1. A democracia se desenvolve de acordo com o ritmo de dois movimentos: os governos devem construir poder e a oposição deve suscitar alternativas. O vazio de confiança, que atrai os argentinos para o despenhadeiro, se deve à acumulação de erros históricos, entre eles a implacável instabilidade dos contratos e à debilidade de uma sociedade civil que não chega a representar-se e que, além disso, está duplamente agredida por cima e por baixo.
2. Muito poucos expressam e menos executam a imprescindível reforma do Estado que seja capaz de reparar certas estruturas obsoletas. Elas não fazem mais do que demonstrar a escassa atenção que merecem, entre outros, as crianças e os adolescentes mais desprotegidos.
3. Estas reflexões podem servir para colocar sinais no trajeto da oposição. O diálogo na política é tão indispensável quanto o compromisso. Não obstante, ambos poderiam concluir, numa ação inútil, por não mediar a vontade de identificar-se com as reivindicações da sociedade civil. Algumas dessas exigências são singulares, outras, ao contrário, são como um rumor nos gritos e gestos das vítimas.
4. Disso se trata, em suma, de recuperar a dignidade. É uma tarefa por si só difícil, pois a arte da construção política caminha de maneira mais lenta que a da contestação social. Esta última é tributária das mobilizações sociais, que surgem dos interesses afetados. A arte da construção política supõe, ao contrário, uma tenacidade mais firme para aproximar posições e superar a tentação de monopolizar a verdade e a virtude.
5. É uma arte que antecipa um estilo de governo mais atento ao valor do consenso sobre determinadas políticas públicas. A confrontação não resolveu estes problemas e eles aí estão para maiores dados, as igualdades que não crescem e a violência social que não decresce. Estas são as capas da descrença coletiva que se deve atravessar.
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