Meses atrás, Dick Morris - que se tornou conhecido por ter sido assessor de imagem de Clinton, ou marqueteiro, como se costuma chamar no Brasil - publicou seu quarto livro, "O Novo Príncipe" ("The New Prince"). Antes deste vieram "O Salão Oval", em 1997, "Vote.com", em 1999, e "Jogos de Poder", em 2002.
"O Novo Príncipe", ainda não publicado no Brasil, é leitura obrigatória para quem está no poder e sabe da complexidade que é a comunicação dos governos. Ela é muito mais difícil que o marketing eleitoral, mais delicada e mais sensível, por ocorrer dia a dia, todos os dias, e se inserir num universo extremamente diversificado de toda a mídia, de comunicação direta, de boatos, de opinião pública segmentada, de contracomunicação da oposição e dos insatisfeitos. Morris trata disso na parte 2 de seu livro, que chama "Governar".
A força de um escândalo é a sua importância política, ou seja, o quanto ele está vinculado às decisões de governo
Essa segunda parte se divide em 80 páginas e vários capítulos tratando de temas tão delicados como a necessidade de uma maioria cotidiana, exercício da liderança, agressividade ou conciliação, inércia burocrática, cuidar das costas/ controlar seu partido, cortejar a oposição, grupos de pressão, como arrecadar dinheiro e continuar sendo virtuoso, o mito da manipulação da mídia, como sobreviver a um escândalo etc. É este capítulo, "Como Sobreviver a um Escândalo", que me parece leitura obrigatória para todos os que acompanham com atenção a conjuntura das relações perigosas dos bingos e jogos eletrônicos na qual nos encontramos.
Morris inicia-o com uma assertiva: "Não há maneira de "ganhar" na cobertura de um escândalo. A única maneira de sair vivo é dizer a verdade, agüentar o tranco e avançar". E continua: "Depois, há que distrair a atenção do público sobre o escândalo, centrando-se em outros temas mais amplos de sua agenda". Se ele for ultrapassado.
O autor, a partir daí e com a vasta experiência junto à imprensa norte-americana no desencadeamento da divulgação de escândalos de todos os tipos, lembra que, quando se abre um escândalo, o repórter que o descreve tem munição guardada para os próximos dias e os editores fatiam a matéria, pedaço a pedaço, para produzir a cada dia uma nova revelação. Ou seja, de nada adianta querer suturar o escândalo com uma contra-informação no nascedouro da notícia, no veículo que a publicou, pois virão outras logo depois, desmoralizando a defesa. Sem esquecer que outros veículos entram para concorrer com fatos novos.
A chave, para Morris, é não mentir. Para ele, o dano de mentir é mortal. "Uma mentira leva à outra, e o que era uma incomodidade se aproxima da obstrução criminal da Justiça." Ele sublinha que a força de um escândalo é a sua importância política, ou seja, o quanto ele está vinculado às decisões de governo, pois as pessoas perdoam muito mais facilmente aqueles fatos que não têm relação com o ato de governar, como escândalos privados, de sexo, amantes, drogas... Morris diz que é sempre bom olhar e pesquisar bem a reação final do público em relação ao acusado. "Se os eleitores se mostram verdadeiramente escandalizados com o que dizem que você fez, é melhor que não tenha feito. Roubar dinheiro quase sempre não se perdoa."
Em outros tipos de escândalo, os eleitores se mostram menos intransigentes, mais suaves e compreensíveis. Ele divide a reação dos eleitores por faixa de idade. Os mais velhos são quase sempre os menos tolerantes com os escândalos de qualquer tipo. Os de idade intermediária, nascidos nos anos 50, tendem a ser mais flexíveis, especialmente com escândalos ligados a droga, sexo e outros tipos de comportamento privado. Os eleitores de 20 a 30 anos são conservadores, mas pragmáticos, e querem saber mesmo é da vida que suas próprias famílias levam, fixando-se mais no caráter da pessoa do próprio governante. Portanto, além da complexidade ao enfrentar um escândalo, a comunicação de governo sobre o que está ocorrendo deve ser, pelo menos, etariamente segmentada.
Da leitura de "O Novo Príncipe", especialmente da parte 2 e do capítulo sobre escândalos, uma conclusão pode se tirar para a nossa conjuntura: ou as autoridades de primeira linha do governo nada - absolutamente nada - têm a ver com as "waldomiralhas", ou o jogo está perdido. Se estiver perdido, e à medida que a pessoa presidencial nada tem a ver com isso, é bom que eventuais responsáveis sejam de fato -e não pró-forma- afastados de qualquer convivência governamental, por traição de confiança. Caso contrário, o próprio governo será contaminado e terá perdido precocemente a batalha de opinião pública e, conseqüentemente, a batalha política. Por exemplo: nenhum presidente sul-americano tem os deveres de casa econômicos tão bem feitos quanto o do Peru - reservas, inflação, crescimento - e, ainda assim, nenhum é tão mal avaliado quanto ele. O governo peruano se desfez numa ampla diversidade de escândalos, que passou por camas, drogas e outros quesitos. Eles foram sendo perdoados, até que chegaram aos cofres e foram empurrados como os escândalos anteriores. Nesse ponto o governo acabou: não podia, ou não queria, falar a verdade.
É recomendável aos governantes a leitura de "O Novo Príncipe". Custa menos e vale mais do que a maioria das assessorias e consultorias de publicidade, que ganham muito e produzem pouco para a imagem dos governos.
Cesar Maia, 58, economista, é prefeito, pelo DEM, do Rio de Janeiro.
*ARTIGO PUBLICADO NA IMPRENSA E REPRODUZIDA NO BLOG – ANTES DE SER EX - DOIS ANOS ATRÁS! COMO SOBREVIVER A UM ESCÂNDALO!
"O Novo Príncipe", ainda não publicado no Brasil, é leitura obrigatória para quem está no poder e sabe da complexidade que é a comunicação dos governos. Ela é muito mais difícil que o marketing eleitoral, mais delicada e mais sensível, por ocorrer dia a dia, todos os dias, e se inserir num universo extremamente diversificado de toda a mídia, de comunicação direta, de boatos, de opinião pública segmentada, de contracomunicação da oposição e dos insatisfeitos. Morris trata disso na parte 2 de seu livro, que chama "Governar".
A força de um escândalo é a sua importância política, ou seja, o quanto ele está vinculado às decisões de governo
Essa segunda parte se divide em 80 páginas e vários capítulos tratando de temas tão delicados como a necessidade de uma maioria cotidiana, exercício da liderança, agressividade ou conciliação, inércia burocrática, cuidar das costas/ controlar seu partido, cortejar a oposição, grupos de pressão, como arrecadar dinheiro e continuar sendo virtuoso, o mito da manipulação da mídia, como sobreviver a um escândalo etc. É este capítulo, "Como Sobreviver a um Escândalo", que me parece leitura obrigatória para todos os que acompanham com atenção a conjuntura das relações perigosas dos bingos e jogos eletrônicos na qual nos encontramos.
Morris inicia-o com uma assertiva: "Não há maneira de "ganhar" na cobertura de um escândalo. A única maneira de sair vivo é dizer a verdade, agüentar o tranco e avançar". E continua: "Depois, há que distrair a atenção do público sobre o escândalo, centrando-se em outros temas mais amplos de sua agenda". Se ele for ultrapassado.
O autor, a partir daí e com a vasta experiência junto à imprensa norte-americana no desencadeamento da divulgação de escândalos de todos os tipos, lembra que, quando se abre um escândalo, o repórter que o descreve tem munição guardada para os próximos dias e os editores fatiam a matéria, pedaço a pedaço, para produzir a cada dia uma nova revelação. Ou seja, de nada adianta querer suturar o escândalo com uma contra-informação no nascedouro da notícia, no veículo que a publicou, pois virão outras logo depois, desmoralizando a defesa. Sem esquecer que outros veículos entram para concorrer com fatos novos.
A chave, para Morris, é não mentir. Para ele, o dano de mentir é mortal. "Uma mentira leva à outra, e o que era uma incomodidade se aproxima da obstrução criminal da Justiça." Ele sublinha que a força de um escândalo é a sua importância política, ou seja, o quanto ele está vinculado às decisões de governo, pois as pessoas perdoam muito mais facilmente aqueles fatos que não têm relação com o ato de governar, como escândalos privados, de sexo, amantes, drogas... Morris diz que é sempre bom olhar e pesquisar bem a reação final do público em relação ao acusado. "Se os eleitores se mostram verdadeiramente escandalizados com o que dizem que você fez, é melhor que não tenha feito. Roubar dinheiro quase sempre não se perdoa."
Em outros tipos de escândalo, os eleitores se mostram menos intransigentes, mais suaves e compreensíveis. Ele divide a reação dos eleitores por faixa de idade. Os mais velhos são quase sempre os menos tolerantes com os escândalos de qualquer tipo. Os de idade intermediária, nascidos nos anos 50, tendem a ser mais flexíveis, especialmente com escândalos ligados a droga, sexo e outros tipos de comportamento privado. Os eleitores de 20 a 30 anos são conservadores, mas pragmáticos, e querem saber mesmo é da vida que suas próprias famílias levam, fixando-se mais no caráter da pessoa do próprio governante. Portanto, além da complexidade ao enfrentar um escândalo, a comunicação de governo sobre o que está ocorrendo deve ser, pelo menos, etariamente segmentada.
Da leitura de "O Novo Príncipe", especialmente da parte 2 e do capítulo sobre escândalos, uma conclusão pode se tirar para a nossa conjuntura: ou as autoridades de primeira linha do governo nada - absolutamente nada - têm a ver com as "waldomiralhas", ou o jogo está perdido. Se estiver perdido, e à medida que a pessoa presidencial nada tem a ver com isso, é bom que eventuais responsáveis sejam de fato -e não pró-forma- afastados de qualquer convivência governamental, por traição de confiança. Caso contrário, o próprio governo será contaminado e terá perdido precocemente a batalha de opinião pública e, conseqüentemente, a batalha política. Por exemplo: nenhum presidente sul-americano tem os deveres de casa econômicos tão bem feitos quanto o do Peru - reservas, inflação, crescimento - e, ainda assim, nenhum é tão mal avaliado quanto ele. O governo peruano se desfez numa ampla diversidade de escândalos, que passou por camas, drogas e outros quesitos. Eles foram sendo perdoados, até que chegaram aos cofres e foram empurrados como os escândalos anteriores. Nesse ponto o governo acabou: não podia, ou não queria, falar a verdade.
É recomendável aos governantes a leitura de "O Novo Príncipe". Custa menos e vale mais do que a maioria das assessorias e consultorias de publicidade, que ganham muito e produzem pouco para a imagem dos governos.
Cesar Maia, 58, economista, é prefeito, pelo DEM, do Rio de Janeiro.
*ARTIGO PUBLICADO NA IMPRENSA E REPRODUZIDA NO BLOG – ANTES DE SER EX - DOIS ANOS ATRÁS! COMO SOBREVIVER A UM ESCÂNDALO!
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