoridade. O rei tem dois corpos: um profano, outro sagrado. O simbólico, o de sua imagem oficial, esse que permite construir o imaginário coletivo, uma imagem magnificada, solene, e o corpo físico. Quando se mostra de maneira demasiada esse corpo físico, se revela o indivíduo. E o indivíduo é como os outros.
11- O chefe é um coletivo individualizado, um coletivo sublimado. É necessário que o chefe seja uma sublimação. É teatro, dirá você. Sim, mas o teatro forma parte da vida política. O chefe existe: é necessário saber disso para não cair-se na mistificação do chefe.
12- De tanto se tentar rechaçar o chefe, acaba-se aceitando o primeiro que aparecer. Melhor falar do chefe para evitar o pior, que é a mistificação do chefe, o culto da personalidade e todas as manifestações extremistas da autoridade.
13- A autoridade é moral, é imaginária, não repousa sobre uma força. Não é uma questão de músculos ou de número. A autoridade é uma questão de crença ou de conhecimentos. O professor tem autoridade numa classe. É necessário que tenha essa autoridade, pois, do contrário, se produzirá a desordem e o pequeno cacique acabará por tomar o poder. Isso não será bom nem para os alunos, nem para o conhecimento.
14- Tratar de evitar que um janota acabe acreditando ser o patrão, é justamente a democracia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário