Apresento em primeira mão no Brasil o excepcional e inovador trabalho de análise e pesquisa, (TNS Sofres), políticas realizadas para a Fundação Jean Jaurés e para o Nouvel Observateur, (publicado a 29 de março). A referencia é o eleitor francês, mas serve muito à nossa realidade.
Como forma de apresentação uso trechos do artigo de Daniel Cohen, publicado no Le Monde na semana passada.
Os Limites da Clivagem Direita/Esquerda Daniel Cohen
1. O confronto direita-esquerda parece ter perdido a clareza. A esquerda, que vê se enfraquecer o apoio das classes populares, se indaga sobre a sua identidade. A direita, que colhe os frutos disto, hesita quanto à melhor maneira de preservar este capital eleitoral.
2. A primeira mede o que se poderia chamar de liberalismo cultural, enquanto a outra mede o liberalismo econômico. A esquerda é liberal no sentido cultural do termo: ela defende as minorias, aprova atualmente o casamento homossexual, assim como antes apoiou o direito das mulheres ao aborto. A direita está no outro extremo desta escala: ela é conservadora, preocupa-se em preservar as instituições familiares e a moral tradicional.
3. No terreno econômico ocorre o contrário: a direita é liberal, quer liberar a iniciativa individual e a concorrência; a esquerda é conservadora, pelo menos desde o fim dos gloriosos anos 30, dedicada a resgatar o que pode ser salvo das antigas solidariedades econômicas e sociais.
4. A oposição direita-esquerda é difícil de entender, na medida em que ela não se resume, portanto, a uma oposição simples, liberal contra antiliberal, mas desloca-se numa diagonal que vai do liberal cultural-conservador econômico a conservador cultural-liberal econômico.
5. Entretanto, dois grupos escapam a isto, aparecendo como "heterodoxos". São estes, na verdade, coerentes, no sentido de que são duplamente liberais ou duplamente conservadores. O primeiro grupo é o dos "bubos" (burgueses boêmios) ao mesmo tempo liberais no campo cultural e econômico. Segundo a pesquisa da Sofres, eles representam cerca de 15% dos sufrágios. O segundo grupo, cujos membros são qualificados de "desconfiados" pela TNS Sofres, porque desconfiam da política, é integrado pelos que são conservadores duas vezes, no campo da economia e no terreno cultural. É um grupo que tem um peso de pelo menos 25% dos votantes.
6. Esta constelação pesa na clivagem direita/esquerda. Os "bubos" e os "desconfiados" são de esquerda ou de direita? 40% do corpo eleitoral francês não sabem responder a esta pergunta. O peso da extrema direita e o ímpeto do candidato centrista comprovam este desmembramento. No eixo cultural, a maioria dos franceses está (muito) à direita. No terreno da economia, ocorre exatamente o oposto: 60% das pessoas entrevistadas reúnem valores de esquerda.
7. Esta confusão decorre, contudo, também de uma outra especificidade: a direita francesa não é na realidade liberal no sentido econômico da palavra, e a esquerda não o é no campo social. Na verdade, sua passagem pelo Ministério da Economia não deixou de Nicolas Sarkozy a imagem de um ministro francamente liberal, e seus últimos posicionamentos referentes ao protecionismo europeu ou à política industrial irritaram bastante os comissários europeus envolvidos na questão.
8. Mas a esquerda francesa não é efetivamente liberal também no terreno social, se se definir este termo como uma expressão da confiança na capacidade do movimento social de se auto-organizar. Diferentemente das outras esquerdas européias, a esquerda francesa não é oriunda do sindicalismo, com o qual ela mantém uma relação complexa. Privada deste vínculo orgânico, a esquerda francesa incensa , assim como a direita, a tendência ao dirigismo dos franceses.
Como forma de apresentação uso trechos do artigo de Daniel Cohen, publicado no Le Monde na semana passada.
Os Limites da Clivagem Direita/Esquerda Daniel Cohen
1. O confronto direita-esquerda parece ter perdido a clareza. A esquerda, que vê se enfraquecer o apoio das classes populares, se indaga sobre a sua identidade. A direita, que colhe os frutos disto, hesita quanto à melhor maneira de preservar este capital eleitoral.
2. A primeira mede o que se poderia chamar de liberalismo cultural, enquanto a outra mede o liberalismo econômico. A esquerda é liberal no sentido cultural do termo: ela defende as minorias, aprova atualmente o casamento homossexual, assim como antes apoiou o direito das mulheres ao aborto. A direita está no outro extremo desta escala: ela é conservadora, preocupa-se em preservar as instituições familiares e a moral tradicional.
3. No terreno econômico ocorre o contrário: a direita é liberal, quer liberar a iniciativa individual e a concorrência; a esquerda é conservadora, pelo menos desde o fim dos gloriosos anos 30, dedicada a resgatar o que pode ser salvo das antigas solidariedades econômicas e sociais.
4. A oposição direita-esquerda é difícil de entender, na medida em que ela não se resume, portanto, a uma oposição simples, liberal contra antiliberal, mas desloca-se numa diagonal que vai do liberal cultural-conservador econômico a conservador cultural-liberal econômico.
5. Entretanto, dois grupos escapam a isto, aparecendo como "heterodoxos". São estes, na verdade, coerentes, no sentido de que são duplamente liberais ou duplamente conservadores. O primeiro grupo é o dos "bubos" (burgueses boêmios) ao mesmo tempo liberais no campo cultural e econômico. Segundo a pesquisa da Sofres, eles representam cerca de 15% dos sufrágios. O segundo grupo, cujos membros são qualificados de "desconfiados" pela TNS Sofres, porque desconfiam da política, é integrado pelos que são conservadores duas vezes, no campo da economia e no terreno cultural. É um grupo que tem um peso de pelo menos 25% dos votantes.
6. Esta constelação pesa na clivagem direita/esquerda. Os "bubos" e os "desconfiados" são de esquerda ou de direita? 40% do corpo eleitoral francês não sabem responder a esta pergunta. O peso da extrema direita e o ímpeto do candidato centrista comprovam este desmembramento. No eixo cultural, a maioria dos franceses está (muito) à direita. No terreno da economia, ocorre exatamente o oposto: 60% das pessoas entrevistadas reúnem valores de esquerda.
7. Esta confusão decorre, contudo, também de uma outra especificidade: a direita francesa não é na realidade liberal no sentido econômico da palavra, e a esquerda não o é no campo social. Na verdade, sua passagem pelo Ministério da Economia não deixou de Nicolas Sarkozy a imagem de um ministro francamente liberal, e seus últimos posicionamentos referentes ao protecionismo europeu ou à política industrial irritaram bastante os comissários europeus envolvidos na questão.
8. Mas a esquerda francesa não é efetivamente liberal também no terreno social, se se definir este termo como uma expressão da confiança na capacidade do movimento social de se auto-organizar. Diferentemente das outras esquerdas européias, a esquerda francesa não é oriunda do sindicalismo, com o qual ela mantém uma relação complexa. Privada deste vínculo orgânico, a esquerda francesa incensa , assim como a direita, a tendência ao dirigismo dos franceses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário