sábado, agosto 18, 2007

PESQUISAS DE OPINIÃO PÚBLICA E A IMPRENSA!

O uso das Pesquisas de Opinião pela Imprensa tem sido objeto de muitos estudos acadêmicos. Patrick Champagne (foto) - sociólogo francês - é um exemplo. Ele chama a atenção para o uso das pesquisas de opinião como se fossem elas mesmas a opinião pública, substituindo a opinião de políticos e acadêmicos, que passam a ser comentaristas das pesquisas publicadas. E muitas vezes retratam o passado de opinião e não o processo.
As pesquisas de opinião dependem muito de como são aplicadas, quando, com que método, etc... E são extremamente perigosas quando a opinião publica se encontra em processo de mudança. Neste momento interessa muito aos governos antecipá-las, de forma a que não possam - ainda - retratar uma dinâmica negativa. Depois, com a publicação, e a reprodução religiosa de seus resultados pela imprensa, os governos procuram reverter a dinâmica existente, tentando desconstrui-la.

Por isso mesmo a imprensa não deve se açodar em criar manchetes e furos, com pesquisas no início de um processo de mudança de opinião pública. Ingenuamente passam a servir aos governos. Terminam dizendo que nada mudou, quando pode estar mudando.

Lembre-se da piada do suicida arrependido que se jogando do vigésimo andar de um prédio, ao passar pelo décimo andar gritava: - "Até aqui tudo bem”.

Nesse momento, no Brasil não seria aconselhável analisar os patamares formais agregados que uma pesquisa informa. Mas analisar dentro da própria pesquisa, se há razões para se há elementos que permitam identificar esta ou aquela tendência. Eu que sou Tardiano (Gabriel Tarde - pai da micro-sociologia no final do século 19) analiso sempre o processo de formação de opinião por contaminação na base da sociedade. Para isso é importante conhecer os pontos de deflagração e como a opinião pública futura está sendo formada.

As pesquisas disponíveis - desde as “vaias” - vão mostrando isso. Por exemplo, a realizada na cidade de São Paulo sobre o acidente do avião que mostrava Lula caindo. Ou as pesquisas de outros institutos em Salvador, Rio e municípios da Baixada Fluminense que mostraram a mesma coisa.

A recente pesquisa Data-Folha mostrou não apenas que nos segmentos de maior escolaridade Lula havia caído uns cinco pontos (o que ajudava as análises que querem circunscrever os fatos à classe média, quando se trata apenas de ponto de deflagração), como mostrou que a diferença entre ótimo+bom e ruim+péssimo na Capitais caiu também cinco pontos. Curiosamente enquanto a mesma diferença para o Interior não teve qualquer mudança no caso dos municípios das regiões metropolitanas, teria havido uma melhora de seis pontos. Certamente essa melhora não ocorreu e ela deve ser incluída na margem de erro. Nas capitais se pode confirmar por outras pesquisas e outros institutos.

Caberia uma manchete diferente. Algo assim: Lula cai nas Capitais mais esse processo ainda não atingiu o Interior. E tratar os municípios metropolitanos como margem de erro. "Tardianamente" fiz umas notas dias atrás sobre os círculos concêntricos produto do lançamento de uma pedra num lago e que vão chegando progressivamente, e mais rápido se outras pedras forem jogadas nas áreas periféricas dos círculos.

A leitura do agregado pode não informar. Pode desinformar, na medida que não ajuda o leitor - não especialista - a formar sua opinião. Segundo Champagne isso é nada mais que o esperado no tratamento que a Imprensa dá as pesquisas e como as usa e para que.

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